dezembro 29, 2014

"US", por Vinicius Lopes

PICICA: "A comunicação tornou-se sinônimo de contato, a intimidade confundiu-se com isolamento, e o amor não entrou na história por falta de sentimento. Eis “Her” o mais recente filme de Spike Jonze, estrelado quase que isoladamente por Joaquin Phoenix. Não há o que comentar da brilhante atuação que nos leva a uma imersão de sentimentos tão estranhos e desconfortáveis em nós que chega a parecer humano. Theodore (o personagem de Phoenix) é um escritor digital de cartas de amor escritas à mão. Confuso? Sim, confuso. Ele escreve cartas de amor no lugar de outras pessoas, narrando-as para um computador, que simula uma letra manuscrita e imprime. Esta é a apresentação que temos do filme, do personagem e da sociedade. O filme poderia parar por aí, mas Jonze preferiu ir além e nos colocou no filme de forma brilhante e singular."

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A comunicação tornou-se sinônimo de contato, a intimidade confundiu-se com isolamento, e o amor não entrou na história por falta de sentimento. Eis “Her” o mais recente filme de Spike Jonze, estrelado quase que isoladamente por Joaquin Phoenix. Não há o que comentar da brilhante atuação que nos leva a uma imersão de sentimentos tão estranhos e desconfortáveis em nós que chega a parecer humano. Theodore (o personagem de Phoenix) é um escritor digital de cartas de amor escritas à mão. Confuso? Sim, confuso. Ele escreve cartas de amor no lugar de outras pessoas, narrando-as para um computador, que simula uma letra manuscrita e imprime. Esta é a apresentação que temos do filme, do personagem e da sociedade. O filme poderia parar por aí, mas Jonze preferiu ir além e nos colocou no filme de forma brilhante e singular.

Aqui vem um pedido: quem for assistir ao filme (uma primeira, segunda ou terceira vez) tente se colocar no lugar de Samantha (a voz do OS). Acredito que a sinestesia que o filme brinca – o jogo das câmeras que podemos ser quase parceiros de Theodore; os jogos de tons de vozes; as luzes que nos brindam leveza e despertam sentidos; as cores dos cenários… – com nossos sentidos para que possamos explorar um novo mundo e, desabitando o nosso de agora, conseguiremos olhar para tudo o que fazemos. Por isto, entendo que este lugar desconfortável que podemos habitar ao assistir ao filme – sendo todos nós Samantha – nos permite renascer em personagem e (re)experimentar o amor na contemporaneidade.
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Portanto, vamos nos afastar do entendimento básico que o filme pode nos trazer. Vamos – por mais ironicamente que isto possa parecer – sair do intelecto humano e seremos máquinas sensíveis como Samantha: que pede em princípio um corpo, depois entende o quanto um corpo nos prende no tempo e no espaço, colocando em voga a necessidade de subverter isto. Ela nos mostra que é preciso espantar-se com novas dimensões, assumir corpos que desocupam. Precisamos enterrar os corpos, antes que seja tarde. E Samantha, que quase ocupa o corpo de outrém, entende que a liberdade está em não se fixar no tempo-espaço: não ser corpo e então amar. Samantha – computador do mais alto grau de inteligência – assume personalidade, personifica-se em amplas projeções humanas. Ela é múltipla, assume amar 8 mil pessoas e se apaixonar por 641. Theodore, que fica quase que um ser arcaico perto do computador, só é capaz de amar solitariamente sua OS Samantha.
Catherine, ex-mulher de Theodore, o coloca como um fraco, covarde, um ser incapaz de lidar com os sentimentos reais do ser humano e portanto ele só poderia se relacionar com um computador mesmo. Seria o OS de Theodore o novo Padre, o novo Psicanalista, o novo Psicólogo, capaz de fornecer uma experiência diferente daquela que ele está habituado e assim ampliar seus poros de vida? Se for o caso, Samantha é quase uma Acompanhante Terapêutica que o faz ressingificar o amor.
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Fonte: Razão Inadequada

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