PICICA - Blog do Rogelio Casado - "Uma palavra pode ter seu sentido e seu contrário, a língua não cessa de decidir de outra forma" (Charles Melman) PICICA - meninote, fedelho (Ceará). Coisa insignificante. Pessoa muito baixa; aquele que mete o bedelho onde não deve (Norte). Azar (dicionário do matuto). Alto lá! Para este blogueiro, na esteira de Melman, o piciqueiro é também aquele que usa o discurso como forma de resistência da vida.
FDB lança Prêmio de Iniciação Científica Heitor Vieira Dourado A
Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera – FDB está com inscrições
abertas até o dia 15 de outubro, para o Prêmio de Iniciação Científica
Heitor Vieira Dourado (foto), voltado para jovens cientistas da área
das Ciências da Saúde. Homenageando o médico infectologista Heitor
Vieira Dourado (1938-2010), um dos idealizadores e fundadores da
Fundação de Medicina Tropical de Manaus que leva o seu nome, o prêmio
objetiva estimular estudantes inscritos no Programa Brasileiro de
Iniciação Científica – PIBIC para que se dediquem à pesquisa de doenças
tropicais como a malária, a leishmaniose e outras de grande incidência
na região amazônica. Instituições ligadas à pesquisa e ao ensino de
Ciências da Saúde, podem indicar seus candidatos ao Prêmio. Os
concorrentes devem apresentar trabalhos na forma de monografia,
trabalhos de conclusão de curso, dissertação de mestrado ou tese de
doutorado. O vencedor será agraciado com o a participação em evento
científico ligado à sua área de trabalho que esteja sendo realizado no
Brasil, cujas despesas serão pagas pelos promotores do concurso. Seu
trabalho será publicado em revista científica a ser escolhida.
Membros da FDB, INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
Faculdade de Medicina da UFAM, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do Amazonas – FAPEAM; Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz; Escola Superior
de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas – ESC/UEA;
Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado, HEMOAM e Fundação
Alfredo da Matta formarão o júri que escolherá o melhor trabalho. Os
trabalhos deverão ser enviados à Diretoria Técnico-científica da FDB.
Maiores informações poderão ser encontradas no site da Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera – FDB.
PICICA: "Reafirmando
seu envolvimento pelas causas do direito à saúde e à democracia, Carlos
Nelson contribuiu para o livro “Reforma sanitária em busca de uma
teoria”, resultado de seminário promovido pelo Núcleo de Estudos
Políticos Sociais em Saúde (Nupes), fundado por Sonia Fleury nos anos
80, formado por pesquisadores que estudavam e documentavam a reforma
sanitária brasileira.
“Ele foi um grande interlocutor para nós,
era um homem de ideias e adorava a questão teórica, política, muito
estimulante pra gente. Sua obra linda deu força não só para nós, mas
para diversos grupos, transformando o conhecimento em luta jurídica.
Deixou ele também uma grande conclusão para a sociedade, de alargar os
pensamentos”, concluiu a professora."
Nelson Coutinho, o intelectual militante
Faleceu, na última quinta-feira (20), aos 69 anos, o cientista
político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Carlos Nelson Coutinho, baiano autor de ampla obra sobre o pensamento
socialista e a democracia – além de personagem de grande apoio ao Cebes e à reforma sanitária.
“Coutinho
é referencia para todos nós do campo da esquerda e, particularmente,
para os ativistas da Reforma Sanitária. Mais que tradutor de grandes
obras essenciais na nossa formação política de autores como Karl Marx e
Antonio Gramsci, ele foi um teórico da democracia e da política. A
existência do Cebes está vinculada a estes intelectuais que alimentaram a
luta pela democracia. Com sua morte, perdemos um dos maiores
intelectuais orgânicos deste país”, lamentou a presidenta do Cebes, Ana
Maria Costa.
Considerado um grande especialista no pensamento dos
filósofos György Lukács e Antonio Gramsci, e tradutor do elogiado
clássico O Capital, de Karl Marx, Coutinho fazia duras críticas ao
estruturalismo e trazia em si grande simplicidade ao discutir ideais,
além de tornar perceptível o prazer que havia em si ao discuti-las. “Era
maravilhoso”, afirmou a ex-presidenta do Cebes e professora titular da
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da
Fundação Getúlio Vargas (FGV), Sonia Fleury.
Após seu exílio em
Bolonha, o pensador trouxe consigo influências que tornaram memorável o
artigo “A democracia como valor universal”, escrito por Carlos Coutinho
em 1979, publicado na revista “Encontros com a Civilização Brasileira”.
“Tal artigo se mostrou como uma revelação no pensamento da esquerda no
Brasil”, afirmou Fleury.
Faz-se importante ao Cebes registrar que,
na época da redemocratização, havia orientação de que ou se organizavam
grupos nas universidades, ou nos partidos ou nos sindicatos. Não havia
lugar pra um centro de estudos. Coutinho foi um dos que, então, afirmou
que uma sociedade democrática era uma sociedade onde você tinha que
conquistar hegemonia através de saberes e valores. “Ou seja: o Cebes
para ele era o máximo, o centro era a expressão da sociedade civil que
lutava pela hegemonia, pela consciência sanitária”, relatou Sonia.
Reafirmando
seu envolvimento pelas causas do direito à saúde e à democracia, Carlos
Nelson contribuiu para o livro “Reforma sanitária em busca de uma
teoria”, resultado de seminário promovido pelo Núcleo de Estudos
Políticos Sociais em Saúde (Nupes), fundado por Sonia Fleury nos anos
80, formado por pesquisadores que estudavam e documentavam a reforma
sanitária brasileira.
“Ele foi um grande interlocutor para nós,
era um homem de ideias e adorava a questão teórica, política, muito
estimulante pra gente. Sua obra linda deu força não só para nós, mas
para diversos grupos, transformando o conhecimento em luta jurídica.
Deixou ele também uma grande conclusão para a sociedade, de alargar os
pensamentos”, concluiu a professora.
Assista vídeo-homenagem e leia, abaixo, mais uma homenagem feita à Coutinho:
Por Tarso Genro
Um vazio que se abre: a morte de Carlos Nelson
Os
intelectuais do PT, os formuladores de ideias dentro do nosso Partido -
nesta época que se abrirá depois das eleições - depois do “Fantástico”
(em todos os aspectos) julgamento do “mensalão”, quando se aprofunda a
crise européia e os tucanos afiam suas garras ajudados pela mídia
complacente com os seus mensalões, - nossos intelectuais e formuladores -
deveriam ler e reler Carlos Nelson Coutinho. Sua contribuição teórica é
um bom antídoto contra o pragmatismo e uma boa vacina contra a
acomodação burocrática. Bravo Carlos Nelson Coutinho. Vai fazer muita
falta. O artigo é de Tarso Genro.
A morte de Carlos Nelson
Coutinho abre um vazio em toda uma geração. Autor de uma vasta
bibliografia sobre o pensamento socialista e a questão democrática
-promotor no Brasil dos debates mais fecundos sobre Gramsci, Rousseau e
Lukács, ouso dizer, também o pensador provavelmente mais credenciado
sobre os vínculos do socialismo com a democracia.
Analista herege
de Marx e antiestalinista ferrenho, Carlos Nelson também foi um ser
humano excepcional. Foi do velho “partidão” ao Psol, passando pelo PT,
sem romper uma relação pessoal, sem desrespeitar um amigo ou qualquer
pessoa que divergisse das suas posições e, mais do que isso, sem
qualquer resquício de sectarismo ou pretensão de ser tornar paradigma.
Tenho uma dívida pessoal com Carlos Nelson, por ter aprendido muito com
ele, seja nas nossas conversas ou no intercâmbio de opiniões por
escrito, seja pela leitura dos seus livros: um grande intelectual, sem
afetação e sem medo de enfrentar os temas mais complexos da esquerda
contemporânea.
Em março de 79, na antiga revista “Encontros com a
Civilização Brasileira” (n..9) Carlos Nelson publica uma brilhante
artigo, “A democracia como valor universal”, que começa assim: “A
questão do vínculo entre socialismo e democracia marcou sempre, desde o
início, o processo de formação do pensamento marxista; e, direta ou
indiretamente, esteve na raiz das inúmeras controvérsias que assinalaram
e assinalam a história da evolução desse pensamento.”
Era uma
bomba. A luta armada derrotada no Brasil, a transição controlada pelos
políticos centristas -acordados com os militares que viam o modelo
econômico da ditadura ruir- Carlos Nelson parecia ajudar a transição
promovida pelas elites, que apenas abririam um espaço mais generoso para
o povo sete anos depois, com a convocação da Assembléia Nacional
Constituinte, aliás não originária. Mais adiante, seu artigo teve uma
resposta respeitosa e de alto nível do meu irmão, já falecido, Adelmo
Genro Filho, (n.17, da mesma revista).
