outubro 23, 2011

O que os EUA escondem sobre a história do cânhamo em seu território: "Hemp for Victory"


PICICA: Nos anos 1980 circulava entre as comunidades de cânhamo norte-americanas um filme de 14 minutos, feito pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), produzido durante a Segunda Guerra Mundial. O governo norte-americano negava a autoria. Uma pesquisa na biblioteca do USDA em Beltsville, Mryland, confirmou a informação. Num velho catálogo de fichas foi encontrado o sumário revelador de uma importante informação que fora subtraída da opinião pública no processo de guerra para destruir a planta no pós-guerra: “Explica que a guerra interrompeu o fornecimento de fibras cruas e enfatiza a necessidade de cultivo de cânhamo nos Estados Unidos para uso militares e civis. Retrata práticas agrícolas de plantadores de cânhamo no Kentucky e em Wisconsin.” O filme "Hemp for Victory" teve a chancela do Depto. de Agricultura dos EUA. O que mais teria sido apagado da Biblioteca do Congresso com o intuito de esconder incomodas verdades, porque a história foi “reescrita” e o que forçou o governo dos Estados Unidos a cultivar cânhamo um ano depois do termo cannabis ter sido apagada da farmacopéia oficial dos EUA e do Formulário Nacional? Perguntas inevitáveis. O fato é que a produção de cânhamo foi patrocinada pelo governo federal a partir daquele longínquo ano de 1942 e mobilizou 20 mil agricultores contratados, 42 usinas de processamento a um custo de 360 mil dólares pela Defese Plant Corporation. Égua, maninho, é maconha pra porra!, como diria Zefofinho de Ogum, coloborador bissexto deste PICICA. Com a aproximação do fim da guerra, garantidos o fornecimento por produtores europeus, a produção doméstica caiu e uma reviravolta se instalou contra a planta patriótica: ela foi transformada na erva demoníaca que iria expor os norte-americanos à ameaça comunista. Ocorre que desde 1937, a despeito do temor popular da maconha incentivado pela mídia, o uso da planta vinha sendo difundido para além das populações marginais. Tanto que em 1960 ela foi associada a um poderoso símbolo político de liberdade e desobediência civil, em meio a legislações usadas para destruir os dissidentes políticos. Contra sua crescente difusão e tolerância de organismos como a Comissão Nacional sobre Marihuana, que recomendava mudanças na legislação federal, o presidente Nixon enviou ao Congresso Nacional uma mensagem, em 17 de junho de 1971, declarando “guerra às drogas”. Trilhões de dólares depois, a constatação do fracasso da política norte-americana, adotada em toda a América do Sul, vem sendo reconhecida até por políticos conservadores, como FHC, sob cuja presidência a legislação anti-drogas não desencorajou os proibicionistas. Há sinais preocupantes de que o Brasil enfrentará uma nova onda de conservadorismo no governo Dilma Rousseff, que acaba de instituir medidas higienistas no enfrentamento do uso abusivo de drogas, adotando um modelo inconstitucional baseado na internação compulsória e no financiamento de clínica para drogados, na contramão do que recomendou a IV Conferência Nacional de Saúde Mental. Contra a visão policial e médico-repressiva que insiste em se perpetuar na implementação de políticas públicas, é possível outra forma de situar o convívio com drogas ancestrais numa perspectiva histórico-cultural, sem a banalidade do debate mecânico e linear do fundamentalismo que se abateu na sociedade do nosso tempo. (Texto elaborado a partir do artigo "A cannabis nos Estados Unidos", publicado em O Grande Livro da Cannabis, editado por Jorge Zahar Editor, 1999).


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