junho 23, 2012

"Há terra para todos?" (Cebes)

PICICA: “Mesmo que os chefes de governo não consigam incrementar e melhorar seus consensos sobre as políticas internacionais, existe esse ambiente de efervescência dos movimentos sociais, essa forma de encontrar pessoas de diversos segmentos da sociedade que tem algo em comum: todas querem padrões de vida dignos, querem ter acesso à informação, democracia, querem que se produza de forma mais limpa, e isso com certeza vai gerar uma grande pressão – não, quem sabe, sob a Rio+20, mas sob um contexto de novos encontros internacionais no futuro, através do seu acúmulo” (geógrafo Christovam Barcellos).
Há terra para todos?
Publicado em: 20/06/2012 18:54:29

 O Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes) finalizou, nesta segunda-feira (18), suas atividades na Cúpula dos Povos, levantando uma discussão que é de interesse mundial: haveria terra para todos, afinal? Para responder à pergunta, a entidade contou com a representação de diversas entidades em um forte debate presidido pelo Diretor Executivo do Cebes, Luís Bernardo Delgado Bieber.

Para colaborarem com a reflexão, foram convidados o economista e superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA/RJ), Gustavo Souto de Noronha, o geógrafo, sanitarista e pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT-Fiocruz/RJ), Christovam Barcellos, o pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso, Vanderlei Pignetti, e o membro da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Coletivo Nacional de Saúde, Mercedes Zuliani.

Segundo Gustavo Souto de Noronha, o sistema econômico vigente não é mais suportado pelo planeta e vive hoje um momento de crise. De acordo com o econ omista, é imprescindível que se faça desta crise capitalista uma crise terminal deste sistema ambientalmente inviável. “Há Terra para todos? Sim, mas não dentro do capitalismo”, afirmou.

Ainda segundo o Gustavo Noronha, não é possível discutir vida sem se falar de como os impactos das atividades humanas influenciam no equilíbrio ecológico que permite a sobrevivência da espécie humana. Nesse sentido, é possível afirmar que o capital vai sempre criar necessidades que o mundo não precisa, e, na atual lógica, os produtos vão se tornando rapidamente obsoletos, obrigando o mundo a consumir mais para que este não se sinta defasado.

No que diz respeito aos modos agrícolas, o economista colocou que é preciso discutir uma reorganização da produção de alimentos do país dentro de um paradigma agroecológico. Nesse sentido, a produção familiar de alimentos saudáveis, livres de produtos químicos, que geram emprego e renda, é, de acordo com Gustavo, o modelo alternativo que deve ser o norte do país e do mundo.

 O Pesquisador Christovam Barcellos fez um alerta com relação a forma de consumo exagerada dos povos. “Será que esse é um consumo responsável? As pessoas estão trocando sua qualidade de vida por uma quantidade grande de lixo. Estamos contaminando o ambiente por uma falsa demanda de conforto, produzida artificialmente”.

Segundo o geógrafo, faz-se importante compreender que a Cúpula dos Povos se coloca como uma das partes mais interessantes de toda a movimentação em torno da Rio+20: “Mesmo que os chefes de governo não consigam incrementar e melhorar seus consensos sobre as políticas internacionais, existe esse ambiente de efervescência dos movimentos sociais, essa forma de encontrar pessoas de diversos segmentos da sociedade que tem algo em comum: todas querem padrões de vida dignos, querem ter acesso à informação, democracia, querem que se produza de forma mais limpa, e isso com certeza vai gerar uma grande pressão – não, quem sabe, sob a Rio+20, mas sob um contexto de novos encontros internacionais no futuro, através do seu acúmulo”, acredita.

Para chamar a atenção dos presentes sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde dos brasileiros, também um dos temas centrais da questão em debate, o médico e doutor em toxicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Vanderlei Pignatti falou com propriedade sobre a preocupação dos especialistas com relação à sua utilização.

Na ocasião, o pesquisador apontou os dados que hoje constam nos dois dossiês lançados pelo Grupo de Trabalho de Saúde e Ambiente, da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), em parceria com outras instituições, que indicam os problemas enfrentados pelos trabalhadores rurais e consumidores no que diz respeito à aplicação de substâncias químicas para controlar pragas nas plantações e aumentar a produtividade da terra.