Vale a pena transcrever o
início do texto de Adelmo, que discuti com o próprio autor na época e o
secundei com algumas opiniões: “Carlos Nelson Coutinho pensa
grande.(...) Seu combate às tendências estruturalistas e neopositivistas
que vicejam nas cátedras universitárias, tanto na Europa como no
Brasil, em alguns momentos tornou-o quase um solitário. E o
reconhecimento da persistência na solidão de teses justas é tributo
mínimo que lhe devemos. Assim, é Carlos Nelson Coutinho, um pensador com
“R” (de razão dialética) maiúsculo.”
O debate travado, naquela
oportunidade, por Carlos Nelson e Adelmo, ainda mantém sua atualidade,
mas, creio, não mais a partir da dúvida se a democracia -como forma de
organização do Estado e de organização das liberdades públicas- tem ou
não valor universal. A atualidade do debate está mais centrada na
questão de “qual a democracia?”, capaz de expandir as liberdades
públicas e organizar o Estado, de tal forma que dele derivem políticas
que reduzam crescentemente as desigualdades sociais e as dominações de
classe. Que uma ditadura não faz isso -qualquer ditadura- isso a crise
dos modelos do Leste já demonstrou.
Quem “ganhou” o debate
naquela época não importa, mas que a democracia -o oposto de qualquer
ditadura- que garanta as liberdades públicas e as mesmas condições de
concorrer para chegar o poder (o que ainda é muito relativo na atual
democracia brasileira), tem um valor universal -como dizia Coutinho-
parece não haver dúvida na ampla maioria da esquerda pensante. Em grande
parte, devemos a integração deste pensamento antidogmático a Carlos
Nélson Coutinho, sua persistência no debate, sua capacidade de inovar
dentro do marxismo, sua postura permanentemente “revisionista” das
ideias positivistas-naturalistas, que estiveram no cerne do
marxismo-leninismo da Academia de Ciências da URSS.
No prefácio
que Carlos Nelson fez do meu livro ”Utopia Possível” (Artes e Ofícios,
1994), no qual inclusive diverge de algumas abordagens críticas que
faço, do marxismo “realmente existente”, ele diz com a sua sinceridade e
clareza lapidar: “Tenho insistido na idéia -com a qual Tarso talvez
concorde- de que a essência do método marxista é o revisionismo, o
empenho permanente em aprender dialeticamente as novas determinações do
real.
Na ampla gama de intelectuais que acompanharam e
participaram das lutas do nosso povo nos últimos 50 anos lá está,
luminosa, a coerência e a profundidade intelectual de Carlos Nelson.
Alguns, originários da mesma época, organizaram-se em torno dos
pensamentos liberais (mais propriamente neoliberais), que hoje formam o
grande conglomerado do conservadorismo político nacional, cuja ocupação
predileta é inconformar-se com as conquistas sociais, educacionais e
políticas, dos últimos dez anos. Até nisso Carlos Nelson foi mais
brilhante do que eles: suas divergências com o PT e com os governos
Lula, ocorreram porque ele entendeu que estas mudanças foram pouco
profundas e também modestas, em termos sociais e econômicos. Rompeu com o
PT -concorde-se ou não com as suas razões- pela esquerda, não pelo
udenismo fundamentalista ou pelas ideias do Consenso de Washington.
Os
intelectuais do PT, os formuladores de ideias dentro do nosso Partido -
nesta época que se abrirá depois das eleições - depois do “Fantástico”
(em todos os aspectos) julgamento do “mensalão”, quando se aprofunda a
crise européia e os tucanos afiam suas garras ajudados pela mídia
complacente com os seus mensalões, - nossos intelectuais e formuladores -
deveriam ler e reler Carlos Nelson Coutinho. Sua contribuição teórica é
um bom antídoto contra o pragmatismo e uma boa vacina contra a
acomodação burocrática. Bravo Carlos Nelson Coutinho. Vai fazer muita
falta.
PICICA: "Explorar
Cuiú Cuiú é apenas a ponta do iceberg e vai abrir o caminho para um
filão de centenas de bilhões de dólares: um cinturão de granitos e
rochas vulcânicas que começa no distrito de Alta Floresta do norte do
Mato Grosso, passa pela região do Tapajós no oeste do Pará, continua
para o norte em Rondônia, e termina no sul da Venezuela-Guiana.
Juntos,
esses "complexos geológicos" auríferos ocupam em linha contínua cerca
de 1.200 quilômetros. Uma incrível riqueza logo ali, na região onde se
planeja a construção das hidrelétricas no rio Tapajós, Jamanxim, Teles
Pires e Juruena. Coincidência ou não, os projetos hidrelétricos na
Amazônia parecem atrelados aos grandes projetos de mineração de ouro."
Mineradoras valem ouro nos projetos hidrelétricos do Tapajós e Teles Pires
Mineração na região das usinas do Tapajós e Jamanxim
Os projetos de implantação de hidrelétricas nas bacias do rio Tapajós, Teles Pires e Juruena por si só estão induzindo a ocupação de áreas protegidas da Amazônia. Com eles chegaram também as empresas mineradoras transnacionais e o novo ciclo de exploração do ouro. Mais impactos atingirão os territórios indígenas e as unidades de conservação.
O ouro aliado aos projetos hidrelétricos na região dos rios Tapajós e Jamanxim, que, coincidentemente, estão sobre a maior província mineral do mundo, vai pavimentar definitivamente a ocupação predatória da região.
Não é, pois, de se estranhar a corrida do ouro que se iniciou na região da chamada Província Mineral do Tapajós. Perto de Itaituba, cerca de 180 quilômetros, está um distrito aurífero famoso chamado Cuiú Cuiú, próximo ao rio Crepori, e que só pode ser acessado por avião de pequeno porte ou por barco.
A mineração em Cuiú Cuiú começou em 1972 e foi até 1992, quando ocorreu uma grande corrida do ouro. Estima-se que nessa época mais de 10 mil pessoas buscavam ouro na região. Cuiú Cuiú, então, ficou famosa e atraiu os olhares de grandes empresas de mineração. A partir de 2004, a canadense Magellan Minerals começou a adquirir os direitos de exploração mineral concedidos pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Em 2005, celebrou um acordo com os proprietários tradicionais das áreas que viviam e exploravam Cuiú Cuiú.
A Magellan Minerals Ltd. tem endereço em Itaituba (PA) e Cuiabá (MT) como Chapleau Exploração Mineral Ltda. No seu sítio eletrônico constam ainda três subsidiárias: a Chapleau Resources Ltd. no Canadá, a Magellan Minerais Prospecção Geológica Ltda., no Brasil, e a Chapleau Exploração Mineral Ltda. A empresa canadense detém hoje 47 mil hectares de terras para exploração de ouro em Cuiú Cuiú.
A Chapleau Exploração Mineral Ltda. tem, ainda, outros quatro processos de direitos minerários de ouro, de 2007 e 2009, nas margens do futuro reservatório da hidrelétrica Teles Pires, que abrangem uma área de 34.449 quilômetros quadrados. Coincidência?
Outro projeto da Magellan na mesma região é Coringa, anunciado em março deste ano em Vancouver, com previsão de extração de 561 mil onças de ouro em cinco áreas. Os investimentos previstos para Coringa podem chegar a 37 milhões de dólares.
Explorar Cuiú Cuiú é apenas a ponta do iceberg e vai abrir o caminho para um filão de centenas de bilhões de dólares: um cinturão de granitos e rochas vulcânicas que começa no distrito de Alta Floresta do norte do Mato Grosso, passa pela região do Tapajós no oeste do Pará, continua para o norte em Rondônia, e termina no sul da Venezuela-Guiana.
Juntos, esses "complexos geológicos" auríferos ocupam em linha contínua cerca de 1.200 quilômetros. Uma incrível riqueza logo ali, na região onde se planeja a construção das hidrelétricas no rio Tapajós, Jamanxim, Teles Pires e Juruena. Coincidência ou não, os projetos hidrelétricos na Amazônia parecem atrelados aos grandes projetos de mineração de ouro.
Projetos de mineração no Estado do Pará
Cuiú Cuiú está localizada entre os rios Crepori e o Jamanxim, onde também está o projeto Tocantinzinho numa área de 140 km² (30 quilômetros a sudeste de Cuiú Cuiú), da Eldorado Gold Corporation, com sede em Vancouver, no Canadá. Do Tocantinzinho, a Eldorado pretende extrair perto de 160 mil onças de ouro de 2.541 mil toneladas de rocha removida.
A Eldorado confirma em sua página na Internet que esperava receber a aprovação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) ainda no terceiro trimestre de 2012 e concluir o estudo de viabilidade, para começar a implantação do projeto, ainda neste ano também. Desde 2010 o projeto está tramitando na Secretaria de Meio Ambiente do Pará.
A principal concorrente da Magellan e Eldorado nessa mesma região do Tapajós é a já conhecida Belo Sun Mining Corp., que se instalou na Volta Grande do Xingu, aproveitando a construção de Belo Monte. Patrocínio é o nome do projeto da Belo Sun no Tapajós e tem uma área com 18.669 hectares.
Telma Monteiroé ativista sócio-ambiental, pesquisadora, editora do bloghttp://www.telmadmonteiro.blogspot.com.br, especializado em projetos infraestruturais na Amazônia. É também pedagoga e publica há anos artigos críticos ao modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil.
