Cine Guarany
À maneira de Márcio Souza, que nos anos 1970 decifrou a passividade da classe média manauara: Um sítio histórico está prestes a tornar-se pó. Nele os artistas amazonenses gostariam de ver surgir um teatro municipal digno do nome. Convencer o establishment não é tarefa fácil.
Quando o cine Guarany foi destruído pela alienação cultural de uma província que - como dizia Márcio Souza - adorava crônicas sociais e ministros sorridentes, que acreditava na gramática e nos shows de amenidades, tentou-se oferecer resistência com o que havia de inteligência na cidade. Mas "a província", como afirmava o enfant terrible das letras amazonenses, "é um mundo anestésico, a rebarba da história que, por uma linguagem diferente da metrópole, não repartiu a totalidade da herança comum. Por isso, é uma terra de ninguém. A memória é curta e os desvios de padrões formais codificados são reprimidos com peculiar violência. Onde também se reprime com familiaridade e se corrompe por laços de família".
Ao reler "A expressão da cultura amazonense - do colonialismo ao neocolonialismo", de Márcio Souza, fiquei a pensar na solidão de Anibal Beça tentando convencer o poder público a investir na preservação dos seus conjuntos arquitetônicos, como o do sítio histórico das adjacências do Porto de Manaus, prestes a virar pó, e que bem poderia, ali, abrigar o Teatro Municipal de Manaus.
Lembrei-me da destruição do cine Guarany, que teve como instrumento o grupo Itaú, instalando no lugar um dos seus lucrativos bancos, de arquitetura duvidosamente moderna. A omissão do poder público foi notável. Governava o estado do Amazonas Gilberto Mestrinho. Após o golpe militar de 1964, depois de quase vintes anos vivendo fora do seu estado, não surpreende que a concepção urbanística adotada pelo governante tenha como referência os "códigos devidamente mastigados e expelidos pela metrópole". Códigos assumidos pelos privincianos ávidos por enterrar um passado de decadência, nem que com isso fosse junto sua própria história.
Convém urgente manifestação dos artistas locais. O prefeito de Manaus têm uma forte identidade com sua cidade natal. O mesmo não se pode dizer das forças modernizadoras que usam nosso Parque Industrial, com baixo investimento em obras de interesse social, e daqueles que fazem da omissão seu leitmotiv.
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