PICICA: O professor de Direito Internacional Everaldo Fernandes, da Universidade Federal do Amazonas, enviou o artigo abaixo para estabelecer contraponto sobre uma informação do movimento grevista das universidades veiculada neste blog.
Os gastos do Governo com juros
Enviado por luisnassif, sex, 06/07/2012 - 13:39 Por Marco Antonio L.No SUL 21
A despesa com juros do Governo Federal
Darcy Santos
Antes de desenvolver o assunto, propriamente, faz-se
necessário desfazer um mito antigo e que é muito divulgado, servindo de
argumento para diversas reivindicações ou protestos. Esse mito diz
respeito ao dispêndio com juros pelo Governo Federal, que é alto, mas
não é o que valor que afirmam.
Ocorre que grande parte da dívida federal é
representada por títulos, que são sistematicamente rolados. Por exemplo,
em 2011, para a amortização de R$ 479,3 bilhões de títulos vencidos,
foram lançados R$ 472,3 bilhões em títulos vincendos, as denominadas
operações de refinanciamento. O dispêndio líquido nessas operações foi
de apenas R$ 7 bilhões, mas na contabilidade são lançados os valores
pelos totais. Isso decorre do chamado princípio do orçamento bruto, que
se acha expresso no art. 6º da Lei 4320, de 17/03/64, que estatui normas
de direito financeiro no Brasil.
O artigo em causa assim se expressa:
Art.6º – Todas as receitas e despesas constarão na lei de orçamento pelo seu total, vedadas quaisquer deduções.
Feitas essas considerações iniciais, passemos a
analisar a execução financeira do Governo Central (Tesouro Nacional,
INSS e Banco Central) no exercício de 2011, constante da tabela no
final.
Nela constata-se que o Governo Central arrecadou em
2011 o correspondente a 23,93% do PIB (quase ¼), distribuindo 4,17% a
estados e municípios, ficando com 19,76% (1/5). Os gastos primários,
isto é, sem os juros, foram de 17,50% do PIB, sendo os principais itens a
despesa do INSS (previdência e assistência), com 7,4%, seguida de
outras despesas de custeio, com 4,48% e pessoal (ativo, inativo e
pensionista), com 4,33%. Em investimentos foram despendidos 1,14%.
Deduzindo da receita primária os gastos primários,
tem-se o resultado primário, que é a poupança para pagar os juros da
dívida. Essa poupança foi de R$ 93,6 bilhões (2,26% do PIB), que foi
suficiente para pagar apenas 52% dos juros, que importaram em R$ 180,8
bilhões (4,37% do PIB). A parte não paga dos juros, na ordem de R$ 87,2
bilhões ou 2,11%, foi incorporada ao estoque da dívida, que na mesma
data estava em 2,6 trilhões. Aliás, nos últimos dez anos, a parcela paga
dos juros corresponde a mais ou menos 50% do valor devido. Isso tem
como resultado mais endividamento e, em consequência, mais juros.
Nos últimos 15 anos, os juros mantiveram-se nessa
média, em torno de 4,2% do PIB, com uma parcela não paga de 2,4%, o que
explica em grande parte o atual endividamento.
A verdade é que o Brasil despende demais em juros,
mas antes dos juros, em gastos primários, que passaram de 13,7% do PIB
em 1991 para 23,9% em 2011, num crescimento de 0,5 ponto percentual ao
ano, em média. E o mais grave é que os investimentos giram em torno de
1% do PIB.
Esse comportamento da despesa, enquanto o PIB for
crescendo e refletindo-se na arrecadação de forma elástica, como vem
acontecendo, é sustentável, mas pode deixar de ser na ocorrência de uma
crise mais ou menos prolongada, que pode nos colocar numa difícil crise
fiscal.
Em finanças públicas, como na vida privada, o segredo
está em não se gastar mais do que se arrecada. Quando isso não ocorre,
surge o endividamento, com todas as consequências daí decorrentes.
Resumindo, pode-se dizer que gastamos muito com juros, mas eles são,
pelo menos num primeiro momento, consequência dos déficits e não sua
causa, como é comum se ouvir dizer.
Darcy Francisco Carvalho dos Santos é economista, contador com especialização em comércio internacional e integração econômica. Foi contemplado em três oportunidades pelo Prêmio do Tesouro Nacional sobre finanças públicas. www.darcyfrancisco.com.br e darcyfcs@terra.com.br
Fonte: Luis Nassif Online
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