PICICA: Para entender o processo de despolitização da política pelo Partido dos Trabalhadores. EM TEMPO1: Aviso aos companheiros do PSOL do Amazonas para conter a animação e deixar de postar na minha página no feicebuque qualquer outro tipo de análise política. A despeito do meu interesse no debate de ideias, deixem que do material a ser discutido me encarrego eu. No mais, a título de informação, continuo no PT, aquele da base histórica, que não se cala. EM TEMPO2: Recomendo leitura da entrevista de Luiza Erundina ao IHU sobre as razões que levaram-na deixar a vice-prefeitura na chapa do PT à prefeitura de São Paulo: 'Foto provocou repulsa, uma reação em cadeia'.
Perspectivas do pós-PT.
Por Lucas Perucci
Ao observar a
política brasileira nos últimos anos, é lugar comum afirmar que o país
obteve uma série de transformações econômicas. Houveram melhoras
significativas em renda e consumo, há uma confiança no planejamento e na
regulação macroeconômica e uma margem do governo em aplicar medidas
anti-cíclicas que controlaram a crise de 2008 e estimularam o
crescimento.
Mas o que
significa para um partido estabilizar e aprimorar o desenvolvimento do
capitalismo no Brasil? Se tal estabilidade fosse pautada por um partido
ou grupo de partidos que possuísse um acúmulo histórico que visasse um
explícito consenso de classes, essa pergunta seria fácil de ser
respondida: alternar-se no poder de modo estável, como nos EUA entre
republicanos e democratas.
Certamente,
esta não é a origem e trajetória do PT. Forjada no seio da ditadura e
responsável por reestruturar movimentos sociais e sindicatos, com uma
inovação programática ao integrar a intensa pressão e organização
política extra-parlamentar aliada a conquista de posições eleitorais.
Podemos afirmar que o PT não é um partido moldado e orientando burguesia
nacional e internacional, que existe uma óbvia resistência da burguesia
em aceitar suas bases de apoio, notadamente CUT e MST, e da militância
ligada às pautas de gênero, raciais e de direitos civis.
Para o PT
conservar parte de suas características fundacionais e se fixar nos
poderes já delimitados, alguns de seus pressupostos devem se alterar.
Algo necessário é realizar a transição pacífica para uma democracia
burguesa bem estabelecida e consolidar uma suave alternância de poder.
Mas isso significa destruir uma concepção de partido e objetivo que os
socialistas se orientam. Os socialistas apresentam uma política com
determinado fim, com objetivos de curto e de longo prazo, ou seja,
orientam sua atividade política para um caminhar direcionado, para a
alteração da organização social da vida em outro patamar de existência,
para algo além do capitalismo.
O problema
se apresenta nesta duplicidade ao PT: seu partido ainda conserva bases e
elementos de outra uma sociabilidade geral e ao mesmo tempo se
aferrenha no poder. Esta é uma política com prazo determinado, pois toda
a criatividade e o discurso nacional unificador que deu vitalidade ao
partido dá seus sinais de esgotamento, na medida em que exige uma
descaracterização cada vez maior de seus símbolos, de sua base social e
de seu programa. É muito, muito difícil explicar Hadad com Maluf… Essa
própria manutenção no poder exige esse tipo de pragmatismo político
pouco digerível.
O PT
finalmente se consolidará como um novo PT quando conseguir se adaptar no
momento, que de forma natural e sem resistências for entregue
totalmente ao pragmatismo político. Sem grandes necessidades de
justificativas de seus pressupostos. O modo de realizar tal movimento é
muito claro e perceptível: engessamento de sua direção, verticalização
na condução de seus aparelhos no movimento e liquidação de suas
instâncias de base. Para além, há uma necessidade de despolitizar a
política, conduzindo os votos e as perspectivas de vida para condições
aceitáveis dentro da ordem. A política de aquisição de bens de consumo
não-duráveis satisfaz esse tipo de anseio.
Efetivamente, no último período no Brasil, houve uma inserção via consumo
na classe trabalhadora. Pochmann em recente entrevista (1) argumenta
que este tipo de elevação de renda e geração de empregos se apresenta
aos trabalhadores como um esforço individual, ou seja, sem realizar
conexões sobre a forma de gestão da economia, sua composição política,
os choques de poder e os projetos em disputa que propiciaram tais
possibilidades de ascensão momentâena. O que a genialidade de Pochman
não quer, não consegue ou não pode explicitar que essa é a exata medida
da política petista, propagar a despolitização. O PT deve se apresentar
como uma alternativa viável dentro da ordem capitalista. Seu lócus
político deve emanar das estruturas do Estado consolidadas, seu léxico o
da estabilidade, crescimento e ordem, sua visão reforçar as
particularidades, o indivíduo, o esforço e a conquista da casa, carro,
emprego e financiamentos próprios. A origem e manutenção das agudas
desigualdades tornam-se disparidades do pagamento de impostos, e a
política mais progressista, a reforma tributária.
Assim, a
militância petista e sua esfera de influência, irá se amoldar
definitivamente com os exatos e mesmos pressupostos. Em um médio prazo,
haverá uma tendência do declínio dos movimentos em que hegemonizam e o
surgimento de novos combativos e mais criativos, principalmente devido
às contradições abertas pelo neodesenvolvimentismo e da especulação
imobiliária que se apresentam com agressividade (Pinheirinho, Jirau,
Ocupações em favelas no Rio para a Copa). O PT já deixou de ser um pólo
aglutinador e criativo dos trabalhadores e precisa repetir de modo
insistente os aspectos quantitativos de seu governo que se sobressaem
frente ao período FHC. É o seu limite como necessidade imperativa para
se manter no poder. Chegará um momento de dizer publicamente que no
nosso governo existe menos corrupção que no de FHC. Um quadro
comparativo, vitorioso, de quantos deputados do PT foram alvo de
denúncias e cassados e quantos do PSDB e do DEM.
Se o quadro
da ausência de alternativas reais e massivas à esquerda do PT se
mantiver, o pós-PT é algo tenebroso. Significa a consolidação de uma
massa de trabalhadores despolitizados, com fortes conotações
conservadoras, sem referência em movimentos sociais e coletivos que
possuem uma simbologia com esperança de futuro, e consequentemente, sem
organização e formação de novos quadros políticos com habilidades
teóricas e organizativas. Significa a explosão da contradição de classes
em diversas lutas pontuais, sem um projeto unificador. E o novo-PT que
garantirá a pacífica alternância de poder com o PSDB, tratará de
canalizar sua oposição para o espaço institucional, local par excellence
da manutenção da ordem democrática, estável, burguesa e capitalista.
É necessário
incidir ainda mais na base do governo, deslocar a militância honesta e
sincera que é hegemonizada por um projeto desenvolvimentista e
apresentar, sem imposições, fórmulas óbvias e auto-proclamação, as
enormes dificuldades de um acúmulo ainda mais árduo e longo frente às
tarefas abertas desde a democratização brasileira: a construção de uma
revolução socialista frente a um Estado com uma estruturada democracia
burguesa. Algo ainda inédito na história da humanidade. A gigantesca
tarefa de organizar novos partidos, articulados e inseridos, nas pautas
de gênero, raciais, dos direitos de expressão da sexualidade, no
movimento sindical, no movimento estudantil e nos movimentos populares,
com a reconstrução e disseminação de conceitos de revolução, Estado e
democracia socialista que supere e não repita farsescamente a
experiência soviética.
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