PICICA: "O Brasil vem assistindo nas ultimas décadas a um
crescimento das forças conservadoras no Congresso Nacional e esta grande
aliança envolve diversos partidos de todas as matizes politicas. Esta
frente contra a legalização do aborto tem levado o governo à condição de
refém, negociando votos nas matérias de interesse governamental até
mesmo contra possíveis avanços do poder executivo.
Estabeleceu-se
uma verdadeira vigilância destes parlamentares às ações do Ministério
da Saúde, envolvendo sua reponsabilidade institucional como órgão máximo
da saúde pública nacional. E é inadmissível que o Ministério seja
imobilizado no cumprimento de seu papel de financiar pesquisas ,
normatizar e qualificar serviços para melhor conhecer e atender as
mulheres brasileiras quando abortam.
Enquanto o poder Legislativo
permitir que esse debate ocorra sob a égide da moralidade, e não assumir
a sua gravidade como problema de saúde publica, o Congresso estará em
falta com as mulheres brasileiras. Enquanto o poder Executivo baixar a
cabeça como refém destas forças conservadoras que retardam a ampliação
dos direitos reprodutivos e a legalização do aborto, as mulheres
brasileiras estarão traídas e com seus direitos humanos mutilados."
Com a chegada do dia 28 de setembro, Dia
da Despenalização e Legalização do Aborto na América Latina e no
Caribe, a antropóloga premiada e professora da Universidade de Brasília
(UNB) Débora Diniz deixa seu recado.
***
Pela legalização do aborto no Brasil
Créditos: Campanha Acción Callejera
Ana Maria Costa
O
dia 28 de setembro é o dia de luta pela descriminalização do aborto na
América Latina. Isto, porque o aborto é grave problema de saúde pública
nos países de nosso continente e a magnitude de sua ocorrência no Brasil
e as complicações à saúde por causa de sua clandestinidade ocasionam
mortes que poderiam ser evitadas por atenção adequada e oportuna.
Tal
atenção somente será possibilitada com a ampla legalidade do aborto,
hoje permitido apenas quando a gravidez resulta de estupro; constitui
ameaça à vida da mulher; ou nos casos de anencefalia. Como a grande
maioria dos abortos são realizados de forma clandestina, precária,
arriscada e insegura, milhares de hospitalizações desnecessárias são
feitas diariamente, gerando um grande problema para a saúde pública no
país.
Para melhor dimensionamento do problema, um inquérito nacional realizado em 2010(1)mostrou
que 22% das mulheres de 35 a 39 anos que vivem em zonas urbanas
declararam já ter provocado um aborto. Os que desconhecem o assunto
tendem a retratar as mulheres que interrompem a gravidez como pessoas
desviantes e irresponsáveis, extremamente jovens, sem valores, e que não
estariam em união. Não é isso o que acontece.
Esta pesquisa
revelou que os abortos são praticados por mulheres que, em sua maioria
casadas e mães de família, não desejam aumentar a prole em função de
gravidezes indesejadas. Tal situação deveria mudar muito a maneira como
se encara o fenômeno e, desta forma, mudar o tom do debate sobre aborto
no Brasil, já que o aborto é um evento comum na vida de mulheres comuns,
ou seja, mulheres das relações sociais de qualquer pessoa. Em nossa
sociedade o assunto vem sendo polarizado para reforçar uma moralidade de
dogmas religiosos relacionados ao aborto com julgamento preconceituoso
às mulheres que o praticam.
Nos últimos anos, apesar da enormes
dificuldades na realização de pesquisas sobre aborto, especialmente por
tratar se de um evento clandestino, muitos estudiosos tem contribuído
com esclarecimentos importantes que vêm desconstruindo velhos argumentos
e crenças sobre o aborto no Brasil.
Hoje está comprovado que a
decisão por um abortamento na maioria dos casos é compartilhada, e não
individual como se pensava. Os estudos mostram inclusive que, quando as
mulheres são jovens e não tem autonomia ou dinheiro, a família - ou
seja: os pais e as mães - intervêm e providenciam o recurso necessário
para a realização do procedimento. Isso acontece geralmente nas classes
médias e altas. Assim, a questão do aborto que parecia, a
princípio, um assunto exclusivo de mulher, é de fato um assunto para as
famílias quando se trata de mulheres solteiras ou casadas, envolvendo
pais, mães ou maridos. Esta situação reforça o grau de hipocrisia com o
qual o aborto é tratado no Brasil pois, seja na condição de amigo,
amiga, mãe, pai, tio, companheiro, namorado ou marido, a grande maioria
dos brasileiros já viveu e compartilhou alguma situação envolvendo a
decisão ou o apoio a uma mulher que realizou o aborto. O que fica
patente é a existência de uma dupla moral, a que condena o aborto e a
outra, tolerante quando o assunto está no âmbito privado.
Mesmo
com a proibição pela Anvisa da venda do Misoprostol (Cytotec), um
poderoso abortifaciente, os estudos mostram que metade das mulheres que
abortam utiliza medicamentos. A aquisição destas drogas também ocorre
clandestinamente e as mulheres pagam caro pelo produto e não tem
qualquer garantia quanto à sua qualidade.
De toda forma, estas
mulheres tem menor numero de complicações em relação àquelas outras que
buscaram solucionar a interrupção da gravidez com curiosas ou métodos
mais perigosos. O certo é que o acesso aos medicamentos é
difícil, mas existe um conhecimento adquirido e transmitido entre as
mulheres sobre o modo de usar e as doses destes medicamentos e até mesmo
sobre o momento e situação em que devem buscar ajuda em um hospital.
Isso tem reduzido muito as mortes destas mulheres.
Se mudou o
panorama da sobrevivência de mulheres que praticam abortamento, o mesmo
não ocorreu na qualidade da atenção médica hospitalar destinada a elas.
Os profissionais de saúde geralmente as tratam com discriminação,
maus-tratos e até mesmo com omissão de socorro oportuno, caracterizando,
de fato, condição de violência institucional (2).
As
frequentes denúncias do movimento de mulheres sobre problemas
enfrentados por elas, que são usuárias de serviços de saúde, incluem a
dificuldade de acesso à vaga até situações de maltrato e discriminação
sofridas durante a internação. Muitos estudos tem evidenciado esta
modalidade de violência em serviços públicos como praticada por
profissionais de saúde, principalmente enfermeiras. Nesse sentido,
a legalização do aborto é uma pauta para a democracia social, pois,
além dele ser um direito sexual e reprodutivo universal, sua ilegalidade
recai de forma injusta e desumana sobre as mulheres mais pobres, que,
com menos recursos para a realização da interrupção de sua gravidez
indesejada, acabam se submetendo a maior risco. Essas
mulheres são cotidianamente vítimas de atentados aos direitos humanos
por omissão do estado em socorrê-las quando realizam o procedimento,
chegando aos hospitais em busca da sobrevivência, com sangramentos e
hemorragias graves - sendo em seguida maltratadas, denunciadas,
discriminadas. Elas sujeitam sua saúde ao risco por causa de uma
legislação atrasada e desajustada em relação às necessidades da
sociedade e à vida real das mulheres e das famílias, já não condizente
com a atual situação do país que merece e precisa de um estado laico,
livre das intervenções de grupos e dogmas religiosos nos assuntos
coletivos.
O Brasil vem assistindo nas ultimas décadas a um
crescimento das forças conservadoras no Congresso Nacional e esta grande
aliança envolve diversos partidos de todas as matizes politicas. Esta
frente contra a legalização do aborto tem levado o governo à condição de
refém, negociando votos nas matérias de interesse governamental até
mesmo contra possíveis avanços do poder executivo.
Estabeleceu-se
uma verdadeira vigilância destes parlamentares às ações do Ministério
da Saúde, envolvendo sua reponsabilidade institucional como órgão máximo
da saúde pública nacional. E é inadmissível que o Ministério seja
imobilizado no cumprimento de seu papel de financiar pesquisas ,
normatizar e qualificar serviços para melhor conhecer e atender as
mulheres brasileiras quando abortam.
Enquanto o poder Legislativo
permitir que esse debate ocorra sob a égide da moralidade, e não assumir
a sua gravidade como problema de saúde publica, o Congresso estará em
falta com as mulheres brasileiras. Enquanto o poder Executivo baixar a
cabeça como refém destas forças conservadoras que retardam a ampliação
dos direitos reprodutivos e a legalização do aborto, as mulheres
brasileiras estarão traídas e com seus direitos humanos mutilados.
Por
fim, se o Brasil quer se postar entre os países mais avançados do
planeta, urge que sejam tomadas atitudes concretas para o
aperfeiçoamento da democracia e a primeira tarefa para nós, mulheres,
para nós que defendemos a saúde publica, é tirar o aborto de baixo do
tapete. Vamos debater o tema amplamente e vamos encarar esta como uma
questão de saúde pública fundamental para a nossa Democracia.
Referências (1) Pesquisa Nacional do Aborto (PNA), Universidade de Brasília (UnB).
