janeiro 16, 2009

Documentário sobre aborto reacende o debate público

JORNAL O GLOBO O PAÍS
2009-01-05 10:33:23

Filme reacende polêmica em torno do aborto

Documentário, com depoimentos defendendo a descriminalização da prática, recebeu R$80 mil da Fiocruz

Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA. A polêmica sobre a legalização do aborto, que opõe o Ministério da Saúde à Igreja e à bancada evangélica no Congresso, vai ganhar um novo capítulo nas telas. A Fundação Oswaldo Cruz, vinculada à pasta, liberou R$80 mil para a filmagem do documentário "O fim do silêncio", uma coleção de depoimentos de Mulheres que interromperam a gravidez e defendem a descriminalização da prática. Em fevereiro, o órgão vai distribuir gratuitamente duas mil cópias em DVD para escolas e entidades feministas.

O projeto venceu 35 concorrentes e foi o único documentário de média-metragem selecionado no primeiro edital de vídeo da Fiocruz, referência em pesquisa e produção de vacinas. Também receberam patrocínio filmes de ficção que abordam temas de Saúde.

Documentário é "claramente a favor do aborto", diz diretora

A diretora Thereza Jessouroun diz ter idealizado o roteiro ao ouvir declarações do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a favor da descriminalização do aborto. De acordo com ela, o projeto se materializou após a abertura do edital da Fiocruz, cuja direção é nomeada pelo ministro.

- Assim que tomou posse, o ministro Temporão disse que o aborto é uma questão de Saúde pública. Achei a declaração corajosa e comecei a pesquisar o tema, até sair o edital da Fiocruz - conta.

Thereza nega que seu documentário seja uma peça de propaganda, mas admite que o filme só dá espaço a um dos lados da discussão.

- Documentário não é como jornalismo, que tem a obrigação de ser imparcial. Tem que ter posição marcada, e este é claramente a favor do aborto - afirma.

A cineasta diz que chegou a entrevistar especialistas contrários e favoráveis à prática, como previa o projeto original, mas optou por manter apenas a participação das mulheres. A pedido da direção da Fiocruz, o material descartado será incluído nos extras do DVD.

- Ficava muito fraco. Editei de mil maneiras e não ficava bom - diz ela, sobre a versão prevista originalmente.

Antes do lançamento, filme já desperta crítica de religiosos

Há um mês no YouTube, o trailer de "O fim do silêncio" já recebeu mais de 2,5 mil visitas e tem provocado um debate caloroso entre os espectadores. O filme mostra os rostos das entrevistadas, que são identificadas com nomes e profissões. Na montagem, os depoimentos foram encadeados por estimativas segundo as quais 200 Mulheres morrem em cerca de um milhão de abortos realizados a cada ano no país. A fita entregue à Fiocruz tem 52 minutos, mas a diretora pretende reaproveitar o material numa versão estendida para a tela grande.

Mesmo antes do lançamento, o filme já desperta críticas de religiosos. Dom Antonio Augusto Dias Duarte, bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio e integrante da Comissão de Vida e Família da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), critica o patrocínio da Fiocruz:

- Não me parece correto, do ponto de vista ético, financiar com dinheiro público um filme que defende posições pessoais do ministro.

Diretor da Fiocruz diz que debate é bem-vindo

Um relatório sobre a concorrência, disponível no site da fundação, informa que, "como critério principal, ficou estipulado que os projetos a serem selecionados devem estar de acordo com o ideário da Fiocruz".

O diretor do selo Fiocruz Vídeo, Umberto Trigueiros, diz que o documentário foi selecionado por uma comissão integrada por críticos e não sofreu interferências do órgão, além do pedido para incluir argumentos pró e contra o aborto nos extras do DVD. Ele afirma que o debate é bem-vindo:

- A Fiocruz é uma instituição acadêmica, tem que estar aberta à polêmica.

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JORNAL DO COMMÉRCIO - PE
CAPA DO DIA
2009-01-06 07:28:29

Documentário sobre aborto divide opiniões

BRASÍLIA – O documentário O fim do silêncio, com uma série de depoimentos de mulheres que praticaram aborto, divide opiniões de entidades médicas e de organizações feministas.

O filme, que dura 52 minutos e foi financiado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), também gera polêmica porque será distribuído em escolas do País, como prevê o edital do concurso que escolheu o vídeo sobre interrupção da gravidez, da diretora Thereza Jessouroun. O Conselho Federal de Medicina (CFM) considera ilegal essa prática e a proíbe em seu Código de Ética. Para o corregedor do conselho, Pedro Pablo Chacel, é um equívoco a Fiocruz, vinculada ao Ministério da Saúde, financiar um filme com esse conteúdo. "O aborto é um problema de Saúde pública e cuja prática é proibida em lei. Não pode um órgão do governo promovê-la e ainda exibir em escolas." Chacel, que é ginecologista, disse que já atendeu muitas Mulheres que praticaram o aborto. "Algumas delas se disseram aliviadas, mas nunca vi uma mulher falar que estava satisfeita".

Para Rogéria Peixinho, da Frente Nacional pelo Fim da Criminalização das Mulheres e pela Legalização do aborto, "a Fiocruz está corretíssima em apoiar. É bom que, assim, todo mundo discute, coloca sua opinião e toma conhecimento de que se trata de um problema de Saúde pública".
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