PICICA: "Trata-se, sem dúvida, de um bom norte para a candidatura do jovem Fernando Haddad. A reaproximação de Erundina com o PT não deixa de ser um bom sinal, uma vez que o partido da estrela, sem dúvida a mais relevante legenda de esquerda do país e da capital, anda em círculos desde o fim da gestão Marta, que embora tenha implementado boas políticas públicas, fragmentou o partido e o deixou em um permanente tensão interna nos últimos anos. Também faz bem para o PSB de Erundina, pois fortalece a ala não-fisiológica e com a alguma disposição social do partido, minoritária em relação a uma direção estadual alinhada com o governo Alckmin."
Sucessão Paulistana: Erundina vice de Haddad
As negociações entre PT e PSB para as eleições paulistanas parecem ter confluído para algo bom: Luiza Erundina possivelmente será a candidata a vice na chapa de Fernando Haddad para a Prefeitura.
Erundina é uma figura importantíssima na história política paulistana,
pois foi a gestão, para além de todos os problemas que enfrentou, a
deixar o legado político mais relevante - antes de mais nada, porque no
governo, Erundina não foi governista, ela se desfez do pedestal
estatista e procurou, junto à associações de moradores e movimentos
sociais, fazer a boa política, focando na questão da moradia (sem
dúvida, a questão central da política local) e no diálogo franco com a
sociedade.
São Paulo é uma cidade politicamente complexa e profundamente problemática. Todas as gestões, exceto a de Paulo Maluf (1993-96), terminaram com um desgaste altíssimo - e Maluf, mesmo tendo feito sucessor, o falecido Celso Pitta
(1997-2000), sofreu um pesado desgaste posterior, seja pela revelação
de escândalos seus quando na Prefeitura ou pelos efeitos do desastre da
gestão Pitta. Tanto é verdade, que Maluf, depois de ter refeito sua
carreira política com certo êxito no pós-ditadura, não só jamais
conseguiu vencer uma eleição majoritária novamente, como também viu seu
tamanho político severamente diminuído: mesmo eleito com boas votações
para a Câmara dos Deputados, sua influência é pequena e sua figura é
condenada a uma representação quase tragicômica, mesmo entre os meios
conservadores que lhe sustentavam.
Erundina,
por motivos outros e na outra ponta do espectro político, não deixaria
também de sofrer um processo de fritura, mas ao contrário de Jânio, do
já referido Maluf, de Marta ou Kassab, ela deixou linhas gerais de como
fazer política na capital, que persistem até hoje. Não só, Erundina saiu
pessoalmente incólume dos escândalos e absurdos mil comuns à política
local. Hoje, ela persiste sendo reeleita como deputada federal - não
mais pelo PT, onde sempre teve problemas com a direção, mas sim pelo PSB
- e exerce um mandato bem avaliado, sustentada por um eleitorado
cativo, focando sobretudo em questões como a comunicação social e
apresentando bom trânsito na política nacional.
Trata-se,
sem dúvida, de um bom norte para a candidatura do jovem Fernando
Haddad. A reaproximação de Erundina com o PT não deixa de ser um bom
sinal, uma vez que o partido da estrela, sem dúvida a mais relevante
legenda de esquerda do país e da capital, anda em círculos desde o fim
da gestão Marta, que embora tenha implementado boas políticas públicas,
fragmentou o partido e o deixou em um permanente tensão interna nos
últimos anos. Também faz bem para o PSB de Erundina, pois fortalece a
ala não-fisiológica e com a alguma disposição social do partido,
minoritária em relação a uma direção estadual alinhada com o governo
Alckmin.
Haddad
precisa disso em uma campanha na qual, ainda que venha garimpando um
espaço razoável na mídia, é desconhecido pelo eleitorado e precisa não
só de um impulso eleitoral como, também, de uma ancoragem política que
lhe dê mais densidade no nível municipal. Ainda que José Serra seja um líder de pesquisas anômalo, por ser também o candidato com a mais alta rejeição
- tanto por questões pessoais como por ser o sucessor de uma gestão
fracassada como a de Kassab -, é fato que ele é o candidato a ser batido
pelo franco apoio do establishment local. Em termos propriamente
políticos, a presença de Erundina na chapa, a norteia na posição em que
ela precisa estar para ter razão de ser. Seja como for, trata-se de uma
boa notícia.
Fonte: O Descurvo
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