outubro 11, 2011

"Morre em Londres, aos 77 anos, o cineasta da floresta" (ISA, Instituto Socioambiental)

PICICA: Tive o prazer de conhecer o cineasta Adrian Cowell, sem arredar os pés de Manaus. Ele foi um dos convidados da IV Mostra Amazônica de Vídeo Etnográfico, da Universidade Federal do Amazonas. Fiquei surpreso em saber do seu compromisso com o país. Simplesmente ele doou cópias do seu extraordinário acervo para a Universidade Federal de Goiânia. No dia da mostra da sua obra, participei de um debate sobre a produção de vídeos no campo socioambiental, em que defendi a produção de documentários de urgência, uma espécie de vídeo-sujo, com objetivos de registrar fatos que mereçam registro, ainda que as condições técnicas sejam precárias. Dei como exemplo o meu vídeo "Balbina no País da Impunidade", sobre o desastre ambiental de uma hidrelétrica no rio Uatumã. Comparada ao vídeo de Jaime Sautchck, Balbina: destruição e morte, e um outro feito pela Rede Globo, a precariedade só foi superada pelo registro único do cenário devastador após a abertura das comportas, e uma memorável entrevista com uma assistente social da empresa Andrade Gutierrez, que revelou toda a insensibilidade da construtora. Um bilhão de dólares foram gastos para um resultado pífio. Diferentemente, a obra de Adrian Cowell tem a grandeza da perenidade, do laborioso cuidado com a imagem, amparadas em sólida produção. Mestre entre os documentaristas, o Brasil lhe é profundamente agradecido. Requiescat in pace.  

Morre em Londres, aos 77 anos, o cineasta da floresta  

A notícia da morte de Adrian Cowell, na noite de ontem (10/10), por complicações respiratórias, surpreendeu familiares e amigos. Conhecido como incansável defensor da floresta, Adrian celebrizou-se pelos documentários que fez para a televisão britânica sobre a destruição da floresta amazônica e seus impactos sobre as populações indígenas e ribeirinhas. Escreveu livros também nos quais, tais como nos documentários, registrou a colonização da Amazônia e sua destruição nas décadas de 1980 e 1990.

Seu livro A Década da Destruição, publicado em 1990, tornou-se leitura obrigatória em tempos pré-Rio-92, com capítulos específicos sobre o Parque Indígena do Xingu, Rondônia e o líder seringueiro Chico Mendes. A partir de suas incursões pela Amazônia, produziu e dirigiu uma série de documentários que se tornaram célebres como Nas cinzas da floresta, Matando pela terra, Montanhas de Ouro e A morte de Chico Mendes. Os três prêmios da British Academy (BAFTA), o Prêmio International Emmy Founders e ainda os quatro Golden Gate que recebeu foram o reconhecimento público ao seu trabalho.


Adrian Cowell (no fundo à direita) ladeado por André Villas-Bôas (à dir.) e João Paulo Capobianco e Beto Ricardo (à esq.), do ISA, em 2000, durante almoço em São Paulo


A carreira de cineasta teve início em 1956, quando esteve na América do Sul pela primeira vez e em 1957, aos 23 anos, foi à Amazônia pela primeira vez, em uma caravana de jovens cineastas. Anos mais tarde, entre 1980 e 1990, Cowell registrou em fotos, vídeos e por escrito a colonização da Amazônia, o desmatamento e as campanhas ambientalistas pela preservação da floresta, além da morte de Chico Mendes, da criação das primeiras reservas extrativistas e do primeiro contato com os índios Uru Eu Wau Wau. Dois de seus livros tratam de sobre povos indígenas no Brasil: The Heart of the Forest e The Tribe that Hides from Man. A morte repentina de Cowell surpreendeu sua família e seus amigos, ocorrida na noite de ontem, em Londres, por complicações respiratórias.


A floresta e o povos da floresta sentirão a ausência de mais um de seus incansáveis defensores.

ISA, Instituto Socioambiental.

Fonte: Socioambiental

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