PICICA: "Pior ainda, sugerir que verbas públicas que financiam blogs sejam cortadas porque eles "atacam as instituições" como Gilmar sugeriu - isto é, tenham postado algo que lhe desagradou - é profundamente preocupante. Ora essa, se um órgão de mídia recebe dinheiro público é preocupante que ele não critique o Estado, mas não o contrário. Aliás, grande parte da mídia brasileira, seja a tradicional ou virtual, vive sim de dinheiro público."
Gilmar Mendes, Lula e o Estado da Arte da Política Brasileira
Gilmar Mendes -- (Fábio Rodrigues) |
O debate político brasileiro saiu da monotonia nos últimos dias com as declarações bombásticas de Gilmar Mendes:
primeiro, ele acusou, sem provas e com um testemunho em sentido
contrário, o ex-presidente Lula de lhe pressionar para adiar o
julgamento do mensalão - sendo que Gilmar não é mais presidente
daquele tribunal, não é relator ou revisor do processo e, sequer, foi
indicado pelo ex-presidente, o que tornaria mais estranho ainda o fato
de Lula se expôr dessa maneira com ele.
Depois do rechaço vindo sobretudo da mídia digital, agora Gilmar diz que vai entrar com uma ação para que sejam cortadas verbas públicas para blogs que ataquem as "instituições" (ou seja, ele mesmo?).
A posição reativa de de Mendes vem na esteira das denúncias que ele
mesmo fez uso de aviões graça a ajuda do senador Demóstenes Torres,
implicado no escândalo Cachoeira, fato que ele mesmo confirma e faz a
conversa respingar em si.
Mendes
fez um mau lance político - e foi um lance de política partidária
bastante óbvio e frágil, no qual ele (novamente) criou uma crise
institucional via STF, e, ainda, o colocou em rota de colisão, palavra
contra palavra, com um popularíssimo ex-presidente que acabou de se
recuperar de um câncer; Gilmar não tem prova alguma do que diz, pior
ainda, tem o testemunho do ex-ministro Jobim, alguém insuspeito de
esquerdismos e seu amigo, o que talvez o tenha feito recuar do que
disse.
Se
é provável que petistas tenham interesse em adiar o dito julgamento, é
fato que a oposição tem interesse em fazê-lo acontecer pouco antes ou
durante as eleições municipais para explora-lo politicamente, portanto,
não é papel de um ministro do STF acender a fogueira da partidarização
que já é inerente ao caso - e que só o torna mais complicado. Quem acusa
precisa provar o que diz, porque o dito pelo não dito, é fato que
existem interesses para adiar e para antecipar o julgamento, logo, uma
fala desavisada pode não ser nada inocente.
Aliás,
a mesmíssima oposição que rufa, oportunamente, tambores moralistas
neste caso é aquela pouco disposta a fazer uma reforma política e, mais
ainda, pouquíssimo disposta em debater o legado e a problemática dos
anos 90, quando estava no poder, seja em episódios como o das
privatizações ou da emenda da reeleição. Fazer o jogo, indiretamente ou
nem tanto, dessas pretensas vestais da moral não é nem de longe
colaborar para nada aqui.
Pior
ainda, sugerir que verbas públicas que financiam blogs sejam cortadas
porque eles "atacam as instituições" como Gilmar sugeriu - isto é,
tenham postado algo que lhe desagradou - é profundamente preocupante.
Ora essa, se um órgão de mídia recebe dinheiro público é preocupante que
ele não critique o Estado, mas não o contrário. Aliás, grande parte da
mídia brasileira, seja a tradicional ou virtual, vive sim de dinheiro
público.
Experimentem
pensar na possibilidade de corte das verbas de publicidade estatal para
a mídia e ver quem sobreviveria. Debater a democratização do
financiamento da mídia virtual e, p.ex., uma renda que garanta às
pessoas, e não apenas a alguns, meios econômicos para se dedicar à
difusão de informação, conhecimento e cultura via Internet é salutar,
mas sugerir corte de verbas apenas de quem escreveu algo que você não
gostou é puro oportunismo.
Gilmar
torna-se, assim, a voz rouca e cada vez mais isolada da oposição
conservadora ao governo petista, algo incompatível com sua posição de
ministro do Supremo e ainda acaba pesando contra a liberdade de
expressão na rede, o que é profundamente problemático. Se a oposição
depende disso para sobreviver, ela tem problemas visivelmente graves.
Ainda mais com Lula ressurgindo no debate público unindo ao seu carisma a
aprovação tremenda do seu governo e a sua recuperação fenomenal como se
viu nos últimos dias.
Fonte: O Descurvo
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