outubro 29, 2011

"De Cabral a Simonal", por Gustavo Alonso

PICICA: "Para além da reconstrução de uma história conhecida (e reconhecida), me interessei em estudar o “lado B” da música popular brasileira. O lado que frequentemente não é relembrado por nossos memorialistas, historiadores, jornalistas, cientistas sociais e pelos próprios artistas que escreveram sobre o período. O lado daqueles que se identificaram com o regime, ou que foram indiferentes a ele. Se o apoio ao regime é fácil de ser demarcado, a indiferença nos proporciona um terreno pantanoso para análise. Mesmo porque a indiferença raramente deixa registro. Simonal é uma janela para se entender a parte da sociedade que colaborou com os militares, e uma parte talvez maior ainda que foi indiferente à ditadura. Não se trata, obviamente, de fazer apologias às políticas autoritárias de um governo ditatorial, mas de compreender como parte da sociedade pôde se associar sem muitos problemas a esse ideal."

De Cabral a Simonal




por Gustavo Alonso*


 Era sábado, 25 de agosto de 1969. Wilson Simonal de Castro estava escalado para a abertura do show de Sérgio Mendes no Maracanãzinho. Grande responsável pela divulgação da bossa-nova no exterior, Sérgio Mendes era o artista brasileiro com maior sucesso internacional na época. Não obstante, tinha opositores no meio musical: muitos o acusavam de mostrar um Brasil “para inglês ver”. Mas o fato é que naquele dia havia 30 mil pessoas prontas para constatar a força do artista que lançara cinco LPs nos Estados Unidos, colocando-os entre os cinquenta discos mais vendidos daquele país.
Não era, entretanto, o dia do niteroiense Sérgio Mendes.
O show fora organizado nos mínimos detalhes pela patrocinadora do evento, a multinacional Shell. Usualmente palco de grandes eventos como o Festival Internacional da Canção, o Maracanãzinho havia se preparado de forma condizente com a importância do convidado. Além de Simonal, a Shell contratou para aquela noite alguns dos artistas mais famosos da época, entre eles Gal Costa, Maysa, Os Mutantes, Jorge Ben, Marcos Valle, Milton Nascimento, Peri Ribeiro, Gracinha Leporace e o conjunto Som Três.
Mas, passados alguns anos, ninguém se lembraria deles e, mesmo assim, o que aconteceu naquele dia ficaria marcado na memória de muitos.


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