janeiro 02, 2009

Sobrevivência e sustentabilidade: um desafio amazônico

Manaus e Iranduba
Sobrevivência e sustentabilidade: um desafio amazônico

Paulo Kramer*

Trabalhos científicos recentes, a exemplo de “Impacto virtuoso do Pólo Industrial de Manaus sobre a proteção da floresta amazônica: discurso ou fato?”, dos professores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e investigadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Alexandre Rivas, José A. Mota e José Alberto da Costa Machado, revelam por que o estado do Amazonas pode ser considerado um gigantesco oásis, com 98% da sua cobertura vegetal original ainda intactos, dentro da Amazônia Legal.

Na região, que corresponde a mais da metade do território brasileiro, com 25 milhões de habitantes espalhados por nove estados (Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Amapá, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão), a motosserra e a queimada não param de consumir a floresta, conforme documentam, mês a mês, as fotos por satélite divulgadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Até agora, o Amazonas foi poupado desse destino graças ao Pólo Industrial da Zona Franca de Manaus (PIM/ZFM), criada em 1967, em pleno regime militar. Hoje, o pólo concentra cerca de 500 empresas, que, no ano passado, faturaram o equivalente a 26 bilhões de dólares, geraram mais de 100 mil empregos diretos e recolheram tributos da ordem de 12,5 bilhões de reais, o que faz da capital do Amazonas a quarta mais rica do Brasil, muito embora de 600 mil a 800 mil do seu 1,8 milhão de habitantes (60% da população do estado) ainda não tenham acesso a água e esgoto tratados.

Sem a alternativa proporcionada por essas indústrias (eletroeletrônicos, informática, motocicletas, plásticos etc.), afirmam o professor Rivas e seus co-autores, a população fatalmente buscaria a sobrevivência na derrubada da floresta, copiando a triste sorte do vizinho Pará, comparativamente muito mais devastado pela derrubada de madeiras nobres, prólogo à expansão da pecuária extensiva de corte.

Mas a mesma prosperidade gerada pelo PIM e que tem sido responsável pelo desmatamento quase zero do Amazonas já ameaça esse equilíbrio virtuoso. Manaus e sua periferia recortada por inúmeros igarapés experimentam um boom imobiliário alimentado por materiais de construção (tijolos e telhas) provenientes dos municípios vizinhos de Iranduba e Manacapuru, a pouco mais de 20 quilômetros a sudoeste da capital, distância que leva mais de hora e meia para ser coberta por balsas que atravessam o rio Negro, enquanto não fica pronta a ponte que só recentemente começou a ser construída.

Em Iranduba, dezenas de olarias de variado porte ocupam, diretamente, 2 mil de seus cerca de 40 mil habitantes e operam, quase todas, com fornos a lenha. A extração de madeira no seu entorno rural é tão intensa que o índice de desmatamento local chega a 15%, em confronto com os 2% do conjunto do estado.

(...)

(Leia mais em Congresso em Foco)

* Professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) e analista da Kramer & Ornelas – Consultoria.
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