Na Mira do Belmiro 089
Sinistra e melancólica
Belmiro Vianez Filho(*)
belmirofilho@belmiros.com.br
Quem madruga Deus ajuda, diziam os antigos para exaltar a disposição matinal para o trabalho na batalha da sobrevivência. Uma opção que se reveste de grandes expectativas e demandas quando o batente em questão é a cidade de Manaus, suas contradições e mazelas, historicamente crônicas e especificamente aterradoras para o gestor municipal que iniciou a administração da cidade há duas semanas. É impossível e despropositado fazer qualquer juízo de valor em tão curto espaço de tempo a não ser exaltar a habilidade do prefeito Amazonino - ao reunir seu staff de madrugada - de ser e fazer notícia, enquanto se debruça sobre os delicados problemas que atormentam noite e dia a municipalidade. A seu favor consta a experiência de estar ocupando o cargo pela terceira vez, além dos três mandatos na gestão estadual. Daí, provavelmente, sua aposta em se antecipar ao sol dos graves imbróglios urbanos com que se deparou de olho no crepúsculo de 2010.
E é justamente neste cronograma político, que descreve as escolhas e estratégias de sua excelência, que reside a expectativa do enfrentamento dos graves problemas urbanos que o aguardam, especialmente o caos em que a cidade se foi transformando nos últimos anos. Com efeito, para quem deve governar 15 meses, já tivemos oportunidade de alinhar os itens dessa desordem municipal ao longo da campanha, mas nunca será demais alertar para a tragédia dos transportes públicos, o caos no trânsito, as ruínas, a imundície e a desordem que se avolumam e se espalham no Centro antigo, além é claro da distribuição de água e esgoto, da buraqueira e da precariedade dos equipamentos públicos, entre outros sobressaltos.
Seria de bom alvitre que o comando da madrugada, após uma sessão de debate e diagnóstico de rescaldo urbano, levasse o alcaide e toda sua equipe para uma excursão pelas ruas esburacadas e infernizadas da região central. A começar pelo entorno da Catedral, nas calçadas enlouquecedoras da Avenida Eduardo Ribeiro, em direção à Escadaria dos Remédios, na região portuária, passando pela cratera lunar da praça Tenreiro Aranha, com uma parada nos escombros à espera da recuperação do lendário mercado municipal Adolpho Lisboa, fruto da futrica, da intriga e omissão que arrasta a obra há três anos.
Antes de aportar na enlouquecedora e fedorenta região da feira da Manaus Moderna (sic!), a comitiva poderia checar as novidades dos lançamentos de DVDs e CDs que chegam antes às calçadas da Igreja dos Remédios do que nas lojas do ramo. Ali, a pirataria não tem cura, apesar de estar situada em frente à antiga Faculdade de Direito, onde a permissividade e omissão das autoridades legalizam um mercado paralelo venal e irresistível do mundo dos jogos e da contravenção musical. Uma incursão sinistra e melancólica numa cidade que padece o descaso público banaliza o ilícito e deprecia seu patrimônio e memória. E um convite para que o frescor e a lucidez da madrugada apontem caminhos pontuais de enfrentamento e superação dessa constrangedora desordem urbana e social. Antes que seja muito tarde!
Zoom-zoom
Injeção anti-crise - As empresas brasileiras que têm dívida em dólar no mercado global vão contar com um "refresco" de US$ 30 bilhões das reservas do Banco Central do Brasil para gerenciar suas pendências. Uma opção que busca aliviar os efeitos da crise e que remete a um questionamento sobre a inadimplência internas de micro, pequenas e médias empresas, a maior fonte de emprego no país.
Boa notícia - Por conta da escalada do dólar, as empresas do Pólo Industrial de Manaus que tem exportam seus produtos tiveram um crescimento de quase 15% em relação a 2007 e respiram aliviadas os temores da crise. Outras estão, decididamente, padecendo de ajuda, o que enseja a ampliação de estudos e negociações para assegurar emprego e fôlego.
Centenário da Ufam - O ano de 2009 celebra, a despeito de algumas discordâncias históricas, o primeiro centenário da Universidade Livre de Manaus, uma das primeiras do Brasil, que depois virou Universidade Federal do Amazonas, um marco de resistência que se constituiu no final do Ciclo da Borracha e que simboliza hoje a esperança de transformar em prosperidade e imensidade de nosso patrimônio natural.
CBA - E nunca é demais repetir e reafirmar nossa torcida e expectativa para a definição institucional e pleno funcionamento do Centro de Biotecnologia da Amazônia, o embrião adiado e enrolado do pólo de biondústria de que tanto precisamos. Não há mais como justificar tanta protelação e imbróglio. Ou há?
(*) Belmiro é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
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