PICICA: "O diagnóstico que motiva a Frente de esquerda ou a Frente pela
esquerda é, no entanto, superficial. Há, de fato, certa desinibição da
direita no país. A razão fundamental da direitização é resultado direto e
em primeiro lugar, da aliança de classe que o PT assumiu sem vacilação
antes mesmo de conquistar o primeiro mandato presidencial. A tentativa
petista de hegemonizar o pacto de classe - considerada por muita gente
boa e não poucos oportunistas como um ato de sabedoria - era clara:
tirar dos tucanos o monopólio da autoridade sobre o Plano Real. Não há
dúvidas que o giro a direita foi exitoso. No entanto o custo não foi
apenas elevado, mas fatal. Na operação, o PT como partido de esquerda
fracassava historicamente de maneira definitiva! Os "dirigentes" do
partido ficaram embriagados com o resultado e esqueceram que a classe
dominante brasileira dispensa os partidos políticos para sua dominação
classista, caso contrário não teria lançado mão de uma ditadura de 21
anos! Esqueceram também que sua transformação em principal partido da
ordem cumpriria apenas uma função defensiva necessária: manter os
trabalhadores afastados do radicalismo político. A precoce adesão do PT a
ordem dominante, criou o SISTEMA PETUCANO, esta particular
aliança que opõem dois partidos na luta parlamentar enquanto os iguala
no horizonte histórico e programático. Esta crise não tem solução nos
termos do quadro partidário atual e impede o PT de ressurgir das cinzas,
negando-lhe a possibilidade converter-se no futuro em Ave Fênix."
À esquerda e a frente!
Há em curso uma tentativa de realizar uma "frente de esquerda" no
Brasil. A imprensa anuncia que a iniciativa foi de João Pedro Stédile,
do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). O álibi é sempre o
mesmo: enfrentar a onda conservadora em ascenso no parlamento e nas
ruas. Há também, outras defesas para a mesma proposta. A Esquerda
Marxista, por exemplo, conclama a todos para a adesão a uma frente que
"retome os princípios que estiveram na origem do PT, que ajude a abrir
uma saída para a atual situação, para organizarmos a continuidade da
luta pelas reivindicações, por um novo mundo, pelo socialismo". ("O que Lula pretende com as críticas ao governo e ao PT?")
Neste caso, devemos reconhecer que a empreitada não é pequena e os
poderes conferidos a tal "frente de esquerda" são enormes, virtudes
quase capazes de justificar nossa existência.
Em nota distribuída dia 26 de junho em resposta ao chamado do líder do
MST, o presidente nacional do PSOL, Luiz Araújo, defende uma frente pela
esquerda. No entanto, numa reunião realizada em São Paulo no dia 27 de
junho, o jornal paulista Folha de São Paulo anuncia que um grupo "com
dirigentes do PC do B, PT e PSOL" criaram um embrião de coalizão que se
chamará Grupo Brasil, destinado a criar e divulgar uma pauta de eventos
em defesa de direitos dos trabalhadores. O deputado federal Ivan Valente
teria enviado representante e Leo Lince, articulador do PSOL/RJ, teria
comparecido.
A dupla natureza da crise
O diagnóstico que motiva a Frente de esquerda ou a Frente pela
esquerda é, no entanto, superficial. Há, de fato, certa desinibição da
direita no país. A razão fundamental da direitização é resultado direto e
em primeiro lugar, da aliança de classe que o PT assumiu sem vacilação
antes mesmo de conquistar o primeiro mandato presidencial. A tentativa
petista de hegemonizar o pacto de classe - considerada por muita gente
boa e não poucos oportunistas como um ato de sabedoria - era clara:
tirar dos tucanos o monopólio da autoridade sobre o Plano Real. Não há
dúvidas que o giro a direita foi exitoso. No entanto o custo não foi
apenas elevado, mas fatal. Na operação, o PT como partido de esquerda
fracassava historicamente de maneira definitiva! Os "dirigentes" do
partido ficaram embriagados com o resultado e esqueceram que a classe
dominante brasileira dispensa os partidos políticos para sua dominação
classista, caso contrário não teria lançado mão de uma ditadura de 21
anos! Esqueceram também que sua transformação em principal partido da
ordem cumpriria apenas uma função defensiva necessária: manter os
trabalhadores afastados do radicalismo político. A precoce adesão do PT a
ordem dominante, criou o SISTEMA PETUCANO, esta particular
aliança que opõem dois partidos na luta parlamentar enquanto os iguala
no horizonte histórico e programático. Esta crise não tem solução nos
termos do quadro partidário atual e impede o PT de ressurgir das cinzas,
negando-lhe a possibilidade converter-se no futuro em Ave Fênix.
Na outra ponta, a crise do capitalismo dependente aparece como
crise da política econômica. Neste terreno, a breve primavera que
permitiu ao pacto de classe petucano e aos governos petistas conceder a
caridade cristã aos trabalhadores na forma de migalhas da política
social, chegou ao seu fim. A crise financeira do Estado
brasileiro é apresentada como crise fiscal e assumida pelo PT e seu
governo como tal. Agora há o inconveniente de que não se pode atender
aos dois senhores ao mesmo tempo, razão pela qual o petismo recruta um
obscuro funcionário do sistema financeiro para manejar a política
econômica em completo acordo com os tucanos. No fundo, com pequenos
percalços, o apoio parlamentar a Joaquim Levy é completo e funciona como
a única razão consistente para que os tucanos não assumam o "fora
Dilma" como bandeira política tática. Ainda assim, até mesmo o mais
desatento analista pode observar a persistência das denuncias de
corrupção envolvendo o PT e o PSDB (este em menor medida, é claro), seus
parlamentares, funcionários de estado, juízes de cortes, etc... A
denuncia permanente da corrupção - sempre limitada a alvos menos
importantes - é funcional a classe dominante e tanto o PT como o governo
se revelam impotentes diante da situação. A razão é clara: a disputa no
interior do Estado implica, necessariamente, em compromisso com a
permissividade da corrupção que, de fato, não respeita fronteiras
políticas e ideológicas. É prova disso a incapacidade do PT em oferecer
uma resposta dura ao tema da corrupção em seu último congresso,
realizado num hotel da Bahia. Uma semana após sua realização, o
ex-presidente Lula atacava o partido abertamente explicitando a
senilidade das "resoluções" estabelecidas na evento. Foi, sem dúvida, o
congresso mais miserável da historia do PT, incapaz de gerar qualquer
efeito prático na opinião pública, na política partidária, na luta
sindical ou nos movimentos sociais.
O sistema petucano não é capaz de renovação
O sistema político brasileiro - o petucanismo - é, portanto, impotente
para a renovação política que milhões de pessoas, mesmo difusamente,
desejam A reforma política em curso revela o tamanho da farsa parlamentar como resposta à crise e, de quebra, também exibe a incapacidade de uma saída parlamentar progressista
para a crescente e justificada insatisfação popular. No limite, o
parlamento sufragará o golpismo na modalidade e no momento que a classe
dominante julgar conveniente (se julgar necessário!).
O que pode fazer uma frente de esquerda neste contexto? Muito pouco!Na
prática, uma frente de esquerda teria que consolidar uma aliança entre
os partidos que figuram na oposição ao governo e nunca poderia
estar limitada ã luta contra o "ajuste fiscal" e contra o
"conservadorismo social e parlamentar"; ademais, uma frente de esquerda
poderia, nas circunstancias atuais, reunir exclusivamente o PSOL, o PSTU
e o PCB. E poderia admitir nas suas filas apenas militantes que não
mantém filiação nos partidos da "base aliada" do governo. A existência
de "parlamentares rebeldes" com filiação nos partidos da base governista
não deveriam ser admitida por razão elementar: é preciso reconquistar a
confiança popular nas organizações de esquerda sem qualquer vinculo com
o governo e o PT! Ao contrário do que muitos apressadamente diriam,
esta orientação não é sectária e muito menos irreal: é precisamente a
única possibilidade de acumular forças fora do arco conservador que tem
revelado grande capacidade para ganhar o centro político nas disputas
eleitorais. A direita brasileira tem logrado apoio considerável nas
classes populares precisamente porque estas se sentem e de fato estão
sem representação partidária. Na luta para não perder tudo, as classes
populares podem apenas contar - ainda assim de forma limitada - com seus
sindicatos que lentamente despertam da modorra lulista.
Há muito pouco a fazer no terreno parlamentar neste momento histórico da
luta de classes. É preciso acumular força nas organizações populares e
sindicais contra o governo e sua base aliada sem vacilação ou
inibição de qualquer ordem. A disputa atual é para identificar quem e
quais organizações e em qual medida, existe uma oposição de esquerda ao
governo. A oposição mais visível ao governo é obviamente de direita. A
tarefa tática imediata de todos os setores identificados com a esquerda
brasileira é construir sólida e sistemática oposição de esquerda. É
neste momento em que pode ser necessário uma frente à esquerda, amparada
tao somente nas lutas sociais e na inexorável combatividade sindical em
defesa dos salários num ano em que a inflação será novamente de dois
dígitos! Neste contexto, no momento nada há que resgatar da origem
petista ou ainda seguir alimentando ilusões com a disputa no interior do
estado na elaboração de políticas sociais quando a crise arrastou seu
dinamismo para uma solução mais radical do ponto de vista da classe
dominante. A adesão a qualquer iniciativa de frente política que conte
com a presença dos partidos da base aliada ou mesmo um namorico com
lideranças como Lula representa, nas condições atuais, muito mais do que
um erro, representará rasa estupidez. Não será senão a materialização
de uma velha e surrada ideologia petista - segundo a qual o governo
estaria em disputa - criada exclusivamente para justificar a
domesticação do PT como partido submetido a razão de estado que o levou
ao fracasso histórico sem remissão. O governo de Dilma, assim como os
dois mandatos de Lula, jamais esteve em disputa!
O governo Dilma e a ideologia do ajuste passageiro
Todas as últimas medidas anunciadas pela presidente Dilma reforçam a
economia exportadora, a estrutura fundiária baseada no latifúndio,
garantem a continuidade do mega processo de endividamento estatal, os
lucros extraordinários para os rentistas de distintas extração
(comerciantes, industriais, banqueiros, etc) e avançam na direção de
aprofundar a superexploração da força de trabalho como fundamento da
dependência que finalmente nos caracteriza como país. Não somente
anunciam novas etapas do lento e relativamente silencioso processo de
privatização como também já se costura nos bastidores do sistema
petucano a retirada de novos direitos quando entrar em debate a
"necessidade" de uma nova e sempre interminável "reforma trabalhista" e
novo assalto ao estado com a reforma tributária...
A ideologia do governo Dilma se sustenta em duas ilusões: a primeira, é
que a crise do Estado brasileiro é fiscal e, jamais financeira; a
segunda, que o ajuste produzirá no curto prazo as condições para um novo
ciclo virtuoso do crescimento econômico no longo prazo que devolverá o
emprego e a renda para os trabalhadores. É pura ideologia para consumo
da consciência ingenua dos trabalhadores. No entanto, a análise fria
indica que a crise financeira do estado não terá solução alguma sem a auditoria da dívida
e a anulação parcial ou total que inexoravelmente implicará, tamanha a
corrupção e ilegalidade que sua contração e as sucessivas re-negociações
engendrou.
A ambiguidade é sempre fatal em política e especialmente mortal em
épocas de crise. A esquerda somente cumprirá seu papel se contribuir de
maneira mais intensa e acelerada para a redefinição de um novo
radicalismo político, mais urgente e necessário e viável agora, no
momento em que precisamente as antigas ilusões sobre "o modo petista de
governar" caiu em total e definitivo descrédito.
A ambiguidade política mata
A crise é, portanto, do governo. E o governo atual não tem recuperação.
No contexto atual, caminha para derrota eleitoral inexorável nas
próximas eleições presidenciais ou sofrerá eventual substituição no
âmbito parlamentar, motivado por sucessivos escândalos de corrupção que
são próprios do estado burgues e incapazes de encontrar no PT e sua
"base aliada" resposta adequada. Mas é também uma crise do sistema
político, pois amplos setores sociais não acreditam que o governo, o
parlamento, os tribunais possam superar o descrédito produzido pela
politização ingenua que emergiu das últimas eleições presidenciais. A
sociedade em geral e as classes populares em particular, não possuem
neste momento referencias críticas, tal como no passado. A
posição da esquerda ou das forças que pretendem ocupar este espaço,
dependerá tão somente de sua capacidade em recusar pactos que pretendam
unicamente renovar a credibilidade de um governo que já não pode
carregar seu próprio peso. Ora, uma frente de esquerda que mantenha a
ambiguidade em relação ao Plano Real e reproduza ilusões sobre o atual
sistema política, jogará as forças que restam na esquerda no terreno da
ambiguidade. Uma frente de esquerda que não marque clara oposição ao
atual governo - e não somente ao "ajuste" como se, de fato, as medidas
fossem do ministro-banqueiro e não da presidente - será incapaz de
enfrentar a direitização (real e potencial). Uma frente de esquerda que
não delimite sua clara oposição ao governo e sua base aliada produzirá
outro fenômeno nada desprezível: em tempos de crise, a ambiguidade mata!
Fonte: O Real Que Não Se Vê
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