Charge de Carlos Latuff
PICICA: "As forças políticas conservadoras têm agido para impor ao governo federal a sua agenda (delas), derrotada nas eleições de 2010. Infelizmente, parece que ao menos em parte elas têm conseguido. A privatização de alguns dos principais aeroportos do país é o exemplo mais recente, galhardamente comemorado pela mídia comercial. O recuo no projeto da banda-larga e a decisão de ignorar as medidas aprovadas pela Conferência Nacional de Comunicação (convocada pelo próprio governo e realizada em 2009) são outro exemplo." Em tempo: Se o capital investido vai bem, obrigado!, o capital político do PT vem sendo dilapidado a olhos vistos. Leia a advertência do leitor do Rodrigo Vianna, Luiz Claudio Pontes: "A coisa anda tão feia para a esquerda brasileira que até a direita está fazendo um discurso mais voltado para o social. Sei que parece piada, mas aqui no Rio, César Maia, político de ultra-direita e seu filho Rodrigo, criticam diuturnamente as privatizações da saúde e educação feitas pelo prefeito Eduardo Paes e pelo governador Cabral, aliados da Dilma, Ou seja, a direita malandramente cooptou o discurso das esquerdas daqui, na tentativa de obter o voto popular nas próximas eleições para prefeito. Fico preocupado com os rumos escolhidos pelo governo federal e confesso-me frustrado com o atual quadro político brasileiro. Como fluminense que sou, vejo meu estado – o que mais deu vitórias ao PT – sendo vilipendiado todos os dias. Os transportes daqui (barcas, metrô, trens, bondes) foram destruídos e entregues á iniciativa privada. O mesmo está acontecendo com saúde e educação que, rapidamente estão sendo entregues às OSs ou a fundações ligadas aos grandes grupos da mídia. Só nesse anos milhares de professores das redes estadual e municipal do RJ podem perder seus empregos, pois a fundação Roberto Marinho está entupindo as escolas fluminenses com o telecurso da Globo, com intuito de mascarar os índices do IDEB que apontam o RJ como um dos estados de pior educação do país. / Se as coisa continuarem do jeito como estão, calculo que em pouco tempo, o PT estará numa encruzilhada parecida com a dos partidos de esquerda europeus e do chileno, que viram seus planos irem por água abaixo por abandonarem suas bandeiras. A perda de poder político do PT será inexorável nos anos que virão, caso o partido não ponha em prática seu programa e suas promessas de campanha, o que até o momento não tem acontecido.
Tensões no horizonte
Nada a ver com a profecia de final dos tempos, mas é óbvio que 2012 será um ano dos mais turbulentos no Brasil e no mundo. Aqui, nem tanto por causa da crise econômica, embora a América Latina eventualmente venha a sofrer os seus reflexos. O tempero da crise política brasileira tem mais a ver com o descompasso entre o governo federal e os movimentos sociais. Ou, se quisermos ver por outro prisma, existem tensões crescentes no horizonte imediato, no Brasil, que se relacionam ao modo desigual de distribuição das riquezas geradas pelo crescimento econômico.
Seguindo na contramão da crise mundial, nosso país vem crescendo (ainda que em taxas mais modestas em 2011) e produzindo índices espantosos de acumulação de capital, a exemplo dos demais Brics. Temos “nossos” bilionários, “nossos” bancos alcançam lucro recorde, “nossas” multinacionais fincam os pés em diversos países e os preparativos para “nossa” Copa do Mundo se aceleram… A ação governamental têm sido determinante para se alcançar tal sucesso, mediante políticas de indução, financiamento estatal etc.
Contudo, ainda que tenha havido um substancial acréscimo no número de empregos gerados, inclusive com carteira de trabalho assinada, e evidente aumento do poder aquisitivo de uma parte da população, o apartheid social e econômico tem se aprofundado. Exemplo disso é o massacre do Pinheirinho, em São José dos Campos. Alguém notou que as pessoas expulsas perderam eletrodomésticos e outros bens que talvez fosse raro encontrar em favelas anos atrás; mas elas não tiveram respeitado seu direito à moradia.
As forças políticas conservadoras têm agido para impor ao governo federal a sua agenda (delas), derrotada nas eleições de 2010. Infelizmente, parece que ao menos em parte elas têm conseguido. A privatização de alguns dos principais aeroportos do país é o exemplo mais recente, galhardamente comemorado pela mídia comercial. O recuo no projeto da banda-larga e a decisão de ignorar as medidas aprovadas pela Conferência Nacional de Comunicação (convocada pelo próprio governo e realizada em 2009) são outro exemplo.
O episódio do Pinheirinho, além de delinear claramente a fisionomia política fascista do governo Alckmin, reforçou a sensação de forte retrocesso no respeito aos direitos humanos. O governo federal propôs uma solução negociada, democrática, mas não comprou a briga como deveria; não travou publicamente a disputa político-ideológica contra a “solução” tucana.
Por onde quer que haja obras destinadas à Copa se encontra um rastro de remoções forçadas de moradores. Os guarani-kaiowás estão sendo vítimas de extermínio gradual, sem que se note a existência da Funai. Na Bahia os tupinambás foram removidos de suas terras ancestrais por uma operação da Polícia Federal. São inúmeras as nações indígenas ameaçadas, inclusive pela construção de usinas na Amazônia. Sucedem-se os assassinatos de ambientalistas e de líderes camponeses, sem reação digna de nota por parte do governo federal.
Maior central sindical do país, a CUT vem subindo o tom. No protesto contra a privatização dos aeroportos, que a Central realizou no dia 6, em frente à Bolsa de Valores, uma das palavras de ordem foi “Dilma, eu não me engano, privatizar é coisa de tucano”… Será mesmo um ano de fortes emoções.
*Pedro Pomar é jornalista, editor da Revista Adusp e doutor em ciências da comunicação.
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Fonte: Escrevinhador
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