(2)
Estudo feito pela pesquisadora Estela Aquino, do Instituto de Saúde
Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), com 2.562 mulheres
em hospitais de três capitais brasileiras – sete de Salvador (BA), oito
de Recife (PE) e quatro de São Luís (MA) – indica que o julgamento
moral dos profissionais de saúde sobre o aborto interfere no atendimento
prestado por eles às mulheres que dão entrada em hospitais depois de
tentar a interrupção da gravidez.
PICICA: "Na minha opinião existem aiiiinda + neuróticos y ”sofredores
de transtornos emocionais inespecíficos” do que o vídeo mostra, quando
compara suas estatísticas com a população de várias metrópoles somadas
em conjunto. Pra uma parte significativa num há remédio que ajude… nem
terapia disponível." EM TEMPO:Em resumo, não há acesso a uma rede de serviços capaz de ouvir as dores da existência provocadas pelo 'mal-estar' na cultura. Em tempo de campanha eleitoral o tema está envolvido num silêncio sepulcral. Em Manaus, o velho hospício está fechando; deve sobrecarregar as políclínicas, e, pasmem!, nenhum palavra sobre a expansão da rede de serviços que substituem o manicômio - atualmente com apenas dois serviços municipais para uma população de 2 milhões de habitantes, cuja oferta é responsabilidade da prefeitura desde 2003. Por ora, o poder público é beneficiário da infinita generosidade dos usuários do sistema. Neste cenário, lutar contra contra a medicalização da dor humana é um trabalho insano. Tão cedo não comemoraremos a "Queda da Pastilha'.
A Queda da Pastilha
Achei interessante a denúncia da
manipulação dos laboratório$&agência$ de publicidade pra fazer
pessoas con-sumirem drogas tranquilizadoras.
Na minha opinião existem aiiiinda + neuróticos y ”sofredores
de transtornos emocionais inespecíficos” do que o vídeo mostra, quando
compara suas estatísticas com a população de várias metrópoles somadas
em conjunto. Pra uma parte significativa num há remédio que ajude… nem
terapia disponível. Entonces,
o que resta é o que a Vida (êita!) vai ensinando e, os que dão Sorte
(bença, Woody Allen!), aprendem pela experiência, sem agravarem suas
dores e/ou causarem danos sociais. Por isso mes-mo vale a pena manter
experimentos (com remédios e/ou terapias) que promovam alívio à
ansiedade, à insônia ou que controlem a epilepsia e o avanço da psicose,
assim como é importante que otras disciplinas participem – como a Sociologia,
só pra mencionar o exemplo + óbvio&evidente – pra investigar
caminhos de crescimento individual em sociedade, pra enfrentar o “Mal
Estar da Cultura”.
No intervalo dos procedimentos + sérios, vezINquando menos notórios y + pobres, surgem os aproveitadores.
EL Marketing de La Locura
Un vídeo de los canales Ankesenaton y SaavedraAbel
La
compra-venta de la enfermedad es una estrategia altamente exitosa que
convierte las situaciones normales de la vida en condiciones de
enfermedad psiquiátrica, haciendo que la gente de todos los estratos
sociales se preocupe acerca de la "enfermedad mental" más reciente; y
que soliciten una pastilla.
LA TEORÍA DEL "DESEQUILIBRIO QUÍMICO DEL CEREBRO" ES EL FRAUDE MÁS EXITOSO DE LA PSIQUIATRÍA.
Al
paso de los años, la psiquiatría ha convencido a millones de personas
que sus cambios emocionales, se deben a la deficiencia de serotonina y
que solamente pueden ser aliviados tomando fármacos que trastornan la
mente, como los antidepresivos.
Cuando se dio a conocer la teoría
del desequilibrio químico cerebral, surgió una avalancha de críticas y
cuestionamientos, tanto que, el Dr. Steven Sharfestein, entonces
presidente de la Asociación Americana Psiquiátrica (APA) tuvo que
retractarse públicamente diciendo que "no existe 'ninguna prueba
contundente de laboratorio que determine la existencia de un
desequilibrio químico en el cerebro".
El vocero de la APA, el Dr.
Marc Graff, dijo que la teoría del desequilibrio químico del cerebro,
ERA PROBABLEMENTE UNA AFIRMACIÓN PROVENIENTE DE LA INDUSTRIA
FARMACÉUTICA
(No resulta para nada sorprendente si consideramos que
sólo por la venta de antidepresivos semueven más de 13 mil millones de
dólares anuales).
Cuando se le preguntó al Dr. David Burns,
ganador del premio A.E. Bennett de la Sociedad de Bioética de
Psiquiatría, sobre el estatus de la teoría del desequilibrio químico de
la serotonina, dijo: "pasé los primeros años de mi carrera, investigando
tiempo completo el metabolismo de la serotonina, pero nunca encontré
ninguna evidencia convincente de que cualquier trastorno psiquiátrico,
incluyendo la depresión, fuera debido a una deficiencia de serotonina
del cerebro, de hecho no hay forma de medir los niveles de serotonina en
una persona viva, por lo que no hay forma de probar éstas teorías".
A
pesar de estos hechos, se les ha prescrito psicofármacos a decenas de
millones de personas en todo el mundo, Muchos de los consumidores creen,
debido al bombardeo de publicidad, que están corrigiendo una condición
física, CONDICIÓN QUE SIMPLEMENTE NO EXISTE.
Recién en el 2004, y
después de las innumerables tragedias que se habían registrado, se
alertó al público del riesgo que corren los niños y adolescentes al
tomar antidepresivos. También los adultos corren los mismos riesgo
(entre ellos el suicidio).
Los antidepresivos son peligrosos,
causan entre otras cosas, ansiedad, agitación, ataques de pánico,
insomnio, irritabilidad, hostilidad, impulsividad, acatisia
(intranquilidad severa), hipomanía (excitación anormal, manía leve) y
manía (psicosis caracterizada por sentimientos exagerados y
alucinaciones).
Mientras que los psiquiatras insisten en que la
enfermedad es una condición neurobiológica, y han gastado miles de
millones de dólares sin haber conseguido evidenciar esta teoría, el
psicólogo Bruce Levine, autor de Commonsense Rebellion (La Rebelión del
Sentido Común) está dentro de aquellos que han enderezado los conceptos
diciendo: NO SE HAN ESTABLECIDO MARCADORES BIOQUÍMICOS O GENÉTICOS PARA
EL TRASTORNO POR DÉFICIT DE ATENCIÓN, EL TRASTORNO OPOSICIONISTA
DESAFIANTE, LA DEPRESIÓN, ESQUIZOFRENIA, ANSIEDAD, COMPULSIÓN POR EL
ALCOHOL O EL ABUSO DE DROGAS, SOBREALIMENTARSE, APOSTAR, O NINGÚN OTRO
DE LOS SUPUESTOS ENFERMEDADES, MALES O TRASTORNOS MENTALES.
Este video es parte del documental en DVD "El Marketing de la Locura: ¿Estamos todos locos?"
Evidentemente
somos ganado viviendo en una granja de experimentación y exterminio,
donde quienes se creen dueños, hacen lo que se les ocurre con el resto
de los humanos... SALGAMOS DE ELLA!!! DE NOSOTROS DEPENDE.
PICICA: "Elza Pais destacou ainda que a experiência portuguesa de
descriminalização do consumo é reconhecida hoje a nível internacional
como um exemplo de sucesso, mas que deixou por resolver o problema da
aquisição legal para consumo próprio, uma lacuna que este projeto do
Bloco, na sua opinião, vem agora preencher. "Concordo com esta proposta
porque respeita as convenções internacionais, retira negócio aos
traficantes, é apoiada em experiências bem sucedidas e adota uma
estratégia de prevenção e diminuição da procura", afirmou, acrescentando
que a considera "um passo significativo, como foi o da
descriminalização, para lutar contra a hipocrisia e os preconceitos,
acautelando a questão da saúde individual e da saúde pública"."
O esquerda.net entrevistou Martín Barriuso, presidente da Federação de Associações Canábicas
de Espanha que participou na audição parlamentar do Bloco sobre a
legalização do autocultivo e os clubes sociais de canábis.
Legalização da canábis em debate na AR
O anteprojeto de lei do Bloco para legalizar o
autocultivo e criar clubes sociais de canábis foi debatido em audição
pública no Parlamento. O presidente da Federação de Associações
Canábicas de Espanha descreveu o funcionamento dos clubes sociais, uma
experiência de sucesso desde há duas décadas.
Artigo |
28 Setembro, 2012
Foto Catarina Oliveira.
O deputado João Semedo apresentou a proposta do Bloco que está em debate público,
numa audição moderada pelo dirigente bloquista José Soeiro que contou
também com a participação ainda a deputada socialista Elza Pais e o
ativista da Marcha Global da Marijuana Marco Pereira.
João Semedo reconheceu "os progressos enormes dos últimos anos para a
prevenção e o tratamento" com a descriminalização do consumo de drogas,
aprovada em 2001 no Parlamento, mas sublinhou que "há aspetos negativos
a corrigir". "Queremos evitar que haja milhares de consumidores
empurrados para o mundo clandestino do tráfico", afirmou o deputado,
acrescentando que este projeto lei tem também por objetivo "questionar a
doutrina proibicionista", dado que "o mundo do tráfico é mais poderoso
hoje do que alguma vez foi".
