PICICA: "Ou nós vamos melhorar a miséria, ou nós vamos resolver o mundo, a
nossa vida e a nossa esperança. Portanto, acho que não há outro caminho
que não seja a insubordinação", realçou. "Não digo insubordinação como
se ela, por si mesmo, trouxesse as respostas automaticamente. Mas tem
que haver uma insubordinação, primeiro, em termos do espírito, em termos
daquilo que nós temos que não aceitar deste mundo e da explicação que
se dá do mundo", explicou o escritor moçambicano."
Mia Couto: "Não há outro caminho que não seja a insubordinação"
O escritor moçambicano venceu a 25ª edição do
Prémio Camões e voltou a defender a urgência de uma insubordinação que
questione o atual sistema mundial e abra o caminho para alternativas.
Mia Couto, vencedor do Prémio Camões 2013. Foto maique martens/Flickr
"Não espero nunca uma coisa destas. Tenho com os prémios uma relação de distância, não de arrogância, mas pensando que não vale a pena olhar para eles porque a gente trabalha por outra razão, que são outros prémios mais importantes que este", declarou o escritor. Para Mia Couto, o segundo moçambicano a ganhar o Prémio Camões desde José Craveirinha em 1991, ele é também um "contributo" para acabar com o pessimismo em relação a África. "Acho que é bom que este continente dê contas de si e sinais de si por via da produção artística", assinalou.
Homenageado há dois anos, em Penafiel, nas Escritarias, Mia Couto
deixou um apelo para o tempo presente: “É preciso sair à rua, é preciso
revoltarmo-nos, é precisa esta insubordinação”. Agora, repete esse
desafio à agência Lusa: "As pessoas, acho que todas, se compenetraram,
principalmente nos últimos anos, que isto não é uma crise localizada,
não é uma falha, nem é um erro de um certo sistema, mas que é o próprio
sistema que tem que ser radicalmente questionado".
"Ou nós vamos melhorar a miséria, ou nós vamos resolver o mundo, a
nossa vida e a nossa esperança. Portanto, acho que não há outro caminho
que não seja a insubordinação", realçou. "Não digo insubordinação como
se ela, por si mesmo, trouxesse as respostas automaticamente. Mas tem
que haver uma insubordinação, primeiro, em termos do espírito, em termos
daquilo que nós temos que não aceitar deste mundo e da explicação que
se dá do mundo", explicou o escritor moçambicano.
Mia Couto conseguiu “passar do local para o global”
A escolha do júri foi justificada pela “vasta obra ficcional
caracterizada pela inovação estilística e a profunda humanidade”, em
trinta livros que extravasaram as fronteiras do seu país e foram
reconhecidas pela crítica, fazendo a sua obra “passar do local para o
global”. José Carlos Vasconcelos disse que foi “ponderado tudo o que
significa [a obra de Mia Couto] nas literaturas de Língua Portuguesa e
na de Moçambique". "Inicialmente, foi muito valorizada pela criação e
inovação verbal, mas tem tido uma cada vez maior solidez na estrutura
narrativa e capacidade de transportar para a escrita a oralidade",
acrescentou o diretor do Jornal de Letras, em nome dos restantes jurados
do Prémio Camões: Clara Crabbé Rocha, catedrática da Universidade Nova
de Lisboa, o escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho, o escritor
angolano José Eduardo Agualusa, Alcir Pécora, crítico e professor da
Universidade de Campinas e o diplomata Alberto da Costa e Silva, membro
da Academia Brasileira de Letras, pelo Brasil.
"Já estava à espera há muito tempo que ganhasse o prémio. É mais do que
merecido pela obra notável que tem publicado", sublinhou Zeferino
Coelho, o editor da Editorial Caminho que tem publicado a obra de Mia
Couto há trinta anos, por entre livros de poesia, contos, crónicas e
ficção.
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