Entre a realpolitik dos gabinetes e a política real da multidão nas
ruas, o Partido dos Trabalhadores parece definitivamente condenado a,
doravante, se restringir aos pactos de governabilidade, condenando seu ‘reformismo fraco’ (na análise de André Singer)
à total imobilidade e consequente perda de qualquer potência política
transformada, constituinte — bem como às resultantes eleitorais que um
tal quadro pode render ao partido.
O anúncio e chamamentos feitos pelo partido para ‘ato de apoio a Dilma’ fazem duvidar, tamanha a mediocridade da capacidade analítica que parecem respaldá-los, se o partido não enxerga além de todos que, nos últimos dias, vem acompanhando — com medo ou entusiasmo — a multidão irromper, em ondas cada vez maiores, nas ruas. Apenas informações novas, inacessíveis à maioria, podem justificar um passo esdrúxulo como esse. E esta não é a primeira prova da mediocridade de análise de situação que o PT deu durante a marcha dos últimos acontecimentos.
Ao tergiversar por dias em relação aos protestos, o prefeito Fernando Haddad e o PT, conseguiram perder uma excelente oportunidade de tornar visível a distinção entre a direita neoliberal e a esquerda governista. A assimilação do PT ao Estado, em processo de verdadeira simbiose, parece ter engessado completamente o partido, amarrando-o nas teias da institucionalidade. O cúmulo da insensatez política se deu ontem (19.06.2013) quando Haddad, após repetir algumas vezes a impossibilidade de se revogar o aumento da tarifa, apareceu, no Palácio dos Bandeirantes (casa do governo tucano paulista) para anunciar conjuntamente a Alckmin a… redução das tarifas. À perspectiva de se diferenciar do PSDB, demonstrando afinação com as ruas, o PT preferiu conduzir uma concertação nacional entre as esferas institucionais de poder, concedendo a revogação dos reajustes das passagens nas capitais mais importantes, como forma de tentar estabilizar a situação.
Como salientamos em texto anterior, apressam-se os que entregam a multidão das ruas ao udenismo e ao golpismo, sem ao menos promover o cabo-de-guerra ideológico na multidão (nunca sobre ou a respeito dela). O movimento dos movimentos é heterogêneo e comporta pautas neutras, politizáveis desde qualquer ângulo do espectro político. Ou a corrupção se tornou um tema da direita a priori? O ódio à máfia midiática não é politizável desde a esquerda? Por que não promover a reforma política, com financiamento público de campanha, ampliação da participação democrática, transparência do poder institucional, entre outras coisas? Por que não enfocar o caráter monopólico e autoritário da mídia brasileira, propondo uma lei de democratização da mídia? São questões de ângulo, não de substância.
Se em outro texto anterior assinalamos a ‘urgência que se apresenta ao PT se este ainda pretende ser um canal de representação do campo da esquerda no Brasil: recuperar sua capacidade de se articular – e não os dirigir, conciliando pelo alto vetando e circunscrevendo discursos e práticas – aos movimentos sociais, cooperando com estes ao fornecer as instâncias representativas do Estado como trincheiras para defender direitos já existentes e para avançar na criação de outros mais’, os recentes episódios são claros ao demonstrar que o diagnóstico petista (ou pelo menos de suas cúpulas) caminha em sentido por tudo oposto, apostando na apatia política.
Com a convocação de ato em defesa de Dilma, o PT extrapola mesmo esse cenário e essa opção, cometendo um erro que pode custar caro ao partido. Até o momento não havia consistência real no golpismo e no udenismo das manifestações por todo o país. O PT parece querer dar aos movimentos uma pauta comum, construir-lhe um inimigo unívoco, jogando a multidão no colo da direita partidária e midiática. Que fique o ensinamento e que o PT encerre ou minore a confiança aparentemente inabalável no marketing político como forma de comunicação. Pode ter dado certo nas últimas eleições, mas certamente já se provou equivocado em tempos de multidão. Os gênios da realpolitik provaram ser os medíocres da política real.
Fonte: O lado esquerdo do possível
O anúncio e chamamentos feitos pelo partido para ‘ato de apoio a Dilma’ fazem duvidar, tamanha a mediocridade da capacidade analítica que parecem respaldá-los, se o partido não enxerga além de todos que, nos últimos dias, vem acompanhando — com medo ou entusiasmo — a multidão irromper, em ondas cada vez maiores, nas ruas. Apenas informações novas, inacessíveis à maioria, podem justificar um passo esdrúxulo como esse. E esta não é a primeira prova da mediocridade de análise de situação que o PT deu durante a marcha dos últimos acontecimentos.
Ao tergiversar por dias em relação aos protestos, o prefeito Fernando Haddad e o PT, conseguiram perder uma excelente oportunidade de tornar visível a distinção entre a direita neoliberal e a esquerda governista. A assimilação do PT ao Estado, em processo de verdadeira simbiose, parece ter engessado completamente o partido, amarrando-o nas teias da institucionalidade. O cúmulo da insensatez política se deu ontem (19.06.2013) quando Haddad, após repetir algumas vezes a impossibilidade de se revogar o aumento da tarifa, apareceu, no Palácio dos Bandeirantes (casa do governo tucano paulista) para anunciar conjuntamente a Alckmin a… redução das tarifas. À perspectiva de se diferenciar do PSDB, demonstrando afinação com as ruas, o PT preferiu conduzir uma concertação nacional entre as esferas institucionais de poder, concedendo a revogação dos reajustes das passagens nas capitais mais importantes, como forma de tentar estabilizar a situação.
Como salientamos em texto anterior, apressam-se os que entregam a multidão das ruas ao udenismo e ao golpismo, sem ao menos promover o cabo-de-guerra ideológico na multidão (nunca sobre ou a respeito dela). O movimento dos movimentos é heterogêneo e comporta pautas neutras, politizáveis desde qualquer ângulo do espectro político. Ou a corrupção se tornou um tema da direita a priori? O ódio à máfia midiática não é politizável desde a esquerda? Por que não promover a reforma política, com financiamento público de campanha, ampliação da participação democrática, transparência do poder institucional, entre outras coisas? Por que não enfocar o caráter monopólico e autoritário da mídia brasileira, propondo uma lei de democratização da mídia? São questões de ângulo, não de substância.
Se em outro texto anterior assinalamos a ‘urgência que se apresenta ao PT se este ainda pretende ser um canal de representação do campo da esquerda no Brasil: recuperar sua capacidade de se articular – e não os dirigir, conciliando pelo alto vetando e circunscrevendo discursos e práticas – aos movimentos sociais, cooperando com estes ao fornecer as instâncias representativas do Estado como trincheiras para defender direitos já existentes e para avançar na criação de outros mais’, os recentes episódios são claros ao demonstrar que o diagnóstico petista (ou pelo menos de suas cúpulas) caminha em sentido por tudo oposto, apostando na apatia política.
Com a convocação de ato em defesa de Dilma, o PT extrapola mesmo esse cenário e essa opção, cometendo um erro que pode custar caro ao partido. Até o momento não havia consistência real no golpismo e no udenismo das manifestações por todo o país. O PT parece querer dar aos movimentos uma pauta comum, construir-lhe um inimigo unívoco, jogando a multidão no colo da direita partidária e midiática. Que fique o ensinamento e que o PT encerre ou minore a confiança aparentemente inabalável no marketing político como forma de comunicação. Pode ter dado certo nas últimas eleições, mas certamente já se provou equivocado em tempos de multidão. Os gênios da realpolitik provaram ser os medíocres da política real.
Fonte: O lado esquerdo do possível
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