junho 18, 2012

"Marcha das Vadias do Recife: explicitando a violência sexual", por Lis Lemos

PICICA: "Durante a Marcha (antes e depois dela também) não faltou quem se dissesse contra o nome escolhido ou contra a manifestação em si. Porém, também não faltaram mulheres com coragem e peito (sim, eles estiveram fora de blusas e sutiãs) para marchar e gritar que não toleramos mais que nos ensinem a não sermos estupradas, que nos ensinem como nos vestir, como nos comportar sexualmente."

Marcha das Vadias do Recife: explicitando a violência sexual

A violência está em qualquer lugar e bem mais próxima do que imaginamos. Essa foi a mensagem que a Marcha das Vadias do Recife deixou para mim (com apenas quatro meses de pernambucanidade) e para quem viu mais de mil pessoas passando pelas avenidas e pontes da cidade.

“Zaverucha não me estupre”, essa foi uma das frases usadas pelas vadias que compuseram a Marcha. Para quem não sabe, Jorge Zaverucha é um professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), do curso de Ciências Políticas. No início do mês de maio foi condenado por ter abusado sexualmente de uma aluna e servidora da universidade. Uma vitória das feministas do Recife.


Marcha das Vadias Recife 2012. Foto de Luna Markman/G1

Boatos de corredor que relatam assédio de professores sobre alunas inundam muitas faculdades e universidades brasileiras. Para deixar de ser fofoca e virar ação penal é preciso mobilização. É preciso que se deixe de culpabilizar a vítima. É preciso que se mostre o nome e a cara dos “senhores de renome da academia”. Foi tudo isso que ficou explícito na Marcha das Vadias.

Durante a Marcha (antes e depois dela também) não faltou quem se dissesse contra o nome escolhido ou contra a manifestação em si. Porém, também não faltaram mulheres com coragem e peito (sim, eles estiveram fora de blusas e sutiãs) para marchar e gritar que não toleramos mais que nos ensinem a não sermos estupradas, que nos ensinem como nos vestir, como nos comportar sexualmente.

O grupo de teatro feminista ‘Loucas de Pedra Lilás‘ esteve à frente da caminhada, mostrando que política também se faz com arte. E, que a arte também é uma forma de protesto. Uma ciranda feminista foi dançada em plena avenida Guararapes, atrapalhando o tráfego, mas deixando embasbacados aqueles que nunca viram tantas mulheres juntas gritarem por sua liberdade.


Mulheres do grupo de teatro feminista Loucas da Pedra Lilás. Marcha das Vadias Recife 2012. Foto de Luna Markman/G1

Corpos pintados, semi nus, peitos à mostra para falar que os nossos corpos nos pertencem. Os nossos corpos nos inserem no mundo. São nossos esses corpos e deles dispomos conforme nossos desejos. As mulheres querem ocupar as cidades, ter direito ao seu corpo e seu prazer. Para isso, empunharam seus cartazes, gritando palavras de (des)ordem e mostraram que: “se o corpo é da mulher, ela trepa com quem quiser”.

Ah! Minha eterna admiração pela moça que percorreu os mais de dois quilômetros de caminhada, apenas de calcinha: “porque a porra da buceta é minha”.

Lis Lemos

Jornalista, Relações Públicas, feminista. Não necessariamente nessa ordem.

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