Semedo apresentou as linhas gerais da proposta do Bloco, que visa
legalizar o cultivo para consumo próprio e criar o enquadramento legal
para a criação dos clubes sociais de canábis, associações de
consumidores sem fins lucrativos, que organizam o cultivo para os
associados e têm regras e limitações próprias. A entrada é restrita a
maiores de idade e faz-se por proposta de outro sócio, com uma limitação
do número total de associados por clube, para garantir o controlo dos
consumos problemáticos e evitar a lógica comercial. Nestes clubes, as
doses dispensadas não podem exceder o limite do consumo para 30 dias e
não é permitida a venda de bebidas alcoólicas nem a presença de máquinas
de jogo.
Marco Pereira, da MGM Lisboa, afirmou ue com a lei atual os
consumidores continuam a ser perseguidos, quer através das coimas e
sanções administrativas, quer através de penas de prisão devido ao
limite legal para a posse de canábis ser pequeno. "Há muitos casos de
consumidores condenados a penas de prisão por tráfico de menor gravidade
sem que existam indícios de tráfico", afirmou o ativista da Marcha que
todos os anos junta milhares de pessoas em defesa da legalização da
canábis. Marco Pereira saudou a iniciativa do Bloco e deixou algumas
propostas para o projeto a apresentar nas próximas semanas na Assembleia
da República, no que toca à definição dos limites para o autocultivo -
que no anteprojeto bloquista é de dez plantas por pessoa -, propondo uma
distinção entre o cultivo no exterior e o cultivo indoor, com os
limites definidos de acordo com a potência da iluminação utilizada.
Em seguida, o dirigente da Federação das Associações Canábicas (FAC)
de Espanha fez um breve historial da legislação em vigor no país
vizinho, que abriu espaço ao nascimento dos clubes sociais desde o
início dos anos 90. Mas fez notar que apesar desta experiência ser
marcada pelo sucesso, existe ainda uma insegurança jurídica muito
grande, dado que os clubes não estão regulamentados na lei. E mesmo
acontece no autocultivo, já que "não há um limite de plantas para
consumo pessoal, ou seja, depende da interpretação do polícia de cada
local", afirmou Martín Barriuso.
O dirigente associativo basco defendeu ainda que os clubes sociais
são uma alternativa concreta que respeita a legislação internacional,
dado que "cada Estado da União Europeia tem soberania para decidir sobre
o consumo, pois os tratados internacionais só obrigam a punir o
tráfico". Sobre o funcionamento destes clubes, Barriuso diz que "são
associações legalizadas em que os seus membros decidem em Assembleia a
criação da plantação coletiva com base na previsão de consumo dos seus
membros". As quotas pagas pelos associados cobrem os custos com o
cultivo e o funcionamento da associação, que paga impostos como o IVA ou
o IRC e a segurança social dos seus funcionários. A cada sócio é
exigida a participação num curso de formação inicial acerca das formas e
dos riscos do consumo, bem como informação sobre a o uso e a história
da canábis.
"Como se trata de um círculo fechado, é mais fácil detetar consumos
problemáticos", acrescentou Barriuso, que vê aí uma grande vantagem em
relação ao modelo holandês dos coffee-shops. "Trata-se de um sistema
opaco em que ninguém controla a produção e tem como finalidade o lucro",
diz o presidente da FAC, lembrando que hoje em dia "há donos de
coffee-shops ameaçados pelas mafias para lhes comprarem o produto
deles". "Nós não queremos um modelo como o que existe para o tabaco, nas
mãos das grandes companhias. Uma substância aditiva não pode ser um
negócio", concluiu Barriuso, alertando para o desvirtuamento das
características dos clubes quando se expandem demasiado, como acontece
já em Espanha devido à falta de regulação. "Um clube de dez mil pessoas
nunca vai ser um círculo fechado em que as pessoas se preocupam umas com
as outras", rematou. Pelas contas da FAC, "se os 23 milhões de
consumidores de canábis na União Europeia fossem membros de clubes, as
receitas dos Estados aumentariam 8400 milhões de euros, numa estimativa
conservadora".
A deputada socialista Elza Pais interveio saudando a proposta do
Bloco por vir "aprofundar o debate num tema onde ainda há muito por
fazer". "É nos momentos de crise que devemos discutir mais, porque é aí
que estes direitos ficam mais ameaçados", acrescentou, notando que "a
criminalidade e o consumo injetável de drogas" estão de novo a aumentar à
medida que piora a situação económica e se agrava a exclusão social.
Elza Pais fez ainda notar que o uso de drogas tem acompanhado desde
sempre a história da Humanidade, ao contrário da proibição que surgiu no
século passado. "A estratégia deve passar pela aposta na prevenção e na
redução de riscos, porque se os meios aplicados na repressão são
muitos, os meios usados pelos cartéis para fugir a essa repressão são
muito superiores", declarou a deputada socialista e antiga responsável
pelo Instituto Português da Droga e Toxicodependência (atual IDT).
Elza Pais destacou ainda que a experiência portuguesa de
descriminalização do consumo é reconhecida hoje a nível internacional
como um exemplo de sucesso, mas que deixou por resolver o problema da
aquisição legal para consumo próprio, uma lacuna que este projeto do
Bloco, na sua opinião, vem agora preencher. "Concordo com esta proposta
porque respeita as convenções internacionais, retira negócio aos
traficantes, é apoiada em experiências bem sucedidas e adota uma
estratégia de prevenção e diminuição da procura", afirmou, acrescentando
que a considera "um passo significativo, como foi o da
descriminalização, para lutar contra a hipocrisia e os preconceitos,
acautelando a questão da saúde individual e da saúde pública".
No debate que se seguiu, foram colocadas questões sobre o
anteprojeto de lei em discussão pública, nomeadamente sobre os limites
no autocultivo, a questão das sementes - atualmente proibidas em
Portugal - ou o acesso à canábis para fins terapêuticos, bem como
questões relacionadas com o funcionamento dos clubes sociais. No fim do
debate, o deputado João Semedo aformou que ele irá continuar com outras
sessões em várias cidades - Braga e Leiria têm já agendados debates para
dia 6 de outubro e no Porto já se realizou no dia 27 - para recolher
mais contributos para melhorar a proposta, antes do Bloco a apresentar
no fim deste período de discussão pública.
PICICA: "Novas subjetividades brasileiras estão a todo vapor criando suas
formas de vida fora de grandes instituições; nas esquinas, nos morros,
nos bares, na rua, no camelo, no baile Funk, nas praças. Um Brasil que
se múltipla em brasis, uma potência para certa resistência, criar um
Brasil sem O Brasil Maior. Uma produção de subjetividade que não para de
ser produzida em uma velocidade tamanha que não cabe mais um nome ou um
sobrenome e muito menos: deve ser assim o Brasileiro. Em troca desta
identidade, uma subjetividade de brasileira que experimenta um exercício
intensivo das ruas, o mergulho do corpo vivo e precário, dos sujeitos
vulneráveis, mas livres na via esquizo dos devires, nos atritos entre
intensidades heterogêneas e seus efeitos violentos que desmancham, criam
formas de existências munidos de potência, que devora o capital e faz
dele instrumento de resistência, de sobrevivência e portanto ameaçam o
capital por não entrarem na cadeia produtiva.
Assim, ao invés dos corpos determinados biologicamente, corpos
selvagens atravessados pelas experiências, ao invés do inconsciente
freudiano, o inconsciente antropofágico do intestino e do pé é a ética
da alteridade. Abrir canais, criar rachaduras, criar gagueira na própria
língua disse Deleuze. Inventar uma língua de cabeça para baixo."
Um Brasil que deve ser e um Brasil que se devora
28/09/2012 Por Gabriela Serfaty
Por Gabriela Serfaty, versão
escrita da fala apresentada à Casa de Rui Barbosa, no seminário
“Antropofagia e multidão – Tatu or not tatu”, em 6 de setembro de 2012. —–
“Viver é pertencer a outrem.
Morrer é pertencer a outrem.
Viver e morrer são a mesma coisa.
Mas viver é pertencer a outrem de fora,
e morrer é pertencer a outrem de dentro”.
Fernando Pessoa
Oswald de Andrade no Manifesto antropofágico propõe uma forma de
pensar alteridade na sua radicalidade. Ele inaugura uma desorganização
na geografia ao mudar os trópicos de lugar. Para os Europeus,
paternalistas, escravocratas e colonizadores, o canibalismo praticado
pelos selvagens era visto como primitivo e negativo.Numa visão positiva e
inovadora,Oswald resgata metaforicamente esta pratica para pensar a
cultura brasileira.Ser devorado, regurgitado pelos ’’primitivos’’ ditos
passivos porém selvagens, que com sede e fome colocam um tempero a mais
no caldeirão;o que faz com que o colonizador deixe de ser uma ameaça
para ser incorporado no colonizado que retira da morte, sua a vida.
