Nota do blog: Acesse o link abaixo e leia a matéria na íntegra. A Veja acima aparece como mera ilustração. O que tem de desinformação na imprensa brasileira "não tá no gibi", se é que a expressão ainda tá em uso.
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Quero desviar um pouco de assunto para denunciar três exemplos clássicos de desinformação que observei nas últimas 48 horas.
1) Roberto da Matta pega uma frase do presidente Lula, numa entrevista para a revista Piauí, e a descontextualiza histericamente, produzindo um artigo patético e preconceituoso. Lula afirmara que não começa seu dia lendo os jornais. Que tem uma equipe que seleciona as matérias mais importantes, enfatizando porém que qualquer artigo ou matéria importante sempre chegam em suas mãos. DaMatta ficou somente na frase "não lê", e saiu discorrendo, chorosamente, sobre o sofrimento devastador que o afligiu ao saber que o presidente da República, o homem mais importante do país (ele aumenta a importância pessoal do presidente, quase transformando-o num imperador-deus da Antiguidade), não lê. Como intelectual medíocre que é, DaMatta fetichiza a leitura, conferindo-lhe um status existencial exagerado. Ora, eu sou um leitor obsessivo, mas aprendi a ver que não sou melhor que ninguém por causa disso. A literatura, em si, não deixa ninguém mais inteligente. Shopenhauer afirmava que pretender que guardemos todos os livros que lemos em nosso espírito é como pensar que podemos guardar toda a comida que ingerimos, ao longo da vida, em nosso estômago. A gente lê, mas esquece. Pronto. O que vale, mais que a leitura, é a inteligência. A leitura ajuda a inteligência, mas não a determina. Sócrates praticamente não lia livros, e nunca escreveu um, e no entanto é considerado o fundador da filosofia moderna e o homem mais inteligente de todos os tempos. Jesus Cristo também não leu quase nada, nem escreveu, e todos o respeitam profundamente como pensador revolucionário e líder espiritual.
2) Na ânsia de criticar a decisão do ministro da Justiça, Tarso Genro, de conceder asilo político concedido ao italiano Battisti, e aproveitar a oportunidade para morder a esquerda brasileira, o Globo traz à tôna, pela enésima vez, o caso dos dois pugilistas cubanos. Os atletas abandonaram a competição (o Panamericano, realizado em 2007), seduzidos por um empresário alemão, que lhes pagou bebidas, drogas e prostitutas. O alemão desapareceu e os atletas, sem dinheiro, hospedados num hotel em Búzios, ligaram para a polícia. Quando os agentes chegaram, os cubanos os abraçaram. A Polícia Federal foi acionada. A mídia ficou sabendo e noticiou. Autoridades do governo e do setor privado entrevistaram os atletas, perguntando se queriam permanecer no Brasil. Eles repetiam que apenas queriam voltar a Cuba, para suas famílias. Um representante da Organização dos Advogados do Brasil pediu para falar a sós com os atletas. Na saída, relatou aos jornalistas que, de fato, eles apenas queriam voltar para seu país natal. Diante do fato, o governo brasileiro não teve outra alternativa senão comunicar o governo cubano que, imediatamente enviou um avião para buscar seus concidadãos. Os atletas foram punidos em Cuba? Talvez. Ficaram fora da seleção. A mídia queria o quê? Os caras abandonaram uma competição no meio! Queriam que recebessem medalha? Não foram presos nem torturados nem nada. Apenas ficaram de fora de competições internacionais. É uma questão tão lógica que chega a ser constrangedor ter que explicar. O atletismo cubano é, reconhecidamente, um dos mais competentes do mundo. Isso se consegue com disciplina e amor pela bandeira de seu país.
Lembro que, semanas depois do episódio, Jô Soares repetia-o, indignado. Até que chamou o ministro para uma entrevista, e Tarso Genro explicou tudo direitinho. Genro informou que qualquer atleta ou cidadão cubano que pedir asilo ao Brasil, recebe-o imediatamente, e que, inclusive, no mesmo Pan 2007, um outro atleta pedira e recebera asilo. Mas não foi, decididamente o caso dos pugilistas. Eles queriam voltar à Cuba. Tinham esposas, amigos e filhas lá. É tão difícil entender isso? Se minha mulher estivesse, sei lá, na Coréia do Norte, e eu fosse um opositor do regime, mesmo assim eu voltaria, para ficar com ela. Jô aceitou e admitiu que havia se informado erradamente. E agora, quase dois anos depois, o Globo retoma a história, dando a entender que os dois foram deportados contra a sua vontade. Assim é demais. Porque essa campanha sistemática de desinformação?
3) Por fim, o Alberto Dines, tentando dar uma mordidinha banguela na Carta Capital, apresenta uns números sobre o percentual de anúncios de estatais na revista. Ele comentava a entrevista de Lula para a Piauí, na qual Mario Conti pergunta porque o governo anuncia em revistas como Caros Amigos e Carta Capital? Lula respondera que há critérios técnicos e o governo anuncia em todas as revistas, de acordo com a circulação de cada uma. Se o percentual de anúncios de estatais na Carta Capital é maior é porque a revista tem poucos anunciantes privados, os quais, por razões que não entendo, ou me recuso a entender, preferem anunciar em publicações repugnantemente venais e corruptas e reacionárias, como Veja, ou enfadonhamente elitistas e imaturas, como a própria Piauí, do que expor seu produto e serviços na melhor e mais honesta revista brasileira, a Carta Capital. De qualquer forma, mesmo que houvesse alguma preferência do governo Lula pela Carta Capital, achei a atitude de Dines traiçoeira, mesquinha e alienada, já que a revista é crucial para manter um mínimo de pluralidade política na mídia nacional. Dines poderia, muito bem, ter a dignidade de considerar a importância de Mino Carta para a história da imprensa brasileira e não agir como um invejosinho babaca.
4) Vamos ver o que os paladinos pela liberdade de imprensa falarão sobre a demissão de Nassif da TV Cultura, dominada por Serra. Provavelmente nada. Mas espero que, no silêncio de suas consciências, os jornalistas desse Brasil reflitam bem sobre o caso. É por essas e outras que vejo a profissão de jornalista mais do que com descrédito. Já ultrapassou isso. Hoje vejo com uma quase repugnância. Por que um zelador, um professor, um operário, um funcionário público, tem a sua liberdade de opinião política. O jornalista não. Ele é obrigado, por sua profissão, a vender a sua opinião, a sua consciência, justamente aquilo que ele tem de mais precioso.
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