dezembro 11, 2009

Fala que o Lelê discute

Charge do Amarildo
Postada em
"Quem tem medo do Lula"
[ Amálgama ]

Fala que eu discuto

por Lelê Teles – Preocupa-me a forma como nós, blogueiros de esquerda, estamos reverberando algumas bobagens que saem na dita grande imprensa. (”Grande” porque é assim que ela é chamada. A Folha (arrgh) vende exíguos 300 mil exemplares em um país de quase 200 milhões de pessoas. É um periódico de bairro. A Igreja Universal, que a Renata Loprette terá que deixar de bater, responde aos ataques da dita Folha com 3.600.000 exemplares – três milhões e seiscentos mil exemplares! A Folha Universal influencia mais que a Folha do universo de São Paulo. É por isso que o Zé Serra vai perder ou vai correr.)

CAETANEAR
Caetano Veloso, como sabemos, chamou lula de analfabeto. Isso na mesma semana em que morreu o gigante Claude Levy-Strauss, que Caetano disse que leu, mas se tivesse entendido a obra de Strauss jamais teria cometido esse gesto de ódio e preconceito contra o presidente. Acho que Caetano leu no máximo o Tristes Trópicos. Mas não foi só Levy-Strauss que Caetano não entendeu. Dona Canô deve ter dado umas chineladas no filho encanecido e rebelde e Caê tentou desdizer o que disse, e ficou pior. Em Portugal, o artista falou à imprensa. Caetano, que não é sociolinguista, só fala de gramática normativa, que é, como todos sabemos, um instrumento de normatização e exclusão. Disse não imaginar que alguém possa ser eleito na França, Portugal e Argentina sem saber concordar artigos com nomes. Caetano leu somente o Preconceito Linguístico de Marcos Bagno, não entendeu quase nada e se acha no direito de falar de linguística e sociolinguística, é uma pena. Ainda em Portugal, e ainda lambendo as chineladas recebidas por Dona Canô, Caê disse que não foi bem assim, que ele chamou Lula de analfabeto mas não chamou Lula de analfabeto; ele tá confuso, ele é confuso. Todos nós conhecemos bem o alfabeto político de Caê: ele votou em FHC, beijava a mão de ACM, votava com o PSDB e agora é PV. E Caetano gosta mesmo é do Mangabeira Unger, aquele cara que fala engraçado.

ARREDA, ARRUDA
Por que Arruda foi tão longe ao ponto de chefiar uma quadrilha de amadores? Porque tinha a certeza da impunidade como aliada. E por que tinha essa certeza? Porque subornavada Deus e o mundo, como se diz. E também porque imaginava que a população o perdoaria, como o fez outrora. Ao cometer o crime da violção do painel do Senado, Arruda renunciou e foi aplaudido em uma partida de futebol no estádio Mané Garrincha, onde deu uma volta olímpica, sob os aplausos das duas torcidas (Gama e Flamengo). A partir desse dia, sentiu que tudo podia. Mais tarde foi premiado com a eleição para governador do DF. Acredito que as imagens não dizem tudo. Quero ouvir o que a ex-esposa tem a dizer. Mariane Vicentini pode ser a Nicéia Pitta de Arruda. Aliás, Arruda é um pouco aprendiz de Pitta. É aquele negócio: se até o inepto Celso pita eu também quero pitar. E o careca não arreda o pé. Já mandou avisar para os vestais do DEM que vai jogar merda no ventilador se eles radicalizarem, eles desradicalizaram imediatamente. Arruda é quase um cadáver político, mas vai morrer atirando.

BOPE DÁ PORRADA NO DIA CONTRA A CORRUPÇÃO E A IMPUNIDADE
Em Brasília, sempre acusada de ser fria e de que as pessoas não vão às ruas cobrarem dos políticos, houve uma vitoriosa ocupação da reitoria da universidade (UnB) em 2008, culminando com o afastamento do reitor Timothy Mulholland, defenestrado ao ser pego comprando lixeiras para guardar luxos. Na semana passada os jovens estudantes e trabalhadores ocuparam a CLDF pedindo a cabeça do careca. Arruda soltou os cachorros e os cavalos contra os estudantes, mandou dar tiros e pauladas na população. Em Brasília sempre foi assim, a polícia reprime as manifestações com desproporcional brutalidade. Em 98, quando Cristovam era governador do DF, a polícia entrou na então invasão da Estrutural derrubando barracos, dando tiros, cacetetadas, soltando bombas e açoitando trabalhadores; na ocasião houve mortes e ocultação de cadáveres. Em 99 a Polícia de Roriz matou um trabalhador com tiro de escopeta em plena manifestação. No carnaval de 2008 vi o mesmo BOPE dar porrada, tiros, soltar bombas e borrifar gás de pimenta no rosto de foliões. A formação das cidades-satélites tem também um histórico de remoção de favelas, que “emporcalhavam” o cartão-postal, a cidade-presépio. Os pobres foram arrastados para fora da cidade, há um documentário do nosso Vladimir Carvalho (Conterrâneos Velhos de Guerra) que conta bem essa história. Os Esquadrões da Morte também fazem parte da história da polícia candanga. Não é a população do DF que é leniente, é que a polícia candanga é assassina e truculenta e sufoca qualquer movimento de trabalhadores e estudantes.

Claro está, como dizia o mestre Manoel de Barros, o escuro é que acende o vagalume.

Leia também:

Terremoto no Planalto Central


A Folha recolheu as pedras que tinha nas mãos


Fados, de Carlos Saura
Posted by Picasa

Nenhum comentário: