PICICA: Da série "Parem de aterrar nossos igarapés".
O povoamento nascido em torno da Fortaleza da Barra de São José do Rio Negro, construída em 1669 por Francisco da Motta Falcão, daria lugar à cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas. A construção do forte foi marcada por um fato carregado de simbolismo: naquele lugar havia um cemitério indígena. Esquecida nos confins do Império, a capital da província foi durante muito tempo uma grande aldeia. A partir de 1884, Leovegildo Coelho, diretor da Repartição de Obras Públicas, registra uma sucessão de aterros, entre eles: Cais dos Barés, Praça Paysandu, Rampa dos Remédios. Nos anos 60 do século XIX, desapareceria o igarapé da Olaria, braço do igarapé do Espírito Santo. Ambos contornavam o sítio onde se localiza a Catedral de N. S. da Conceição. O primeiro deu lugar ao Largo da Imperatriz; o segundo, à atual avenida Eduardo Ribeiro - homenagem ao governador que ao "afrancesar" Manaus, com sua "Paris dos Trópicos", deixou como legado uma arquitetura de estilo eclético ou neoclássico. Para a professora Bernadete Andrade, "É como se Manaus nos dissesse pela sua arquitetura, [...] , que não temos raízes nem identidade com os nativos que aqui viveram há milênios ou aproximadamente há 12.000 anos. Para ela, "somos persuadidos a esquecer quem somos, pois a paisagem da cidade nos leva ao esquecimento". É nossa geografia quem vem destronar a história oficial, como se quissesse nos lembrar do soterramento das nossas diferenças e dizer aos olhos de todos que nesta cidade há saberes adormecidos. Bernadete, que já não está entre nós, nos convida a vasculhar nossos limites, pois é "no plano da ruptura com a fronteira que encontramos a exclusão, o esquecimento e a paisagem silenciosa desse tempo".
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