agosto 02, 2010

São Paulo cria carteirinha de esquizofrênico

SP cria carteirinha de esquizofrênico

Para doentes e médicos, documento feito por farmácia estadual de Santos gera preconceito e constrangimento

Carteirinha foi criada por entidade privada que dirige farmácia; Secretaria de Estado da Saúde pediu mudança


RICARDO WESTIN
 
DE SÃO PAULO

Desde abril, para pegar seus remédios, pacientes da região de Santos (litoral de SP) estão obrigados a apresentar uma carteirinha que denuncia a doença em letras garrafais: esquizofrenia.


O documento de identificação deixou doentes indignados e médicos perplexos.


Para eles, a carteirinha constrange por expor a doença, além de estimular o preconceito -a esquizofrenia ainda é associada à loucura.
 

"É como se existisse uma tatuagem com o diagnóstico na minha testa e as pessoas dissessem: "Lá vai o esquizofrênico". É uma carteirinha de louco", diz o escritor Edison de Castro, 48, que descobriu ter a doença há 20 anos.

Existem leis nacionais e normas de ética médica que proíbem que os diagnósticos sejam tornados públicos.


Nem o farmacêutico precisa saber qual é a doença que está sendo tratada.


A esquizofrenia é um transtorno mental que, não tratado, desencadeia delírios, alucinações e agressividade. A maioria dos pacientes, porém, consegue mantê-la sob controle com remédios.
Estima-se que, de cada cem pessoas, uma sofra de esquizofrenia -por volta de 1,9 milhão de brasileiros.


"Na maior parte dos casos, você não consegue dizer pela aparência se a pessoa é ou não portadora de esquizofrenia", explica o psiquiatra Jaime Hallak, da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto. "É um erro exigir que ela exponha seu diagnóstico numa carteirinha. É estigmatizante."


A farmácia estadual de Santos fornece remédios de alto custo gratuitamente a doentes de nove cidades do litoral paulista.


Até abril, bastava ao paciente apresentar o Cartão do SUS para que recebesse seus medicamentos. Naquele mês, a carteirinha foi imposta pela Cruzada Bandeirante São Camilo, a OS (organização social) que administra essa farmácia da Secretaria de Estado da Saúde.

SUBSTITUIÇÃO

 
Procurada pela Folha, a Cruzada Bandeirante São Camilo não se manifestou. A Secretaria da Saúde disse que só tomou conhecimento das carteirinhas no mês passado e que discorda dela.


De acordo com a secretaria, os documentos serão substituídos por outros sem o nome da doença.


O deputado Fausto Figueira (PT), que preside a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de SP, pediu providências contra a carteirinha ao Ministério Público.


Fonte: Folha de S. Paulo

Nota do blog: Um mês depois da informação estar circulando na rede virtual de luta antimanicomial (inclusive com postagem neste blog), agora é a vez da Folha de S. Paulo dar visibilidade a um ato de insanidade institucional: a criação de uma carteirinha de esquizofrênico. Antes tarde...

Nenhum comentário: