junho 21, 2012

David Harvey (geógrafo): "O capitalismo é imoral e sem lei"

PICICA: "A incapacidade de se pensar o futuro fora do paradigma do crescimento econômico permanente constitui sem dúvida a falha principal do discurso oficial sobre o desenvolvimento durável. Apesar dos desgastes sociais e ecológicos, o crescimento, do qual nenhuma autoridade política ou econômica quer dissociar o desenvolvimento, funciona como uma droga pesada. Quando ela está presente, é mantida a ilusão de que ela pode resolver os problemas - que na maior parte das vezes ela origina - e que assim, quanto mais forte é a dose, melhor o corpo social vai se portar. "

Publicado em 22/03/2012 por 
Não sei se podemos chamar isso de entrevista, parece mais um interrogatório de um réu, suspeito do crime de heresia ao ousar se manifestar contra o sagrado capital. Parece o Jô Soares que quer falar mais que o entrevistado, só que muito mais agressiva. 
O fluxo da conversa espinhosa faz jus ao nome do programa, e reflete bem os percalços de uma discussão dessa natureza. Embora eu não ache que ele tenha se saído muito bem, ao se deixar intimidar, gostaria de propagar o argumento matemático contra o capitalismo apresentado por ele, quando fala do crescimento composto de 3% anual.
Crescimento composto é o mesmo tipo de crescimento exponencial do juros composto, ou juros sobre juros; no primeiro caso seria crescimento sobre crescimento. Não deixe de ver o vídeo linkado, deixa isso da forma mais clara possível, garanto que você vai se surpreender. 
Seguem alguns trechos do livro O Enigma de Capital, deste autor entrevistado, e também alguns links sobre a problemática do crescimento/desenvolvimento.

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"o capital é o sangue que flui através do corpo político de todas as sociedades que chamamos de capitalistas, espalhando-se, às vezes como um filete e outras vezes como uma inundação, 
em cada canto e recanto do mundo habitado. É graças a esse fluxo que nós, que vivemos no capitalismo, adquirimos nosso pão de cada dia."

"o capital não é uma coisa, mas um processo em que o dinheiro é perpetuamente enviado em busca de mais dinheiro."

"A atribuição dos baixos padrões de vida à escassez na natureza, no entanto, tem sido periodicamente ressucitada. Explicações ambientais eram comuns durante a crise nos anos 70, e não é nenhuma surpresa que, nos tempos de turbulência econômica iniciados em 2006, uma vasta gama de questões em torno do meio ambiente tenha sido evocada, variando do pico do petróleoe dos preços das mercadorias ao aquecimento global,como base para a explicação ou, pelo menos, parte das explicações de nossas dificuldades econômicas atuais."

"verdadeiro problema não é a falta de demanda efetiva, mas a falta de oportunidades para o reinvestimento lucrativo do excedente conquistado ontem na produção. O fato de essa ser a única conclusão a tirar-se deriva, deve-se notar, da condição da circulação do capital, que é essencial para a sobrevivência do capitalismo: a continuidade do fluxo deve ser mantida em todos os momentos. E isso, como começamos discutindo, torna-se muito mais difícil de fazer quando nos movemos para o terreno de uma economia global de 55 trilhões de dólares, que deve dobrar nos próximos trinta anos."

"A geografia histórica do capitalismo não pode ser reduzida, evidentemente, a questões da acumulação de capital. Mas também deve ser dito que a acumulação do capital, junto com o crescimento da população, está no cerne da dinâmica evolutiva humana desde mais ou menos 1750. Entender como exatamente isso de deu é fundamental para desvendar o enigma do capital."

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"Precisamos reconceituar o desenvolvimento. Não basta acabar com o neoliberalismo e substituí-lo pelo keynesianismo. O capitalismo neoliberal é mais destrutivo que o keynesiano, sem dúvida(...)Queremos um desenvolvimento que nos dê vida, e não produtos." Ivo lebauspin
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=818

"A incapacidade de se pensar o futuro fora do paradigma do crescimento econômico permanente constitui sem dúvida a falha principal do discurso oficial sobre o desenvolvimento durável. Apesar dos desgastes sociais e ecológicos, o crescimento, do qual nenhuma autoridade política ou econômica quer dissociar o desenvolvimento, funciona como uma droga pesada. Quando ela está presente, é mantida a ilusão de que ela pode resolver os problemas - que na maior parte das vezes ela origina - e que assim, quanto mais forte é a dose, melhor o corpo social vai se portar. "
http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=992&tipo=acervo

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