Segundo Piaretti, estudos apontam aumento na incidência de doenças como má-formação genética, câncer e problemas respiratórios, principalmente em crianças com até cinco anos de idade. Segundo o estudioso, há uma grande preocupação com o consumo exagerado de produtos que contem os agrotóxicos no Brasil, e as leis não impõem limites condizentes com o mínimo suficiente para que não haja mais mortes.

Representando a direção MST e o Coletivo Nacional de Saúde, Mercedes Zuliani falou, com foco especial nas terras do Pará e da Amazônia, sobre a contradição de se discutir a questão ambiental com a necessidade de ainda colocar o Brasil como espaço a ser continuadamente explorado em termos de recursos naturais e humanos.

Segundo Zuliani, o mundo traz para a Rio+20 uma perspectiva empresarial e governamental que deve vir abaixo caso o mundo deseje terra para todos. “Daí a importância da Cúpula, que vem trazer outros elementos pra debate, no caso, o do desenvolvimento para os povos, que deve ser construído não a partir do lucro e do mercado, mas a partir de novas relações de vida”, acredita.

 A dirigente do MST insiste que a mudança dos sujeitos em relação à natureza é o ponto de partida e defende a denúncia em relação à violência sofrida pelas terras brasileiras: “Precisamos denunciar a exploração do país, a questão do envenenamento do campo, da expropriação dos nossos minérios, das águas, frente à construção das hidrelétricas, da desterritorialização de sujeitos que reproduzem suas vidas a partir dos rios e da sua relação com a natureza, como é o caso dos indígenas. Precisamos encontrar, frente à tudo isso, outra forma de democracia, de participação, e de condução do que é de fato nosso”.
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Confira, na íntegra, a posição do economista e superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA/RJ), Gustavo Souto de Noronha, e as fotos do último dia do Cebes na Cúpula dos Povos.


Saúde: a importância do Cebes e demais entidades na Cúpula dos Povos


De acordo com o Diretor ad hoc do Cebes, José Noronha, a participação da entidade na Cúpula dos Povos é um fato extremamente significativo, pois revela o engajamento da entidade com a Abrasco, Fiocruz, Trama, do MST, da Via Campesina e diversas outras entidades da sociedade civil que buscam reforçar a luta para que o desenvolvimento brasileiro e o desenvolvimento do mundo estejam balizados por atitudes sustentáveis.

 
Ainda segundo o diretor do Cebes, os debates, que tiveram espaço na tenda “Saúde, ambiente e sustentabilidade”, foram fortemente pautados pela crítica aos padrões de consumo atualmente vigentes nos países centrais, em particular dos Estados Unidos da América e dos países da Europa. Mais do que isso, as discussões apontaram a necessidade global de uma reforma profunda dos laços de solidariedade entre os povos do mundo e os diversos movimentos sociais.

“Acho difícil que consigamos obter da Rio+20 uma declaração que traduza tais discussões nesse nível de engajamento, mas que ela ajude para que as posições que o Brasil tem levantado na conferência sejam fortalecidas, e que possamos avançar num mundo cada vez mais equânime e mais justo – não em modelos de economia verde, mas em uma economia justa, que preserve o planeta e que garanta alimentação e condições de vida para todos”, coloca Noronha. 






Marcelo Firpo Porto
Escola Nacional de Saúde Pública - Fundação Oswaldo Cruz - BRASIL
22/6/2012
19:10h 

Prezad@s, gostaria de parabenizar ao Francisco e a todas as instituições/entidades envolvidas pelo maravilhoso trabalho da Tenda da Saúde nesta Cúpula dos Povos. Mostramos nosso compromisso não apenas pela nossa presença, mas pela qualidade das discussões (que estive e das quais fui informado). O diálogo com a sociedade e com movimentos sociais será fundamental para avançarmos na saúde com justiça social e ambiental. Creio que todos saímos muito motivados para prosseguir nos grandes desafios que temos pela frente. Saudações. 
Fonte: Cebes

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