outubro 11, 2011

"Política, condição de classe e covardia jornalística" (Carta Potiguar)

PICICA: "Portanto, ao tratar as eleições do próximo ano e as de 2014 como se fossem ocorrer amanhã, o profissional da comunicação social está, apenas, reproduzindo sua condição de classe. E, ao ficar preso em seu campo de atuação, espécie de interação “alienada”,  ajuda a formar um (“falso”) consenso temático que não condiz com o imaginário social."

Política, condição de classe e covardia jornalística


Jornalista, não raro, costuma resumir a sociedade e a preocupação dos cidadãos, tomando a política profissional como a sociedade por inteiro.

Ora, a sociedade, de um modo geral, não está preocupada com 2012, que dirá com 2014, como alguns já especulam.

Sabe-se, do ponto de vista sociológico, que a política é vivida desigualmente pelos sujeitos, conforme sua inserção social. As classes menos abastadas mantem uma relação mais distanciada com esta esfera. Se interessam, apenas, no “tempo da política”, habitualmente quando o horário gratuito começa a ser veiculado na Tv.

Enquanto isso, a classe média e as classes mais abastadas, preocupadas em “organizar a dominação”, pensam o andamento do Estado de modo ininterrupto. Afinal, numa cidade como Natal, por exemplo, essas classes são fartamente alimentadas pelas relações comerciais que tecem com o poder público como fornecedores, prestadores de serviços, construtores, membros do terceiro setor, etc.

Portanto, ao tratar as eleições do próximo ano e as de 2014 como se fossem ocorrer amanhã, o profissional da comunicação social está, apenas, reproduzindo sua condição de classe. E, ao ficar preso em seu campo de atuação, espécie de interação “alienada”,  ajuda a formar um (“falso”) consenso temático que não condiz com o imaginário social.

As classes menos abastadas, por exemplo, vem demonstrando grande preocupação com a questão da greve dos professores, já que, ao contrário dos jornalistas (como filho de comunicador não vai para escola pública, a questão é por ele secundarizada ou tratada apenas como questão política de disputa entre sindicato e Estado), fazem uso do serviço público e estão assistindo, desesperados, conforme me relatou uma cabeleireira, a perda do ano letivo.
É por essa condição que os jornais acabam por estabelecer um hiato com o sentimento social mais amplo.

Agora, há também aquela já tradicional covardia jornalística de cobrir “eleições” para livrar a cara do governo do estado, que vem, de maneira autoritária, esmagando o movimento dos professores.

Isto, como diria um professor dos meus tempos de graduação, não passa de puro cinismo.

Fonte: Carta Potiguar

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