junho 30, 2012

"A-mar, amores&amoras" (Psicotramas)

A-mar, amores&amoras


Certa vez, me fizeram estas duas PERGUNTINHAS:
Porque algumas pessoas amam demais?
Porque o sentimento de gostar ou apaixonar não pode ser suprido por uma única pessoa?

  
Gente que ama demaaaais não tá apenas “amando”. Tá buscando a parte perdida do relacionamento primitivo com a mamãe (a “parte perdida” é, obvia-mente, a mãe). Por isso esse amor num pode ser dado por uma única pessoa (na vida adulta). A parte que falta é real, embora num exista +. É real na experiência interna da pessoa. Qual-quer tentativa de cura é lenta&longa&sofrida. É duríssimo viver como se metade do corpo estivesse faltando, mes-mo que num haja consciência alguma disso, só a sensação obscura. 

A psicanálise levou quase 100 anos pra descobrir que o desamparo NUM é uma ilusão, por + que o próprio SigmundFreud o tenha dito 40 anos antes. Mas ninguém acreditou no Freud do fim da vida – ficaram com o Freud jovem&vigoroso do início, talvez por invejarem o poder que isso proporcionava ao psicanalista.

Lacan descreve a castração como sendo isto mes-mo: dar-se conta de que num há como recuperar uma parte de si, simbiótica ou fusional, que se perdeu com a realização de que se é 1 ser separado da mãe. A nostalgia daquele período de fusão total de mente&corpo permanece y com maior ou menor grau se re-apresenta quando se tá apaixonado… o grande amor é uma repetição do 1º amor pra sempre perdido, pelo que é si-mesmo&outro, simultanea-mente.

Pra Freud o amor/paixão é 1 estado de loucura transitório&normal. Cultivá-lo de modo permanente num é nada bom. O cêrumano, bípede implume, animal que ri y otras demarcações, é también aquele bicho glabro que vive em permanente briga com a realidade e incapaz de lidar com as perdas. O amor/paixão é uma saída pra se continuar negando a realidade.

E chega de teoria. As questões aí são eminente-mente “pragmáticas”!! 

   
Bem… vezINquando paro pra respirar e sigo em frente… 

A Vida num é dada desde sempre, é preciso construí-la. E é isso que nos move, é o Desejo que nos faz circular. 

Por + que as pessoas tentem&tentem&tentem, num tem jeito… o amor é irredutível ao saber. O dilema/dilema mes-mo, então, é o que segue(?): manter o império solitário dos sentidos, o casamento com a solidão, o virtual, ou… aceitar o desafio do outro diferente nele mes-mo, romper nosso imobilismo… 
lançar as garrafas ao oceano imeeeenso da solidão! Só assim pra alguém, 1 dia, nos alcançar. Pero, o + importante é jamais deixar de lançar ao Mar, aos 4 ventos. Daí, sensibilidade rara. Taí: garrafas (ao Mar) e sopros (ao vento)… Quem sabe a sorte, o acaso, ou o que quer que atenda pelo sinônimo compreensível de bem-aventurança, pouse uma destas garrafas na praia, por vezes deserta, da nossa Existência, e nela esteja contida a chave, o condão mágico, o abrakadabra que nos revele o segredo.
Ó a Florbela Espanca, a pentacampeã mundial do amor demaaaais, com a Via Láctea abraçando o infinito:

 
(…)

O mundo? O que é o mundo, ó meu amor? 

O jardim dos meus versos todo em flor…

A seara dos teus beijos, pão bendito…

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços…

São os teus braços dentro dos meus braços,

Via Láctea fechando o infinito.

  
O céu é o céu, espaço sideral, com partículas, corpos celestes etc&tal. 1 dia, no crepúsculo tava euzinho admirando 1 firmamento limpo de nuvens, dum azulado já 1/2 cinza, ainda sem estrelas aparentes, pois que ofuscadas pelos últimos raios, e tive a clara impressão de que aquilo era uma parede, ou 1 pano, pois a cor era uniforme. E a lua cheia, redonda, que já subia, me deu a impressão de ser 1 buraco na parede, ou o ralo duma banheira, e não uma massa no vazio.

Assim penso que é o amor. Quanto mais&mais&mais tentamos defini-lo&categorizá-lo, ele vem com uma alucinação prontinha.

Shelley em A Defense of Poetry (1819), sobre inspirações&epifanias, qualifica o choque da inspiração poética como sendo uma “visitation”:

“We are aware of evanescent visitations of thought and feeling… sometimes regarding our own mind alone”.
Pensamos no amor saindo de nós ou chegando a nós das estrelas… o céu varia, mas não o tamanho do espaço do nosso abraço, hein?!??
Muuuuitas das respostas tão nas perguntas, nos tremores das dúvidas, na dificílima tarefa de encontrar alguma luz. Pra mim, a BELEZA desse questionamento tá em sua angustiada proposta: encontrar uma resposta. As respostas… talvez nunca venhamos a encontrá-las. Há muuuuitos escafandros que tentam mergulhar fuuuuuundo nestas águas e que, infeliz-mente, voltam de mãos vazias. Este mar num tem fim! Dúvidas, vivo em dúvidas y por causa delas…
 e, com água benta, sal grosso&Poesias estamos bem armados pra qualquer batalha.  
Enfim, é isto. Amor/a-MAR, a meu ver, continuará a nos surpreender pra sempre. Assim seja&Saravá!


Fonte: Psicotramas

Nenhum comentário: