Foto: Rogelio Casado - Encontro Nacional de Saúde Mental, Belô/MG, 2006
Sandra Fagundes e Geraldo Peixoto
12 DE MARÇO - 20 ANOS DO CAPS ITAPEVA.
ESTA DATA PRECISA SER COMEMORADA!
Ana Pitta, Jairo Goldberg, Sandra Fischetti, Silvia Pereira, Rosane Krespsky,Telma Felício, Sandra Geórgia, Fátima Bueno, Emiron, Nerse, Irene e Eduardo.
Essas pessoas estavam lá, no CAPS Itapeva, há vinte anos passados. Naquela época, o Marcos Ferraz era Coordenador de Saúde Mental, a Ana Pitta Diretora da Divisão de Ambulatórios e a Sandra, o Jairo, a Sílvia, a Nerse e outros trabalhavam na Divisão e na nova proposta. Foram esses os que deram início a essa história que, depois, se propagou para os mais distantes rincões deste imenso país.
Muitos outros, posteriormente, foram se agregando: Annete Arumi, Sílvio Yasui, Denise Corazza, Sílvia Fernandes, Jonas Melman. Arnaldo Motta, Ana Luísa, Elizabeth Araújo, Carlos Videira, Sérgio Urquiza, Cristina Lopérgolo, Regina Bichaff, Adalberto Lameratto, Tiana, Nice, mais ou menos nesta ordem, porém, todos com a mesma filosofia.
12 de março de 1987! Foi quando tudo começou! Rua Itapeva, 700, no coração financeiro da “paulicéia desvairada”! Naquela esquina! Naquele local, atrás do MASP! Tantas histórias rolaram ali, até chegarmos ao dia de hoje, ao ano de 2007, aos vinte anos do CAPS ITAPEVA!
Há vinte anos atrás, era tudo um sonho! Não se sabia o que viria acontecer... CAPS Professor Dr. Luíz da Rocha Cerqueira, que recebeu este nome, em homenagem ao psiquiatra visionário que, há cinqüenta anos atrás, já falava em reforma psiquiátrica e em movimento antimanicomial. Vivi tudo isso, aprendi com isso, cresci com isso. Aqueles foram momentos definitivos para as nossas vidas, minha e de meu filho, André Luiz. Falo, porque convivo, diuturnamente, há vinte e cinco anos, com a doença mental, a loucura ou a psicose, seja lá, que nome se queira dar (hoje em dia, para mim, estas são, apenas, palavras, nada mais).
Quando se comemoram os vinte anos, quero declarar a importância de todas essas pessoas que jamais - jamais - poderão ser esquecidas.
O texto da Dra. Sandra Fischetti, publicado no Caderno de Textos da III Conferência Nacional de Saúde Mental, 2001, conta o início dessa história:
O CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: DESAFIOS NO PERCURSO INSTITUCIONAL
Sandra Maria Fischetti Barição
“No início dos anos 1980, a rede extra-hospitalar de atenção à Saúde Mental doEstado de São Paulo contava com 19 Ambulatórios e 14 equipes de Saúde Mental nos Centros de Saúde I da Grande São Paulo.
A partir de 1983, o Governo Franco Montoro, através da Coordenadoria de Saúde Mental (CSM), assumiu uma política cujo objetivo era diminuir o número de internações psiquiátricas, resultandonum grande investimento para a ampliação do número de ambulatórios em todo o estado e das equipes em unidades básicas na Grande São Paulo.
Entre os anos de 1984 a 1986, a Divisão de Ambulatórios de Saúde Mental da CSM desenvolveu uma série de iniciativas para a capacitação dos profissionais que compunham as equipes, através de cursos, supervisões clínicas, institucionais e programáticas.
Paralelamente, publicou e divulgou diretrizes e orientações técnicas para a organização dos novos serviços. Neste período foi criado o Programa de Intensidade Máxima (PIM) desenvolvido nos ambulatórios para o atendimento de egressos de hospitais psiquiátricos.
Apesar deste grande investimento nas unidades extra-hospitalares, em especial nos PIMs, foi avaliada a necessidade de estruturas de serviço intermediário entre o hospital e o Ambulatório que pudessem oferecer um grau de acolhimento maior e respostas terapêuticas mais complexas para pessoas com transtornos mentais severos.
Durante a reforma administrativa da Secretaria de Estado da Saúde (1986), que extinguiu as Coordenadorias e Divisões, e após muita negociação junto ao então secretário de saúde, decidiu-se pela utilização do imóvel que abrigava aprópria Divisão de Ambulatórios como local para o desenvolvimento da nova proposta assistencial.
Vale ressaltar que se trata de um casarão da década de 1920, próximo à avenidaPaulista, que só por isso já rompia com o conceito de asilamento, imprimindo aidéia ou a lógica de uma residência para essa nova unidade de tratamento.
Parte da equipe da Divisão de Ambulatórios passou a estudar e planejar esta nova unidade, inexistente até então na rede de Saúde Pública no país. A comissão instituída através de publicação no D.O. do Estado (1986), era “integrada por técnicos que num prazo de 30 dias deveriam dar corpo à nova proposta. O ERSA-R1 proveria sustentação financeira à iniciativa, reformando o imóvel, contratando pessoal, aparelhando o órgão com instrumentos e materiais adequados. Um grupode profissionais do que era a Divisão de Ambulatórios operacionalizaria oprojeto, a partir das diretrizes gerais firmadas no âmbito da comissão”. Eles que propunham “lidar com a psicose e suas determinações de marginalização nas vertentes de assistência, investigação e formação de recursos humanos para arede de prestadores de serviços de saúde” (GOLDBERG, 1992).
Assim, em 12 de março de 1987, fundou-se a primeira unidade da rede pública, em São Paulo e no Brasil, para oferecer tratamento intensivo e de qualidade,extra-hospitalar, para pessoas com sofrimento psíquico grave e para seusfamiliares.
A iniciativa do Centro de Atenção Psicossocial Prof. Luíz da Rocha Cerqueira desencadeou, a partir de sua experiência, e a seguir a dos NAPS em Santos (1989), a criação de outros CAPS e unidades semelhantes em todo o país, transformando-se em procedimento descrito na Portaria 189/91.
Como já disse, vivi quase todos aqueles momentos. Meu filho, estava internado em um hospital psiquiátrico quando, participando de um seminário sobre Arthur Bispo do Rosário, vim a conhecer Silvio Yasui, um dos palestrantes. E, foi através dele que ouvi, pela primeira vez, a palavra CAPS - um som metálico que, não entendi muito bem. No dia seguinte tomei contato com aquele som, o qual, somente depois, vim a saber, tratar-se de uma sigla: Centro de Atenção Psicossocial. Minha surpresa, ao deparar-me com aquela casa, sem muros, sem cadeados, com portões abertos para a rua, onde as pessoas circulavam livremente... Aquilo contrastava frontalmente com tudo o que conhecia e com o que acabara de deixar para trás. Foi a partir desse instante que senti que aquele era o lugar aonde nós dois deveríamos estar. E estamos, só que em outra cidade (São Vicente).
Com estas minhas lembranças e observações, quero deixar registrado o meu respeito a todas as pessoas desse CAPS, tão importantes em nossas vidas, mas, em especial, aos que lá estavam, há vinte anos atrás. Jamais poderemos esquecê-los, pois ali surgia esta nova forma de tratamento, criava-se o primeiro CAPS brasileiro, o qual mudaria a concepção, tanto da forma de tratar quanto da de encarar, o sofrimento mental, passando-se a ver, no paciente mental, não somente a doença, mas, concentrando-se a atenção na pessoa e, principalmente, em sua subjetividade.
Aquele, O PRIMEIRO CAPS BRASILEIRO, foi o grande marco, o grande momento, quando uma nova história começou a ser escrita! Antes dele, só existia o hospital psiquiátrico e, nenhuma outra alternativa para se tratar dos casos mais graves como, por exemplo, as psicoses. Faz muitos anos, quando falei de meu reconhecimento ao Sílvio Yasui, ao que ele respondeu: - “Geraldo, você não precisa agradecer nada. Nós somos servidores públicos, e nós, apenas, fazemos nossa obrigação.”
Contrariando meu querido amigo Sílvio, não posso deixar de agradecer... Obrigado, obrigado, obrigado sempre, em nosso nome, meu e do André Luiz.
Geraldo Peixoto
(Dulce Edie Pedro dos Santos, colaborou na elaboração do texto e em sua digitação, ambos familiares e participantes dos Movimentos Sociais da Saúde Mental).
NOTA: Por essa e por outras, os companheiros Geraldo Peixoto e Dulce Edie, ambos filiados à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial, são um dos casais de familiares mais queridos do movimento social pelo fim dos hospitais psiquiátricos. Um beijo no coração dos dois.
PICICA - Blog do Rogelio Casado - "Uma palavra pode ter seu sentido e seu contrário, a língua não cessa de decidir de outra forma" (Charles Melman) PICICA - meninote, fedelho (Ceará). Coisa insignificante. Pessoa muito baixa; aquele que mete o bedelho onde não deve (Norte). Azar (dicionário do matuto). Alto lá! Para este blogueiro, na esteira de Melman, o piciqueiro é também aquele que usa o discurso como forma de resistência da vida.
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Um comentário:
Olá,
Estou te convidando para visitar meu blog recém-iniciado:
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Um abraço,
Marcelo Novaes
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