dezembro 12, 2014

"Em suas fotos, Luiz Braga busca a eternidade", por Rosane Pavam

PICICA: "Livro organizado por Eder Chiodetto reúne experimentos do artista que vão do preto e branco ao infravermelho"

Fotografia

Em suas fotos, Luiz Braga busca a eternidade

Livro organizado por Eder Chiodetto reúne experimentos do artista que vão do preto e branco ao infravermelho 
Luiz Braga
Barqueiro Azul
Barqueiro Azul em Manaus, clicado por Braga em 1992, longe da cômoda claridade das manhãs

O notável no fotógrafo Luiz Braga é que se empenhe na dificuldade. Natural do Pará, com a luz a seu favor, fez em início de carreira, nos anos 1970, sólidos estudos de personagens e situações em preto e branco. Depois, ao abarcar o grande espectro das cores, ele as quis primárias, contrastantes, como se desenhavam nos bares a seu redor, na vida à beira-rio, nas habitações populares. A noite mudou sua visão no momento em que, aconselhado por Chico Albuquerque a não fazer carreira no Sul do País,  quase poderia ter-se acomodado na claridade das manhãs.

Luiz Braga – Fotografias, livro organizado e prefaciado por Eder Chiodetto, mostra a virada artística como fruto da experimentação e do acaso. Decidido a reproduzir a beleza noturna sob os céus amazônicos, ele parou em 1986 na Praia do Chapéu Virado, na Ilha do Mosqueiro, e clicou Babá Patchouli. A imagem, que registrava a passagem de uma mulher com um menino, tinha um grande desvio de cor e era ligeiramente fora de foco. Ele usara um cromo ASA 100 e trabalhara com tripé para abaixar a velocidade a ponto de transformar o movimento do capim em pincelada. Quando revelou o filme, percebeu que a luz do vapor de mercúrio deixara tudo esverdeado. Guardou a foto “errada” e, seis meses depois, viu nela um caminho promissor.

Procurou pelas distorções. Reconheceu-se nas fotos no lusco-fusco do americano Joel Meyerowitz. E, nos anos 2000, as câmeras digitais favoreceram o início de sua pesquisa nightshot, a captura digital em infravermelho. Luiz Braga era outro homem à véspera de outro século. Nas suas fotos, os retratados não precisavam mais ter os rostos nítidos. Desde então, mais do que parecessem sólidos, era importante que passassem, intensos no instante. Cada vez menos seus personagens olharam diretamente para o fotógrafo, eles se perderam além do campo de visão, como no Vendedor de Amendoim, de 1990. E chegaram até mesmo a não ter olhos, como ocorreu ao Barqueiro Azul em Manaus, em 1992. A busca do artista pela eternidade é a maior descoberta que este livro faz. 

Fonte: Carta Capital

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