Da série: "PAREM DE ATERRAR NOSSOS IGARAPÉS" - texto inédito, do poeta Aldísio Filgueiras, da fundação da Associação Amigos de Manaus

PICICA: Estávamos em 1993. O Prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, pretendia construir uma camelódromo em pleno coração da cidade. Uma dessas barbaridades que a cidade habituou-se a aceitar, comprometendo o processo de autonomia social, como se a gestão da cidade não lhe dissesse respeito. Vinte e um anos de ditadura civil-militar pesavam contra nossa cidadania. O então vereador Jefferson Peres, presidente da Comissão de Patrimônio Histórico da Câmara dos Vereadores, sozinho, conclamava os cidadãos manauaras a resistir. Nunca precisei de muito para agir. Com uma câmera na mão e muitas idéias na cabeça, reuni um grupo de cidadãos e fundamos a Associação Amigos de Manaus - AMANA. Fosse na época do Império, talvez estivéssemos aterrados juntos com os igarapés que sumiram com a urbanização da cidade, que chegou ao seu ápice na administração do governador Eduardo Ribeiro. Ele mesmo, paradoxalmente vítima da república, seria assassinado, certamente por desafetos ligados ao antigo regime. O texto abaixo, escrito pelo poetinha Aldísio Filgueiras - que serviria originalmente como narrativa do vídeo MANAUS - OPERAÇÃO MEMÓRIA, que produzi e dirigi naquele ano -, acabou tornando-se a Carta de Fundação da AMANA. Já a fotografia abaixo, que fiz sobre a enchente deste ano de 2012, é o registro daquilo que o antropólogo, ensaista e poeta Antonio Risério chamou da A REVANCHE DOS IGARAPÉS. Pasme! Outrora, por baixo do Relógio Municipal, passava o Igarapé do Espírito Santo, aterrado sem dó nem piedade, para dar lugar à eufêmica "Paris dos Trópicos", que encantou os olhos da província ao mergulhar na chamada "Belle Époque". Belle époque, para quem cara-pálida?

Foto: Rogelio Casado - Manaus, Maio/2012

TEXTO DO POETA ALDÍSIO FILGUEIRAS
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