junho 20, 2013

No Brasil há uma insatisfação com a forma burocrática de se fazer política, segundo Hugo Albuquerque

PICICA: "Embora tanto Alckmin quanto Haddad tenham saído chamuscados, existe uma crítica concreta que norteou tudo isso e está para além da tarifa de transporte público: uma resposta, em uma escala maior, às agendas do neoliberalismo e do neodesenvolvimentismo, sua forma burocrática de fazer política."


Hugo Albuquerque
Noves fora vinte cents, passadas as manifestações, grandes atos, belos momentos, violência policial, a tentativa neoconservadora de se apoderar do movimento, a passagem de um protesto sobre o ônibus que se tornou, ele mesmo, um protesto-ônibus -- que ficou tão lotado, mas tão lotado, que as pautas originais quase precisaram descer no ponto seguinte -- o reajuste tarifário foi revogado. Embora tanto Alckmin quanto Haddad tenham saído chamuscados, existe uma crítica concreta que norteou tudo isso e está para além da tarifa de transporte público: uma resposta, em uma escala maior, às agendas do neoliberalismo e do neodesenvolvimentismo, sua forma burocrática de fazer política. O esgarçamento da relação entre a potência constituinte e PT, depois de décadas, é um sinal do esgotamento do governo Dilma -- ao passo que o neoliberalismo continua incapaz de agregar as novas demandas. Sem este espaço, as coisas se canalizaram em uma pauta metropolitana, o que foi agravado por decisões, omissões, declarações públicas nos estados e municípios (in casu na capital paulista e no estado). Tudo, no entanto, foi mais cacofônico do que polifônico e não é preciso ser velho para não ter entendido o que aconteceu: sejamos honestos, as coisas se tornaram confusas em tantos momentos. Poderia falar que talvez seja hora de nos empenharmos pela substituição do sistema tarifário de transporte público por um sistema solidário e contribuitivo, também, mas o superávit de revolta se deve a um déficit de alegria, sem a qual a democracia não pode viver sem: e é preciso constituir espaços e renovar outros.

Um comentário:

XAD disse...

Fascistas, Fascistas! Não passarão!!!
Acabo de voltar da passeata na Av. Paulista (20/06), convocada pela direção nacional do PT. Éramos não mais de 200 militantes.

Quando cheguei à concentração, na Av. Angélica, vi que talvez não conseguíssemos caminhar nem 100 metros... O ódio dos que estavam na Paulista e que ocupam as ruas há dias era total. Mas esse ódio não era direcionado apenas ao PT. Era contra qualquer bandeira, qualquer movimento social organizado. A CUT estava presente. O Movimento Passe Livre. E a UNE também.

Durante a passeata, várias bandeiras foram atacadas, rasgadas e queimadas sob gritos de "Fora PT, vai tomar no cu!", "o povo acordou", "oportunistas" e, last but not least, "mensaleiros"!!!

Desde o início, foi necessário formar um cordão humano para "proteger" o final da passeata. Às vezes, formava-se um cordão também na lateral.

Os ataques acompanharam toda a passeata. Fomos vaiados na maior parte do tempo (por milhares, milhares de manifestantes). O silêncio só veio quando cantamos um trecho do hino nacional. Também gritávamos: "Sem violência", "Democracia", "Vem pra rua, vem contra a tarifa", "olha que loucura, contra partido, parece ditadura" e "R$ 3 não dá, contra a tarifa, é passe livre já".

Durante o trajeto, tentaram invadir a passeata, ameaçaram, provocaram, partindo para a agressão, xingando o tempo todo. Foi tenso. Deu um medo danado.

Um dos gritos que se expandia com muita facilidade, espalhando-se pela Paulista, era: "O povo unido não precisa de partido". Enquanto gritavam, as pessoas, que ocupavam as laterais da avenida, colocavam os braços para cima, em gesto típico do nazismo/fascismo.

Seguimos até o Masp. Não sei nem dizer como conseguimos. Nessa hora, os gritos de "abaixa a bandeira" tornaram-se cada vez mais fortes. E os ataques também. Chutes e ameaças, de um grupo de "carecas" e fortões, que seguiu a passeata durante todo o trajeto, tornavam a cena totalmente assustadora.

Na altura da estação Trianon-Masp fomos cercados. A passeata tornou-se, praticamente, um cordão humano, de um lado e de outro. Começaram a jogar rojões em cima da gente e bolas de papel com fogo.

Nessa hora, correram avisos para que a gente guardasse as bandeiras. Eu, por exemplo, estava empunhando uma bandeira da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (acho que era isso) e desfilei o tempo todo enrolada numa bandeira do PT. Alguém pegou a bandeira da UEE e outro me avisou para tirar a bandeira do PT e guardar na mochila (para evitar linchamento e coisas do tipo, caso a passeata se dispersasse).

Para vocês terem uma ideia, eu estava compondo o segundo cordão no fim da passeata. Não foi nada fácil.

Nesse momento surgiu o grito: "Fascistas, Fascistas, Não Passarão!!".

O grito foi entoado em uníssono, com muita força. Embora o momento não fosse propício, cheguei a rir quando uma moça, que estava atrás de mim, soltou: "gente, não adianta gritar isso, eles não sabem o que é, vão achar que é só provocação e, ao que parece, somos minoria!!".

E éramos. Depois de alguns minutos, abaixamos as bandeiras, a passeata foi invadida. Dispersamos.
Voltei para casa, com a bandeira na mochila, pensando. Pensando muito. Lembrei do Allende.

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2013/06/20/xad-na-paulista-se-lembrou-do-allende/