fevereiro 08, 2014

"Os direitos das mulheres na Mensagem Presidencial". Texto de Catarina Corrêa

PICICA: "[...] uma análise dos balanços e propostas das partes que tangenciam direitos das mulheres."

Os direitos das mulheres na Mensagem Presidencial


Texto de Catarina Corrêa.

Você pode ter ouvido (mas não se culpe em caso contrário), que o novo Ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante levou a Mensagem Presidencial ontem ao Congresso.

A Mensagem Presidencial é levada todo ano pelo Ministro da Casa Civil ao Poder Legislativo para dar início ao ano legislativo (geralmente, no primeiro dia útil de fevereiro). A mesma coisa acontece em nível estadual e municipal (o Governador/Prefeito envia uma mensagem para a Câmara dos Deputados/Vereadores para dar início aos trabalhos).

Esta carta contém, além de um balanço dos programas e ações implementadas no ano anterior, uma proposta de priorização dos trabalhos no ano que se inicia. Na apresentação, Dilma fala sobre como o Brasil é um país confiável, bom de se investir e mantem sua política macroeconômica de responsabilidade fiscal, desoneração, etc. Mas os recados no âmbito social são bem positivos.

É um texto chapa branca? Claro. Óbvio. Se trata de um texto governamental, há de se extrair dalí o que há de mais interessante, o que há de propositivo (para além do típico balanço). De início, por exemplo, ela afirma ser pauta prioritária do Governo no Congresso o Marco Civil da Internet (PL 2126/11), os 20% de cotas para negros na administração pública (PL 6738/13) e a PEC do trabalho escravo (PEC 57-A/99).

Abaixo, segue uma análise dos balanços e propostas das partes que tangenciam direitos das mulheres. A mensagem completa você encontra aqui.

A política que se destina às mulheres se divide em três eixos: Violência, que é caracterizado por programas de grande aporte financeiro, mas com difícil implementação, pois depende da adesão (e, por vezes, dos recursos) dos Estados e Municípios; Empoderamento, que é caracterizado pela existência de Prêmios e Seminários; Mulher-Mãe, que é o que envolve saúde, e que poderia tratar de mulheres e mães, mas prefere tratar apenas de mulheres-mães.

Sessão solene de abertura do Ano Legislativo de 2014. Foto de Valter Campanato/Agência Brasil.
Sessão solene de abertura do Ano Legislativo de 2014. Foto de Valter Campanato/Agência Brasil.
Violência
 
Em 2013, foi lançado o ‘Programa Mulher: Viver sem Violência’, que abrange eixos desde a criação de casas de acolhimento, quanto central telefônica e a humanização de atendimento à vítima.
As casas de acolhimento dependem da adesão dos governos estaduais e municipais. Em 2013, houve adesão dos seguintes Estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe, além do Distrito Federal.

Em dois anos (2014-2015), estão previstos investimentos da ordem de R$ 305 milhões. A Casa da Mulher Brasileira será construída em 26 capitais – Serão investidos R$ 116 milhões, incluindo construção, reforma e aquisição de equipamentos, mobiliários e transporte. As capitais que já contam com terrenos doados pela União para a construção das Casas são: Belém, Belo Horizonte, Boa Vista, Brasília, Fortaleza, Maceió, São Luís e Campo Grande.

Em 2014, o Disque 180 (que tem média de atendimento de 2 mil registros por dia) mudará, acionando diretamente as polícias militares de todo o país. Muitos Centros de Atendimentos às Mulheres nas fronteiras secas estão previstos. Assim como é prevista a adequação de Institutos Médicos Legais para qualidade de coleta de vestígios de crimes sexuais.

Um dado interessante:

“Os serviços de atendimento às mulheres em situação de violência que, em 2003, eram cerca de 330, atualmente somam mais de 1,2 mil, sendo: 382 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, 128 Núcleos especializados em delegacias comuns, 222 Centros de Referência Especializados de Atendimento à Mulher, 72 Casas-Abrigo, 48 Defensorias Especializadas, 40 Promotorias Especializadas, 50 Juizados Especializados e 46 Varas Especializadas. Além desses, há mais de 200 serviços de atendimento às mulheres em situação de violência sexual e doméstica e 15 serviços de educação e responsabilização dos agressores.”

Para mim, parece exageradamente pouco o foco na educação do agressor.

Empoderamento

O empoderamento se dá, principalmente por meio de prêmios e eventos, que embora sejam um bom incentivo com importantes recursos, significam uma dotação pontual, sem continuidade, sem avaliação e sem impacto global. São exemplos de prêmios lançados no ano passado:

- 5ª edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça;

- 9ª edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero;

- Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino;

- Chamada Pública Meninas e Jovens Fazendo Ciências Exatas, Engenharias e Computação;

- Prêmio Carmem Santos de Cinema de Mulheres;

- Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais;

- Prêmio Mulheres Negras Contam sua História;

- Prêmio Mulheres Rurais que Produzem um Brasil Sustentável. 

Além dos eventos, caracterizados pelos mesmos problemas (ainda que sejam importantes, não são suficientes):

- 12ª Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe;

- 35ª Conferência Internacional O valor do tempo: debatendo as desigualdades sociais;

- Fórum Nacional de Organismos Governamentais de Políticas para as Mulheres (OPMs);

- Municípios e Políticas para as Mulheres;

- Seminário Desafios para a Autonomia Econômica das Mulheres na Contemporaneidade;

- Seminário Mulheres, Esporte e Lazer e Políticas Públicas.

As políticas de empoderamento ainda envolvem a destinação de recursos familiares para as mulheres. Empodera? Sim. Reproduz a lógica da mulher cuidadora, mãe, responsável? Também. Do benefício ‘Safra’ ao ‘Bolsa Família’, passando pelo ‘Minha Casa, Minha Vida’, há diversos programas que reformam, mas não revolucionam.

Mulheres-Mães

As políticas da saúde, focadas na Rede Cegonha, tiveram adesão de 5.488 Municípios, beneficiando 2,5 milhões de gestantes. Sim, gestantes. É bom frisar. Não sou contra atender e humanizar o atendimento às gestantes. Pelo contrário! No entanto, me incomoda muito, mas muito, a falta de políticas de saúde para não-gestantes. Por exemplo, foram distribuídos 83.211 testes rápidos de sífilis e HIV para gestantes.

Considerações finais

A Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM fez 10 anos, cada vez amplia-se o diálogo com o gestor local, e cada vez mais dados são criados (a exemplo do 1º Relatório Anual Socioeconômico da Mulher – Raseam, lançado no início de 2014).

Um total de menos de 8 páginas (das 468) destinadas às mulheres. Pessoalmente, acho que o caminho precisa de ajustes, mas que chegaremos lá, cada vez mais, direitos para as mulheres.

Fonte:  Blogueiras Feministas

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