É a partir desta relação canibal-colonizador que Oswald quebra com a
lógica de dominação e de inferioridade que tomava conta da identidade
brasileira e propõe uma visão afirmativa com que vem de fora: receber
da hegemonia dos países do norte à moral e seus bons costumes, mas não
só absorvê-los passivamente e sim transformá-la em algo que seja nosso.
Esta é uma tentativa de repensar rigorosamente a cultura e todo o
processo civilizatório com sua dinâmica totalitária, quando o outro
passa a ser desejado e devorado na sua diferença. Trata-se de uma
alteridade que se torna viva e pronta para ser deliciosamente saboreada.
Deixa de ser temida para se inscrever na cultura menor. Assim, o que
vem de fora passa a ser servido no banquete junto com todos os outros
ingredientes. O fora passa a fazer parte do dentro e nesse processo de
canibalização, surge alguma coisa nova: um meio índio, um meio negro,
meio branco com suas diferenças que se multiplicam. Um jogo de contagio,
onde o fora e o dentro se relacionam de tal forma que surge algo
chamado Brasil. Trata-se de recusar ao extremo o paralelismo cartesiano
que percebe a diferença de forma comparativa com um ideal de pureza e
representação, para a partir daí pensar a diferença pura, sem que o
diferente signifique desigualdade de raça, de gênero, de classe e de
comportamento, mas sim uma algo desejado.
Dentro deste contexto, o movimento antropofágico não nega as
influências da cultura europeia em troca de uma cultura popular e
regional, ao contrário, faz dessas influências, paternalistas e
representacionais, matéria prima de novas singularidades brasileiras.
As relações passam a existir no contato de um sujeito em direção ao
outro e é neste campo de forças, sem exterioridade e idealismo, que
certa desobediência, antes controlada e reprimida, é ativada neste devir
primitivo. Ao devorar as preciosidades europeias se produz subvidas
potentes e alegres agenciadas por um campo de imanência que retira a
economia libidinal e política do plano transcendental. É nesta mudança de perspectiva que a ideia de subdesenvolvimento é
repensada como uma forma de vida e não uma vida sem forma. Oswald
percebeu que ao descolar-se da ideia de dependência e independência, da
falta e da fantasia de um país atrasado para uma ideia de
interdependência, quebra-se essa relação entre o colonizado e
colonizador.
Mas como podemos pensar a antropofagia nos dias de hoje? Dentro de um
mundo capitalista globalizado que funciona em rede e com uma enorme
circulação de informações, mercadorias e pessoas,onde as fronteiras,se
dissolveram para o capital poder circular livremente, onde está o fora?
Onde foi parar a Europa?
Os pares que definiam o conflito político na modernidade se
embaralharam, o poder e o fora não se manifestam tão abertamente como no
passado, mas os conflitos, tanto micro quanto macropolíticos continuam
impregnados de valores morais que nos foram exportados. Apesar de
algumas esferas da sociedade ‘’romperem’’ com alguns valores como um
sujeito assalariado e um casamento até a morte nos separe, foram
criadas novas identidades mais flexíveis que acompanham o engendramento
do capital e continuam sendo fabricadas em torno de um ideal de vida
pré definido.
De tal modo para fugir deste turbilhão de navegações, de ventos, de
tendências e de fluxo, a fabricação de um sujeito assujeitado é uma
alternativa estável. Capaz de controlar as esferas selvagens da
subjetividade onde se apoiam as grandes instituições que representam o
mercado e o estado neoliberal globalizado e deixam certa Europa morar em
terras tropicais. Isto quer dizer que o centro continua a apontar as
tendências e os bons costumes, mas o centro agora está dentro, as
fronteiras já não são físicas mas imaginárias. São fronteiras abstratas,
que detém o poder de comandar concretamente o desejo e os processos de
subjetivação e fazer com que os habitantes da terra mundializada tendam a
produzir a si mesmos e sua relação com o outro em função destas
imagens.
É na construção das singularidades que o imperativo do capital se
manifesta impondo uma visão vertical, apodera a mente de todos os
saberes e os deveres e faz dela uma reguladora dos abalos,nada deve
fugir ao autocontrole, para isto procura-se um calmante, uma terra
firme, um corpo a seu serviço, um corpo que não pode sentir, só
deprimir,um corpo morto-vivo.É com este corpo que criam classificações:
O ser Artista,o ser Político, o ser Informal, o ser Servidor,o ser
Pobre, o ser Classe A, o Ser Classe B,o Ser Classe C Cito um trecho do
manifesto Poesia Pau Brasil diz :
”O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando
politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser
doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos.O
Império foi assim. Eruditamos tudo’’. (Oswald de Andrade)
Assim se foge da selvageria dos mundos possíveis,das terras ainda
inabitadas e se criam autistas de um identidade só, imersa em identidade
portátil, um certo deve ser assim, que impede o corpo de ir mais além. É
dentro dessa estrutura onde o capital parece ter capturado todas as
esferas da vida e produzido identidade brasileiras prontas para serem
vendidas e passivamente devoradas, onde a antropofagia pode ser
novamente reativada? O projeto modernista Oswald de Andrade tentou
descolonizar o pensamento e mudar a consciência de lugar, mas esta
consciência europeia continua disfarçada por ai, produzindo corpos
vestidos de vergonha, corpos endividados,, comportados,
vegetarianos,alongados e na medida. Mas e os desvios e os excessos? E
aquilo que foge a esta nova forma de colonização?
Onde o estado deixa de operar sobre os órgãos e imprimir registros
sobre o corpo, é que ele pulsa, racha, desorganiza, se solta, se suja, o
corpo que se marginaliza. Um corpo vivo é sem órgãos isto é sem
códigos e sem um funcionamento fechado e crônico. É um corpo que
transforma a Macabéias em Macunaímas e redescobre uma tentativa de
‘’reeducação da sensibilidade’’ como diz Suely Rolnik.Logo, para
reativar a antropofagia é preciso se desfazer desta obediência cega a
este Outro colonizador já interiorizado, que desde sempre esteve
penetrado na política brasileira. É preciso fazer com que o desejo e os
processos de subjetivação tenham uma relação com outro dentro no campo
da experimentação.
Desta forma, é no reconhecimento de certa vulnerabilidade que o outro
pode deixar de ser apenas um objeto da representação e se torne um
corpo vivo, devorável em um território que não é seu, deixando o outro
invadir pelo corpo, pelo pé e pela mão. Para se abrir ao vulnerável é
necessário certa ativação da percepção. Não se trata de ser dominado
pelo outro, mas virar outro do outro. ‘’Outrar-se’’, disse Fernando
Pessoa. Nem que seja por um instante, perder-se de si, do compromisso
serio consigo e deixar esse Eu sair da zona central e escorrer pelas
extremidades, caminhando pela orelha, punhos, mãos, dedos até chegar aos
pés. Deixar o corpo perder o umbigo, ou melhor, fazer esse umbigo ir
para cabeça Criar para si um corpo sem órgão, com uma dose de prudência e
um mínimo de território para deixar passar as intensidades e fazer o
organismo perder o eixo. Desorganizar-se no encontro com outro. Pensar
com pé e sambar com o pensamento. Se permitir experimentar esta
vulnerabilidade, onde o corpo é vital, volátil, liquido gás e solido, ou
seja, múltiplo. Permitir ser devorado e deixar a periferia operar
descentralizando a subjetividade em todas as suas esferas, não deixando o
corpo ser coordenado por uma dinâmica narcísica que constrói um corpo
enrijecido a serviço do imperativo de um pensamento representacional.
Ainda neste processo, aparecem os sintomas como do trabalhador com
sua insatisfação estável, que ‘’assegura’’ o sujeito destes terremotos.
Cito Suely Rolnik, num trecho do texto Geopolítica da Cafetinagem: “na
política de subjetivação em curso tem sido a anestesia da
vulnerabilidade ao outro – anestesia tanto mais nefasta quando este
outro é representado como hierarquicamente inferior na cartografia
estabelecida, por sua condição econômica, social, racial ou outra
qualquer. É que a vulnerabilidade é condição para que o outro deixe de
ser simples objeto de projeção de imagens pré-estabelecidas e possa se
tornar uma presença viva, com a qual construímos nossos territórios de
existência e os contornos cambiantes de nossa subjetividade”
Como fazer desta política de subjetividade uma forma de criar um
Brasil onde a Europa se desloque do umbigo do mundo? Onde a periferia e o
centro não mantenham relações de hierarquia e as subjetividades
brasileiras não se definam apenas pelo neo-arcaísmo da Igreja
Pentecostal ou pelo estilo de musica Tecno-Brega, mas que estas esferas
possam se devorar e se contaminar a ponto de produzir uma hibridização
da cultura, da sexualidade, da política, da estética e por fim da ética.
Novas subjetividades brasileiras estão a todo vapor criando suas
formas de vida fora de grandes instituições; nas esquinas, nos morros,
nos bares, na rua, no camelo, no baile Funk, nas praças. Um Brasil que
se múltipla em brasis, uma potência para certa resistência, criar um
Brasil sem O Brasil Maior. Uma produção de subjetividade que não para de
ser produzida em uma velocidade tamanha que não cabe mais um nome ou um
sobrenome e muito menos: deve ser assim o Brasileiro. Em troca desta
identidade, uma subjetividade de brasileira que experimenta um exercício
intensivo das ruas, o mergulho do corpo vivo e precário, dos sujeitos
vulneráveis, mas livres na via esquizo dos devires, nos atritos entre
intensidades heterogêneas e seus efeitos violentos que desmancham, criam
formas de existências munidos de potência, que devora o capital e faz
dele instrumento de resistência, de sobrevivência e portanto ameaçam o
capital por não entrarem na cadeia produtiva.
Assim, ao invés dos corpos determinados biologicamente, corpos
selvagens atravessados pelas experiências, ao invés do inconsciente
freudiano, o inconsciente antropofágico do intestino e do pé é a ética
da alteridade. Abrir canais, criar rachaduras, criar gagueira na própria
língua disse Deleuze. Inventar uma língua de cabeça para baixo.
São os Franciscos, os Joãos, os Silvas que na insistência da
sub-existência, revelam que é preciso resistir a tradição, sem
resignação, mas que insista na transformação e na produção de um outro
modo de vida sub. Como diz Negri é : “Ao lado do poder, há sempre a
potência. Ao lado da dominação, há sempre a insubordinação. E trata-se
de cavar, de continuar a cavar, a partir do ponto mais baixo: este ponto
… é simplesmente lá onde as pessoas sofrem, ali onde elas são as mais
pobres e as mais exploradas; ali onde as linguagens e os sentidos estão
mais separados de qualquer poder de ação e onde, no entanto, ele existe ;
pois tudo isso é a vida e não a morte.”
Afinal toda essa antropofagia vira Youtube e novela.
PICICA: "O
ministro José Dirceu está sendo julgado PRECISAMENTE porque aqueles ministros do
STF são manifestação de todas as forças mais reacionárias que jamais houve no
Brasil, apenas que, hoje, mais “civilizadas”. As mesmas forças, em estado mais
“bruto”, mataram Getúlio. Mas o Brasil avançou muito! Hoje, aquelas mesmas
forças reacionárias já não têm poder para matar o ministro José Dirceu, o
presidente Lula, a presidenta Dilma e os votos da maioria dos brasileiros que
são avalistas da democracia brasileira, hoje, mais poderosos, os nossos votos,
do que jamais foram, em 500 anos. Então aqueles ministros, que vestem a toga
como se usassem cetro e coroa -- ou o pelourinho e o tronco! -- lá ficam,
consumindo tardes e tardes e tardes infindáveis naquela patética “leitura de
votos”... Como se a extensão dos votos lidos, as pilhas de páginas engordadas
com detalhes de inquérito policial, com raras linhas de consideração ao que
determina a lei, bastasse para acrescentar conteúdo democratizatório aos tais
“votos”!"
Não e não! Nunca, D. Hildegard! Dirceu vive!
O Brasil riremos por último, de
vocês todos, até dos “cães de guerra” (by Shakespeare), do
STF-2012!
Ainda sob o impacto da cena
detestável montada pela jornalista Hildegard Angel [1], não se sabe se por ingenuidade,
mas prova de que não se podem misturar jornalismo e política, nos sentimos na
obrigação de lembrar algumas coisas.
Há
zilhões de zilhões de coisas que se têm de lembrar. Não conseguiremos lembrar
muitas, nem há tempo. Mas lembraremos aqui, pelo menos, uma:
--
o contexto narrativo, discursivo em que, na peça de Shakespeare, acontece o
discurso que a jornalista Hildegard Angel desossou e subutilizou.
Evidentemente,
o discurso do “vim enterrar Cesar, não vim elogiar Cesar” não é toda a conversa.
Se fosse, nem Shakespeare seria Shakespeare! [risos, risos]
Antes
daquele discurso, Marco Antonio chegara ao Senado, momentos depois do
assassinato de Cesar, resultado de complô de cuja armação Marco Antônio tinha
conhecimento. Em vários sentidos, Marco Antônio é cúmplice dos assassinos; num
mínimo por não ter impedido o assassinato; noutro mínimo, por ser amigo de
césares. Sempre fora amigo daquele Cesar e sabia o quanto Cesar não acreditara
nos muitos sinais prévios de que o complô estava em marcha. (Daí, aliás, a surpresa
de Cesar, já convertida em dito popular: “Até tu, Brutus?!”). Exatamente por
Marco Antônio ser notório amigo de Cesar, a multidão o recebe mal, supondo que
ele viesse “elogiar o ditador”, uma das falas que se ouvem “da massa”
fascistizada, antes de a massa ser conduzida/persuadida pelo discurso de Marco
Antônio a começar a desconfiar mais dos senadores que de Cesar. Por isso, para
explicar a que veio e ganhar alguma confiança da massa, Marco Antônio abre seu
discurso com uma justificativa:
“vim
enterrar, não elogiar”.
Mas,
antes disso, na cena anterior, chegado ao Senado, Marco Antônio conversara com
os senadores assassinos. Todos ali se conhecem muito bem. Marco Antonio pede
licença aos senadores assassinos para falar à assembleia, fazer uma espécie de
“encomendação” do morto. Os senadores lhe dizem que sim, que pode falar, mas que
tenha cuidado com o que vai dizer. Que nada diga contra os assassinos. Que meça
as palavras. Mas que, sim, tem autorização para falar à assembleia. De lado,
entre eles, os senadores comentam que será bom, mesmo, que fale, como “prova” de
que o Senado (para a jornalista Hildegard Angel, o STF) seria “isento”.
Então,
os senadores assassinos saem para a praça (não sem antes examinarem as túnicas:
que não aparecessem eles, lá, ainda respingados de sangue!). Marco Antônio fica
a sós com o morto. E ali, então, sim, antes de ir à praça, ele fala, de fato, pelo morto.
Essa
fala é muito mais politicamente significativa, do que o discurso posterior, à
multidão.
De
fato, nem se pode entender corretamente o discurso à multidão, senão no contexto
narrativo da peça.
Marco
Antônio sabe que aquele assassinato põe Roma sob grave risco. Não se trata,
absolutamente não, de pedir que algum Senado/STF “faça justiça”.
Trata-se,
isso sim, no discurso de Marco Antônio do “vim enterrar (etc.)”, de ele
conseguir-fazer-ver – conseguir mostrar! – à multidão, um Senado/STF que, das
duas, uma ou ambas: (a) ou o
Senado/STF se deixou conversar pela baboseira moralista, justiceira,
vingancista, metida a “ética” do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) udenista e
eternamente golpista no Brasil há mais de 60 anos; ou trata-se de Marco Antônio
conseguir mostrar à assembleia (b)
que o próprio Senado romano/STF é, ele mesmo, uma desgraçante fonte
desdemocratizatória de mal “legalizado”.
Porque,
se Marco Antônio não conseguir mostra (a) ou (b) acima, ou (a) e (b), e o povo for mantido engambelado,
duas desgraças acontecerão:
(c) O
Senado/STF desmoraliza-se, de vez; além de assassino, terá também fracassado no
servicinho, reles, sujinho, mas ainda importante, de manter a aparência de
grandeza de Roma (ou de manter ativa a reles democracia que há no Brasil; que é
reles, mas que, pelo menos, arremedo de democracia e reles, que seja, ainda tem
de manter algum ar de democracia, porque, se não mantiver, nem a luta pela real
redemocratização do Brasil conseguirá avançar). E, segundo,
(d), se o
Senado/STF desmoralizar-se de vez, Roma se torna ingovernável. E se acaba. E
babaus pré-redemocratização engatinhante, hoje em curso no Brasil.
Exatamente
porque Marco Antônio sabe de tudo isso é que ele sabe que tem o dever
político (não algum “dever de amigo”! Que besteira é essa, D. Hildegard?!
Numa hora dessas?! Faça-me o favor!) de falar à Assembleia: para impedir que a
multidão deseducada, desdemocratizada,
manipulada-conduzida-enlouquecida-fascistizada pelo gesto assassino dos
senadores/STF, decida julgar, ela mesma, todos os crimes de todos os senadores e
degolá-los na praça, operação na qual o primeiro degolado seria, só pra começar,
o império romano. Ou, no caso, Brasília inteira, o STF e toda a frágil, reles,
fragilíssima quase-democracia brasileira.
O
discurso de Marco Antônio, portanto, não é discurso para “falar a favor” do
morto, ou falar “como amigo” do morto, nem, muito menos, ocasião para “explicar
o morto”. Marco Antônio sabe que nenhum morto jamais será despido, pela morte ou
pelo amor dos amigos, da própria história e papel político – nem por sentença de
algum STF! É o contrário disso! A assembleia tem de despertar para a consciência
do próprio poder: cabe a ela democratizar o senado romano e o STF-2012 em
Brasília. Trata-se disso.
Mais
uma: o discurso de Marco Antônio não é, de modo algum, “emotivo” ou “emocional”
– o que o xororô da jornalista Hildegard Angel é e só é. É, outra vez, o
contrário disso, e mais um traço que a jornalista Hildegard Angel não soube ler
em Shakespeare.
O
discurso de Marco Antônio é discurso milimetricamente construído como peça
pensadíssima de oratória política com objetivo claro: Marco Antônio fala,
exclusivamente, para fazer reverter a loucura da multidão que, naquele momento,
quer mais sangue. Evidentemente, nem Marco Antônio nem Shakespeare cometem a
temeridade tola de supor que seria possível persuadir senadores assassinos/STF,
assim, só no gogó!
Como
se os senadores assassinos/STF não soubessem da longa, potente, bela história
política do ministro José Dirceu!
Como
se estivessem fazendo o que estão fazendo porque não soubessem da importância
histórica e das capacidades do ministro José Dirceu!
Como
se não soubessem que o ministro José Dirceu é o ÚNICO sobrevivente da
resistência à ditadura que sobreviveu, até hoje, como está -- e felizmente para
o Brasil -- ainda próximo, aliado, ombro a ombro, do poder brasileiro
democrático.
O
ministro José Dirceu está sendo julgado PRECISAMENTE porque aqueles ministros do
STF são manifestação de todas as forças mais reacionárias que jamais houve no
Brasil, apenas que, hoje, mais “civilizadas”. As mesmas forças, em estado mais
“bruto”, mataram Getúlio. Mas o Brasil avançou muito! Hoje, aquelas mesmas
forças reacionárias já não têm poder para matar o ministro José Dirceu, o
presidente Lula, a presidenta Dilma e os votos da maioria dos brasileiros que
são avalistas da democracia brasileira, hoje, mais poderosos, os nossos votos,
do que jamais foram, em 500 anos. Então aqueles ministros, que vestem a toga
como se usassem cetro e coroa -- ou o pelourinho e o tronco! -- lá ficam,
consumindo tardes e tardes e tardes infindáveis naquela patética “leitura de
votos”... Como se a extensão dos votos lidos, as pilhas de páginas engordadas
com detalhes de inquérito policial, com raras linhas de consideração ao que
determina a lei, bastasse para acrescentar conteúdo democratizatório aos tais
“votos”!
E
desde quando, por falar nisso, o fato de algum daqueles ratos do PP terem
recebido dinheiro no dia de uma ou outra votação prova(ria) que houve compra de
votos?! Desde quaaaaaaaaaando, ministro Joaquim Barbosa?! No mesmo dia em que
recebeu dinheiro, um daqueles ratos do PP teve um filho. Está(ria) provado que
recebeu dinheiro para ter um filho?! Não fosse tão doentio ridículo, seria de
rolar de rir.
Aqueles
ministros conhecem todas as capacidades do ministro José Dirceu!
Nenhum
“mensalão” (que nunca existiu) poderia algum dia ter sido mais corrompedor que o
movimento pelo qual o governo de FHC comprou a própria reeleição. Nenhum
“mensalão” (que nunca existiu) foi algum dia mais corrompedor que as operações
pelas quais todo o dinheiro das privatizações foi “desaparecido” -- e jamais
buscado!
A
Privataria Tucana aí está, um catatau de provas suuuuuuuuper probatórias e já
reunidas e publicadas, mas ainda à espera da atenção do ministro Joaquim
Barbosa... Mas o STF, agora, tem de fazer o diabo, pra tentar enterrar Dirceu
vivo! É a lei. Como repete a jornalista Hildegard Angel. E a jornalista
Hildegard Angel é jornalista honrada.
O
que Marco Antônio e Shakespeare sabem e fazem por aquele discurso é coisa muito
diferente disso. Os dois sabem que têm
de tentar persuadir a multidão e impedir que a loucura assassina que vem “de
cima” se alastre, sem controle possível, para “baixo”. E basta saber disso,
para ver que a jornalista Hildegard Angel cometeu uma temeridade (no mínimo),
naquela “paráfrase” arrogante.
O
que nos interessa lembrar é que, antes do discurso do “não vim elogiar, vim
enterrar” famosésimo, há, em
Shakespeare, do mesmo Marco Antônio, sozinho com o corpo de Cesar assassinado,
dentro do Senado, o também muito conhecido, embora menos citado por jornalistas
e outros re-citadores de repetição – e não por acaso!
É
conhecido como o “discurso contra os cães da guerra”. E esse, sim, é Shakespeare
a ser recordado aos ministros do STF e ao Brasil em geral, hoje.
Aqui
vai esse outro discurso, em tradução de trabalho, que fazemos agora, na
correria.
É nossa
contribuição para tentar impor alguma racionalidade ao chilique
jornalístico-espetaculoso da jornalista Hildegard Angel.
Julio
Cesar,
Shakespeare, ato 3, cena 1
(em
português, mas a tradução é HORRENDA). Fiquem, pelo menos prá começar, com a
nossa tradução, abaixo. Todas as correções são
bem-vindas.)
BRUTO —
Marco Antônio, aqui tens o corpo. No discurso fúnebre, não deves lançar nenhuma
censura sobre nós. Dize de César todo o bem que quiserdes, explicando que nós te
demos permissão para falar. A não ser isso, ficareis excluído das cerimônias
fúnebres. E ainda: tu falarás da mesma tribuna em que eu falar, depois de
mim.
ANTÔNIO
— É o que desejo. Está bem.
BRUTO —
Prepara, então, o corpo e vem conosco.
(Saem
todos, com exceção de Antônio.)
ANTÔNIO,
ao cadáver — Meu amigo, pedaço de terra a verter sangue, perdoa que me mostre
humilde e brando com estes carniceiros! Fizeram de ti a ruína do mais nobre
homem que jamais viveu na corrente do tempo. Ai, ai da mão que fez correr tão
precioso sangue! Mas aqui vaticino, ante tuas feridas. Falo pelas bocas mudas,
que me pedem língua, voz e fala:
Sobre
os teus assassinos e sobre os homens que se calaram, a maldição desabará. Lutas
internas sem fim. A mais terrível das guerras civis encherá cada canto dessa
Roma. O sangue e a destruição de tal maneira ficarão familiares, vulgares, que
até as mães acabarão por sorrir à vista dos filhos massacrados pela guerra. A
honra será asfixiada, pelo hábito do crime. O espírito do César assassinado –
porque nenhum complô assassina o espírito de um homem que se alimentou do melhor
que havia no povo – clamará seu quinhão. E voltará, rubro ainda do inferno, para
gritar em tom de mando contra a injustiça: “Luta sem quartel!” Este assassinato
horrível empesteará Roma de cadáveres que reclamarão honra e sepultura. E assim
se soltarão os cães da guerra.
Então,
entra um criado, que ajudará Marco Antônio a preparar o corpo para ser levado a
cerimônia, à frente do Senado, onde Marco Antônio fará o discurso do “vim
enterrar” etc. etc., que a jornalista Hildegard Angel meteu-se a parafrasear.
Mas cujo argumento ela inverte!
Muito
estranhamente, a jornalista Hildegard Angel pré-mata. Quer dizer: ela primeiro
mata e enterra, preventivamente, um homem vivo! Para, então, por-se a elogiá-lo,
em perfeita
segurança. Digamos que é movimento tolo. Digamos que não passou
disso.
Felizmente,
o nosso ministro José Dirceu está e segue vivíssimo, graças a deus, para o bem
do Brasil. E nem de longe corre algum risco de ser morto por sentença do STF.
O
Brasil é infinitamente complexo. Dessa complexidade, vem nossa força. A força
que nos trouxe até 2012, e que nos levará adiante.
O
ministro Joaquim Barbosa não fará história. Nós e o ministro José Dirceu, sim,
fizemos, fazemos e faremos a história do Brasil.
Fato
é que nem Shakespeare, em toda a sua glória, daria conta da tragicomédia que o
STF-2012, que aprende leis, justiça e democracia nos jornais do Grupo GAFE
(Globo-Abril-FSP-Estadão), está escrevendo em Brasília!
Pois
que se lixem! Pois inventem lá o que queiram! Façam lá o que lhes dê na telha!
Vocês são patéticos! O Brasil é mais! O Brasil riremos por último, de vocês
todos.
Também riremos muito desse patético “jornalismo” que desgraça o
Brasil, até quando é bem intencionado!
Dirceu
vive! No pasarán! Venceremos! Só a luta ensina! Viva o Brasil!
São
Paulo, 18/9/2012
Coletivo
Vila Vudu de Tradutores/redecastorphoto
Notas
da redecastorphoto e do pessoal da Vila Vudu
[1]
Pode ser visto, como referência, a seguir, mas não se recomenda: é
HOR-RÍ-VEL.
[2
Marco
Antônio by Shakespeare, como nós e Shakespeare, conhecemos bem os riscos
de, naquelas/atuais circunstâncias, deixar falar também o coração, risco aliás
idêntico a deixar falar só o coração. Às tantas, Marco Antônio diz: “Permitam-me que me cale, porque meu coração
desceu ao túmulo com Cesar. Peço tempo para reencontrá-lo”, fala que é
perfeita formação, em discurso, da consciência política clara de que política se
faz também com o coração; que se pode fazer até sem coração; mas que nunca,
nunca, em nenhum caso, se pode fazer só com o coração (Lênin vive!). Isso a
jornalista Hildegard Angel também não soube ler em
Shakespeare.