PICICA: "O artigo de Michele dos Anjos de Santana
é produto de investigação das políticas de reassentamento da
Administração Municipal de Belo Horizonte através de três estudos de
caso realizados na Vila Acaba Mundo, Vila UFMG e na favela da Serra.
Constatou-se que essas políticas têm promovido novas formas de expulsão,
particularmente severas para as populações mais vulneráveis, visando
requalificar o espaço urbano e disponibilizá-lo para o mercado
imobiliário. Ao fim é apresentado um panorama geral de como o direito à
cidade vem sendo negado a grandes grupos populacionais, encerrando com
propostas para se reverter este processo."
A expulsão dos pobres da metrópole
Pessoas ou Investimentos? Especulação imobiliária e expulsão dos pobres da metrópole
O artigo de Michele dos Anjos de Santana
é produto de investigação das políticas de reassentamento da
Administração Municipal de Belo Horizonte através de três estudos de
caso realizados na Vila Acaba Mundo, Vila UFMG e na favela da Serra.
Constatou-se que essas políticas têm promovido novas formas de expulsão,
particularmente severas para as populações mais vulneráveis, visando
requalificar o espaço urbano e disponibilizá-lo para o mercado
imobiliário. Ao fim é apresentado um panorama geral de como o direito à
cidade vem sendo negado a grandes grupos populacionais, encerrando com
propostas para se reverter este processo.
O artigo “Pessoas ou Investimentos? A
especulação imobiliária, as violências públicas e a expulsão dos mais
pobres das grandes metrópoles”, de Michele dos Anjos de Santana, é um
dos destaques da edição nº 13 da Revista eletrônica e-metropolis –
publicação trimestral que tem como objetivo principal suscitar o debate e
incentivar a divulgação de trabalhos relacionados à dinâmica da vida
urbana contemporânea e áreas afins. A Revista e-metropolis é editada por
alunos de pós-graduação de programas vinculados ao INCT Observatório
das Metrópoles e conta com a colaboração de pesquisadores, estudiosos e
interessados de diversas áreas que contribuam com a discussão sobre o
espaço urbano de forma cada vez mais vasta e inclusiva.
Pessoas ou Investimentos?
Michele dos Anjos de Santana
Nas primeiras palavras de seu livro Ser
como Eles, publicado em 1993, Eduardo Galeano descreve poeticamente a
situação dramática a que chegamos ao final do século XX: “Os sonhos e os
pesadelos são feitos da mesma matéria, mas este pesadelo se diz o único
possível, um sistema que despreza a vida e que adora as coisas.”
(Galeano, 1993, p. 9).
Com a queda do Muro de Berlim e a
desintegração da URSS foise o sonho do socialismo, a ponto de alguns
decretarem o “Fim da História”. O socialismo real da União Soviética e
do Leste Europeu havia se revelado um fracasso e, portanto, estávamos
todos condenados a aceitar as injustiças do capitalismo e as sociedades
desiguais. Mas eis que com o novo século surgem novas utopias, a começar
pela proliferação de manifestações contra-hegemônicas, seguidas da
construção de fóruns mundiais, regionais e locais, do fortalecimento do
pensamento democrático radical e do surgimento de novos e numerosos
movimentos sociais e grupos da sociedade civil organizada que
reivindicam outra realidade diferente da que existe. Tamanha é a
intensidade dessas novas utopias que Santos (2008, p.43) chega a
considerar que “nosso tempo está assistindo à crise final da hegemonia
do paradigma sociocultural da modernidade ocidental e, portanto, é
chegado o momento de uma mudança de paradigma”.
Nesse contexto em que a aparente
inevitabilidade do que existe se confronta com as aspirações de outros
mundos possíveis é que se funda a questão das cidades e das políticas
urbanas. Duas concepções de cidade chocam-se frontalmente na atualidade.
De um lado está a concepção da cidade como mercadoria, a cidade
como empresa, a cidade como espaço dos investimentos, da competição, da
concorrência e da desigualdade. Do outro, a cidade como espaço de
promoção da vida, a cidade como espaço do fazer e do prazer,
do trabalho e da alegria, da igualdade e da convivência com a
diversidade, da sustentabilidade e do bem-estar. “A natureza das cidades
nos tempos atuais é aquela da ilegalidade e da violência de todos os
tipos. Mas vale a pena torná-la um espaço de cidadania e de
emancipação.” (Gustin, 2006. p.167).
Desde o ponto de vista da
cidade-mercadoria que, há algum tempo, tem se apresentado como a única
solução possível para as grandes metrópoles, cada pequena parcela da
área urbana é entendida como um investimento,
uma potencial fonte de lucro. Assim, a unificação do espaço segundo os
interesses do capital e da cultura mercantil torna-se o grande objetivo
da urbanização. Segundo essa concepção, as cidades devem se assemelhar a
fábricas, racionalmente planejadas para serem absolutamente eficientes,
mas nem sempre para todos.
Claro está que em metrópoles assim
concebidas os mais pobres não têm lugar central, tanto que nas grandes
cidades as políticas urbanísticas têm se orientado no sentido de remoção
dos pobres e não da pobreza. Esta é a questão central deste artigo que
tenta apresentar os mecanismos de expulsão das comunidades mais
vulneráveis, utilizados não só pela especulação imobiliária, mas também
(e o que é ainda mais perverso) pelas políticas públicas que deveriam
protegê-los, garantindo seus direitos fundamentais de cidadania.
O presente artigo fala, primordialmente,
das políticas de reassentamento do Brasil, mais especificamente dos
casos estudados em Belo Horizonte Minas Gerais e está dividido em cinco
seções. Nesta primeira introduz-se o tema. Na segunda seção será
discutida a efetividade das políticas públicas de reassentamento em
setores urbanos de exclusão e risco, bem como a pressão da especulação
imobiliária nessas comunidades. Em seguida, na terceira seção,
demonstra-se como, além da especulação imobiliária e das políticas
urbanísticas, o paradigma da violência que permeia as políticas públicas
em ações de remoção contra os moradores de vilas e favelas e contra os
moradores e trabalhadores de rua também contribui para essa expulsão por
ser um efeito e um instrumento das políticas de exclusão. Na quarta
seção, apresenta-se os estudos de caso da Vila Acaba Mundo, da Vila UFMG e da favela da Serra, três exemplos emblemáticos de como
os moradores de vilas e favelas são tratados pelo poder público e pela
especulação imobiliária. Na quinta e última seção as considerações
finais apresentam um panorama geral de como o direito à cidade vem sendo
negado a grandes grupos populacionais, encerrando com propostas para se
reverter este processo.
Para ler o artigo completo “Pessoas ou
Investimentos? A especulação imobiliária, as violências públicas e a
expulsão dos mais pobres das grandes metrópoles”, acesse a edição nº 13 da Revista eletrônica e-metropolis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário