PICICA: "Alternativas políticas não se constroem
“a frio”, apenas porque a conjuntura necessita delas. Se constroem no
calor de mobilizações amplas. Assim foi o Podemos na Espanha, que partiu
da mobilização de centenas de milhares nas ruas, os “indignados”.
Assim, em outras circunstâncias, foi o MAS na Bolívia, alternativa
política que nasce das heróicas mobilizações dos mineiros, dos
cocaleiros e das mobilizações territoriais como a guerra do gás.
Assim, aliás, foi o Partido dos
Trabalhadores no Brasil, na década de 1980. Seu impulso foram as grandes
greves e o fortalecimento da luta popular naquele período, que produziu
importantes instrumentos de luta dos trabalhadores.
A frente que precisamos hoje é social.
Evidentemente deve construir um campo político, com intelectuais e
partidos de esquerda. Mas seu foco deve ser a construção de amplas
mobilizações populares."
Que Frente queremos?
Por Guilherme Boulos
A ofensiva conservadora, a crise do
governo petista com seu ajuste fiscal e a desarticulação da esquerda
brasileira têm colocado em vários espaços o debate da construção de uma
frente. Que é fundamental unificar a esquerda e retomar a mobilização
popular ninguém duvida. Agora qual frente queremos?
Recentemente, o ex-presidente do PSB
Roberto Amaral defendeu em artigo a criação de uma frente política e
social para defender um programa democrático, de desenvolvimento
econômico e soberania nacional.
Seu artigo não menciona o ajuste fiscal
antipopular levado a cabo pelo governo Dilma, nem tece qualquer crítica
aos governos petistas nos últimos 12 anos. Se queremos uma frente para
unificar a esquerda, esses pontos não podem ser omitidos.
Frente para defender o governo, em nome
da ofensiva da direita, ou para começar a articular um projeto eleitoral
para 2018 não é o que a esquerda brasileira precisa. Uma frente como
essa não teria nenhuma capacidade de dialogar com a insatisfação social
nem oferecer saídas à esquerda para a crise atual.
Precisamos sim de uma frente que unifique
o campo de esquerda no Brasil. Mas de uma frente focada nos movimentos
sociais, não em manifestos e declarações de intenção, sem capacidade de
mobilização popular. Nosso principal desafio hoje é reconstruir um ciclo
de ascenso de luta de massas no país, capaz de alterar a relação de
forças.
Alternativas políticas não se constroem
“a frio”, apenas porque a conjuntura necessita delas. Se constroem no
calor de mobilizações amplas. Assim foi o Podemos na Espanha, que partiu
da mobilização de centenas de milhares nas ruas, os “indignados”.
Assim, em outras circunstâncias, foi o MAS na Bolívia, alternativa
política que nasce das heróicas mobilizações dos mineiros, dos
cocaleiros e das mobilizações territoriais como a guerra do gás.
Assim, aliás, foi o Partido dos
Trabalhadores no Brasil, na década de 1980. Seu impulso foram as grandes
greves e o fortalecimento da luta popular naquele período, que produziu
importantes instrumentos de luta dos trabalhadores.
A frente que precisamos hoje é social.
Evidentemente deve construir um campo político, com intelectuais e
partidos de esquerda. Mas seu foco deve ser a construção de amplas
mobilizações populares.
Além disso, essa frente não pode estar
atrelada ao governo. Ao contrário, deve buscar construir saídas pela
esquerda à crise do governo petista, sem temer criticá-lo em seus rumos.
Criticá-lo pela retomada de uma política econômica neoliberal e pela
falta de disposição política em enfrentar as reformas populares tão
necessárias ao Brasil. Com a mesma decisão com que deve enfrentar o
avanço das pautas conservadoras no Congresso e na sociedade.
Na construção de uma frente, os
movimentos sociais brasileiros devem se precaver de dois erros. O
primeiro é, em nome da ofensiva da direita, abster-se de enfrentar as
políticas deste governo. O outro é, em nome do enfrentamento ao governo,
subestimar a ofensiva da direita.
Uma frente ampla e unitária da esquerda
deve ter a capacidade de responder a estes dois grandes desafios,
focando na retomada da mobilização social.
Fonte: BRASIL EM 5
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