Foto: Rogelio Casado - I Parada do Orgulho Louco, Manaus-AM, 2004
Rede de Amizade & Solidariedade às Pessoas com HIV/Aids, parceria da
Associação Chico Inácio - ong que atua em defesa dos direitos políticos e
civis dos portadores de transtorno mental no estado do Amazonas - faz o desmonte
simbólico dos muros do hospício através da peça teatral "Quero uma casa pra morar"
Nos dias 18 e 19 de maio de 2007, São Lourenço do Sul-RS, será realizado o MentalTchê, 3ª edição. O tema será referente a formação de recursos humanos para a Reforma Psiquiátrica. Trocando em miúdos: os "mentaleiros" gaúchos defendem uma formação que não tenha no "modelo manicomial" sua origem. Nada mais justo! Afinal existe uma outra prática rolando em todo o país. Daí porque o modelo de formação em saúde mental deve ser baseado nesta caminhada de mais de 20 anos de lutas e conquistas. A tradução dessas conquistas se evidencia na Lei 10.216 e nas novas práticas desenvolvidas numa rede de cuidados real, na qual já se contabiliza mais de 1000 CAPS existentes no Brasil.
O MentalTchê também questionará a lentidão na entrada das Universidades Brasileiras neste processo de formação. Não é desconhecido o fato de que o aparelho formador ainda usa, predominantemente, o recurso do "Manicômio-Escola", na formação de seus alunos.
As estratégias de formação num novo paradigma, seus recursos físicos e financeiros estarão na pauta do encontro. E mais, a pergunta que não quer calar: Quem forma quem? Quem são os formadores?
Os "mentaleiros" gaúchos estão colhendo sugestões para as mesas de dabates etc. O lema do encontro, que tem se caracterizado por uma construção coletiva, não poderia ser mais apropriado: O Manicômio Não Forma: Deforma!!! Diga NÃO ao MANICÔMIO-ESCOLA.
A caso do Amazonas
O Amazonas saúda a iniciativa dos "mentaleiros" gaúchos, no momento em que acaba de criar sua primeira Residência Médica em Psiquiatria. Aliás, vale ressaltar para a memória da Reforma Psiquiátrica brasileira, que quando no início dos anos 2000 a ULBRA/AM tentou fazer do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, na cidade de Manaus, um Hospital-Escola, com a construção de jardins temáticos, amplamente divulgada pela imprensa amazonense, os "mentaleiros" amazonenses ofereceram forte resistência ao projeto. Era só o que faltava! Na contramão da Reforma Psiquiátrica, uma maquiagem estética para conter um modelo obsoleto de formação em plena vigência da construção de formas criativas de inserção social do portador de transtorno mental na cultura dos nossos tempos, tenha santa paciência! O aparelho formador privado não se deu conta de que a construção da cidadania do portador de transtorno mental só estava acontecendo no país graças à construção de uma rede de atenção diária às demandas dos cidadãos em sofrimento mental.
Se a idéia tivesse ido para frente, com a histórica inércia do poder público, a criação de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) teria deixado de aparecer na pauta do debate público. Naquela ocasião o setor saúde mental estava em processo de reorganização, depois de uma década de estagnação da Reforma Psiquiátrica no Amazonas. Era tempo de por um basta no vexatório atraso do campo da saúde mental amazonense. Hoje temos apenas 3 modestos CAPS em todo o estado do Amazonas. É pouco. Ainda é crítica a atenção e cuidados em saúde mental na terra de Ajuricaba. Sinal de que as forças do atraso não cederam de todo e de que a cultura manicomial só se desfaz com muita vontade política e com pessoal com formação compatível com o desafio civilizatório de fazer o louco caber em nossa cultura. A luta continua.
Estamos de olho
Continuamos de olho no Rio Grande do Sul. Porto Alegre convive com o desmonte de políticas públicas e fechamento de CAPS ad. Até o Orçamento Paticipativo criado pelo PT, que o prefeito atual disse em campanha que era imexível, já não funciona como outrora. "Mentaleiros", uni-vos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário