PICICA: "Podemos e vamos usar os dois enfoques, conforme for, ao longo desta campanha. Primeiro, que sem entrar frontalmente no mérito do nosso sistema político - ou mesmo da nossa forma de pensar a política -, é fato que dentro de seu jeito de funcionar padrão, há um esgotamento programático como nunca antes visto. E se nunca se pensou tão pouco a cidade, nunca se nacionalizou tanto uma campanha municipal: os acordos e desacordos entre os partidos são pensados e pesados em uma lógica estritamente nacional." EM TEMPO: Pobres cidades! No caso de Manaus, os igarapés continuarão sendo aterrados, como aconteceu antes, durante e depois do governo de Eduardo Ribeiro no século XIX. O Igarapé do Mindu, então, vai continuar sendo depósito de lixo e da rede de esgotos. E nao foi por falta de recursos! Recursos federais vieram para sua despoluição. Não foi aplicado um centavo sequer. Em compensação, foram concedidas, criminosamente, licenças para construção às suas margens. A impunidade reina solta no Amazonas.
Devir Pólis: A Campanha Municipal Começa
A Metropolis de Lang |
A
campanha eleitoral municipal começou oficialmente há dois dias,
ilustrando um dos maiores problemas brasileiros: a organização de seus
municípios, a forma como a urbe é vivida, compartilhada e experimentada - e cidade
brasileira que se preze como tal, admitamos, é uma zona interditada já
na entrada, mas há quem queira desinterdita-la aí para transforma-la em arapuca; aprazível a uma primeira vista para capturar-nos na saída, como tantas cidades modelo
pelo mundo. Ruim está, pior do que está, fica - às vezes até de
maneiras mais perigosas do que hoje, quando tudo está bem na nossa
frente, escancarado.
Sem
civismos artificiais, as eleições municipais também possuem uma faceta
importante, pois são as prefeituras que, no limite, executam as
políticas públicas. Se um Prefeito manda extensivamente menos do que o
Presidente ou os governadores, por outro lado, é ele, dentre todos os
citados, quem detém o maior controle sobre uma territorialidade
juridicamente qualificada e circunscrita, qual o seja, o município. O locus da política é a pólis,
isto é, a cidade, no nosso caso, o município (o dispositivo jurídico
mediante o qual a cidade se expressa no nosso meio e tempo).
Dentro
de uma perspectiva que adote a luta social no contexto do espaço
urbano, as relações éticas de habitação e resistência, como paradigma é
possível escolher dois enfoques válidos: o primeiro deles é aquele que
parte da análise das peças do jogo político - ainda que não se iluda com
a aclamação eleitoral, mas que conceba os efeitos reais de seu
exercício -, tendo em vista a gradual nacionalização dos pleitos
municipais; o outro é o que olha a partir das demandas reais, de
problemas que podem ser específicos de determinados lugares, mas que
costumam ser fruto da lógica de administração universal.
Podemos e
vamos usar os dois enfoques, conforme for, ao longo desta campanha.
Primeiro, que sem entrar frontalmente no mérito do nosso sistema
político - ou mesmo da nossa forma de pensar a política -, é fato que
dentro de seu jeito de funcionar padrão, há um esgotamento programático
como nunca antes visto. E se nunca se pensou tão pouco a cidade, nunca
se nacionalizou tanto uma campanha municipal: os acordos e desacordos
entre os partidos são pensados e pesados em uma lógica estritamente
nacional.
Por isso,
não se espante com a aliança entre PT e Maluf em São Paulo - ou o que
levou José Serra a surgir como candidato tucano em São Paulo - , o apoio
- agora público - do PT ao ex-tucano Eduardo Paes no Rio, ou desconfie
do que realmente levou ao rompimento do PT com Aécio Neves em
Belo Horizonte. É 2014 em curso, seja nos nomes envolvidos, e é a
política federal em curso, como sugerem as chantagens dos "partidos da
base".
Vamos nos
ater sim a tais questões bem como outras, socioeconômicas, como as
questões de moradia e políticas higienistas pró-remoções - do
Pinheirinho à Vila Autódromo e
pelo país adentro - não porque elas constituem o centro do problema,
mas sim porque elas são como fios da meada: ajudam a entender o processo
em curso e a transforma-lo, embora o novelo seja mais complexo. Por
isso talvez assumamos a tarefa de dizer que tal ou qual candidatura
possa ser considerada, enquanto outras não.
Não é pensar a cidade em termos de produção - enquanto ordenação de qualidades e quantidades -, mas sim de um devir pólis, uma experiência intensiva de visita ao habitat
ele mesmo da política, da vida em coletivo, se esgueirando e deslizando
pela captura e pelo controle - que fazem, por exemplo, a pólis restar
reduzida a termo jurídico na forma de município, perfeitamente
adestrada. Queremos uma cidade livre, onde possamos transitar como
nômades sem rumo - e liberdade é caminho, alegre e potente, e não fim.
Fonte: O Descurvo
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