maio 08, 2011

"Osama, odeio-te meu amor", por Bruno Cava

PICICA: "(...)a única diferença de Obama para Pinochet, Lanusse ou Médici: os últimos não ganharam o Nobel da Paz — nem teriam a cara-de-pau de concorrer ao prêmio." Em tempo: Leia, também, "Los terroristas están en Manhattan" e "El terrorismo y el terrorismo de Estado".
Osama, odeio-te meu amor

Barack Obama agiu igualzinho às ditaduras da América Latina: torturou, matou, sumiu com o corpo e posou de patriota. Torturou psicológica, física e moralmente presos políticos em Guantánamo. Assassinou opositores políticos, sem qualquer processo legal, invocando um senso de justiça distorcido. Calcinou e desovou em alto mar o corpo de uma de suas vítimas. Negou o direito ao supultamento, tal qual Creonte. E usou do terrorismo de estado para salvar a sua popularidade mixuruca, na mais enojante patriotada de seu governo. O bom e velho we are the greatest… (preencha como quiser).

Nesse episódio, a única diferença de Obama para Pinochet, Lanusse ou Médici: os últimos não ganharam o Nobel da Paz — nem teriam a cara-de-pau de concorrer ao prêmio.

Bin Laden não tinha a menor importância. Filhote dos EUA no Oriente Médio, foi armado, treinado e propagandeado pelas potências ocidentais. Com a Aliança Islâmica do Mujahedin Afegão, lutou com Rambo contra o socialismo real da URSS, quando era chamado pela imprensa ocidental de “guerreiro da liberdade”.

O homicídio de Osama lança cortina de fumaça sobre o verdadeiro processo revolucionário: os levantes populares árabes. Aliás, foi a revolução árabe que propiciou o contexto para que o jihadista não tivesse mais importância. Os EUA só fizeram o papel de jagunço.

Espremido entre a direita do Tea Party e as ocupações de esquerda em Wisconsin, atolado na lama sangrenta dos desastres políticos e militares no Iraque e no Afeganistão, o presidente Obama cumpriu um arco completo. De uma campanha 2.0 tão promissora, culminou em seu avesso: no discurso do senhor da guerra. Parece ser o único discurso que lhe sobrou, num país cuja vida partidária se divide entre republicanos moderados (aka democratas) e republicanos fanáticos. Osama foi seu deus ex machina.

O império reafirma o estado de exceção. Reitera o poder soberano, alicerce de uma ordem global excludente e antidemocrática. Como tentaram eximir-se pelo crime as autoridades do Paquistão, em nota oficial: “This operation was conducted by the US forces in accordance with declared US policy that Osama bin Ladin will be eliminated in a direct action by the US forces, wherever found in the world.” Eis o recado imperial: posso invadir onde eu quiser, quando eu quiser, e exterminar quem eu quiser. Temai.

2011 começou um ano revolucionário mas parece que pode degenerar mesmo como o ano do golpismo: o fracasso definitivo do que Obama exprimia, o movimento Tea Party, a guerra “humanitária” na Líbia, a extradição de Julian Assange, a invasão saudita no Bahrein, o controle da internet, a ministra Ana de Hollanda e os abusos de Belomonte.

Estamos no ano dos Frankensteins.

Fonte: Quadrado dos Loucos

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