PICICA: "Livro organizado por Eder Chiodetto reúne experimentos do artista que vão do preto e branco ao infravermelho"
Fotografia
Em suas fotos, Luiz Braga busca a eternidade
Livro organizado por Eder Chiodetto reúne experimentos do artista que vão do preto e branco ao infravermelho
Luiz Braga
O notável no fotógrafo Luiz Braga é que se
empenhe na dificuldade. Natural do Pará, com a luz a seu favor, fez em
início de carreira, nos anos 1970, sólidos estudos de personagens e
situações em preto e branco. Depois, ao abarcar o grande espectro das
cores, ele as quis primárias, contrastantes, como se desenhavam nos
bares a seu redor, na vida à beira-rio, nas habitações populares. A
noite mudou sua visão no momento em que, aconselhado por Chico
Albuquerque a não fazer carreira no Sul do País, quase poderia ter-se
acomodado na claridade das manhãs.
Luiz Braga – Fotografias, livro
organizado e prefaciado por Eder Chiodetto, mostra a virada artística
como fruto da experimentação e do acaso. Decidido a reproduzir a beleza
noturna sob os céus amazônicos, ele parou em 1986 na Praia do Chapéu
Virado, na Ilha do Mosqueiro, e clicou Babá Patchouli. A imagem,
que registrava a passagem de uma mulher com um menino, tinha um grande
desvio de cor e era ligeiramente fora de foco. Ele usara um cromo ASA
100 e trabalhara com tripé para abaixar a velocidade a ponto de
transformar o movimento do capim em pincelada. Quando revelou o filme,
percebeu que a luz do vapor de mercúrio deixara tudo esverdeado. Guardou
a foto “errada” e, seis meses depois, viu nela um caminho promissor.
Procurou pelas distorções. Reconheceu-se nas fotos no lusco-fusco do americano Joel Meyerowitz. E, nos anos 2000, as câmeras digitais favoreceram o início de sua pesquisa nightshot,
a captura digital em infravermelho. Luiz Braga era outro homem à
véspera de outro século. Nas suas fotos, os retratados não precisavam
mais ter os rostos nítidos. Desde então, mais do que parecessem sólidos,
era importante que passassem, intensos no instante. Cada vez menos seus
personagens olharam diretamente para o fotógrafo, eles se perderam além
do campo de visão, como no Vendedor de Amendoim, de 1990. E chegaram até mesmo a não ter olhos, como ocorreu ao Barqueiro Azul em Manaus, em 1992. A busca do artista pela eternidade é a maior descoberta que este livro faz.
Fonte: Carta Capital
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