novembro 05, 2010

Tombamento do Encontro das Águas: vitória do movimento popular

PICICA: No momento em que um movimento popular derrota uma cadeia de interesses insensível ao impacto ambiental provocado pela construção de um terminal portuário no Encontro das Águas, saiba o que é o SOS Encontro das Águas.

Entenda o que é o SOS Encontro das Águas

A orla do rio Negro, em sua margem esquerda, à leste da cidade de Manaus, vem sendo degradada a olhos vistos. A expansão do Polo Industrial de Manaus, aliada à ocupação desordenada do solo, à falta de planejamento urbano e à omissão do poder legislativo é o exemplo mais bem acabado de decisões precipitadas que acabam por aprofundar a desfiguração da cidade, gerando crises socioambientais de monta. Os moradores desse território são tratados como cidadãos de 5ª. categoria. Em nenhum momento são ouvidos, a propósito de qualquer projeto. É como se eles não tivessem representação comunitária. Cansados de serem desprezados, e conscientes do desastre anunciado com a construção de um terminal portuário nas imediações de um dos mais espetaculares cenários naturais que encanta a humanidade, justamente nas proximidades do extenso lajedo onde desovam os jaraquis – peixe que compõe a mesa dos manauaras –, eles foram à luta.

Na luta contra a degradação ambiental e os problemas gerados aos seres vivos que ali habitam, destaque-se o papel da Igreja Católica, sobretudo a iniciativa do padre Orlando Barbosa. Seu papel foi fundamental na mobilização comunitária, até que sob pressão dos interesses empresariais, depois de sofrer ameaça de morte, foi obrigado a sair de cena por decisão do arcebispo de Manaus.

A Universidade Federal do Amazonas (UFAM), com o Núcleo de Cultura Política do Amazonas - NCPAM, através de um projeto de extensão, tendo à frente o professor Ademir Ramos, foi outro ator relevante na luta contra a degradação ambiental, ao por em cena às agressões sofridas pelo lago do Aleixo, que recebe afluente tóxico da empresa Sovel, o que compromete a cadeia alimentar da região. O depósito do entulho das madeireiras implantadas na região no fundo do lado, também foi objeto de denúncia. Entretanto, as ações não conseguiram inibir a poluição provocada pela referida empresa. Submetida a multas irrisórias, até hoje não há tratamento adequando dos resíduos despejados nas águas do lago. Em compensação, obtiveram um ganho parcial com a limpeza de parte das madeiras abandonadas no leito do lago.

Foi neste cenário que, em novembro de 2008, entrou em cena a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Em reunião provocada pelo Pro-Reitor de Extensão da Universidade (gestão da reitora Marilene Corrêa), por acaso o autor destas mal traçadas, que criara a Associação dos Amigos de Manaus – AMANA no início dos anos 1990, depois que o então prefeito de Manaus propôs a construção de um camelódromo no coração da cidade, no entorno da Catedral de N. S. da Conceição. Naquela época o saudoso Senador Jefferson Peres, então vereador, presidente da Comissão de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural de Manaus, bradava sozinho na Câmara dos Vereadores em defesa da cidade.

O encontro dos segmentos da sociedade civil organizada gerou a criação do movimento socioambiental SOS ENCONTRO DAS ÁGUAS. De lá para cá, foram se agregando intelectuais, professores, artistas, parlamentares, sindicalistas e diversos setores dos movimentos sociais de Manaus. 

O tombamento do Encontro das Águas, na tarde desta quinta-feira, é uma vitória da persistência e do renascimento da luta pela cidadania plena na terra de Ajuricaba. Agora temos um instrumento de regulação para que não haja violação socioambiental de qualquer espécie.

Queremos destacar, de modo muito especial, o desempenho de uma das mais estimadas das nossas militantes, pela força de suas convicções, pelo trabalho incansável de produção de argumentos científicos na defesa do mais emblemático dos nossos patrimônios naturais e culturais: a bióloga Elisa Wandelli. Valeu, companheira!   

Destacamos, também, a briosa comunidade do bairro Colônia Antônio Aleixo. Zelosa de sua cidadania, ela é o sal do movimento socioambiental que age na atualidade. Oxalá suas ações se estendam por toda a cidade, que vem sendo alvo de inúmeras agressões, como o novo camelódromo proposto pela prefeitura (mais uma vez, Amazonino Mendes insistindo em projetos que entram em desacordo com a arquitetura da cidade e agridem a paisagem), o monotrilho proposto pelo governo do estado (um verdadeiro atentado ao centro histórico da cidade), para ficar nos exemplos mais preocupantes.

A luta continua.

Em tempo: Vale a pena ler um dos textos de Elisa Wandelli.

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