janeiro 11, 2009

Somos todos palestinos

Foto publicada em http://www.electronicintifada.net/
SOMOS TODOS PALESTINOS

Emir Sader


Olhem as nossas caras. Olhem como estamos desvalidos.
Olhem como só dispomos de pedras e de uma vaga esperança de justiça.

Olhem como somos – crianças mortas, mães em prantos, mulheres viúvas,
filhos órfãos.
Olhem como nos imolamos por uma causa pela qual ninguém
dá nem um minuto do seu tempo.

Olhem como perdemos tudo – pátria, casa, oliveira, família,
terra, rua, braço, olhos. Olhem como amanhecemos chorando
e enterramos os mortos de ontem.
Olhem como nos preparamos para morrer hoje e amanhã.

Olhem como ninguém nos olha. Olhem como nos desumanizam.
Olhem como nos metralham.
Olhem como somos vítimas inertes diante dos fuzis automáticos.

Olhem como nos juntamos para os enterros,
para velar os nossos mortos, para gritar nosso desespero e nosso abandono.

Olhem os nossos olhos, olhem as nossas mãos, olhem os nossos filhos.
Olhem os muros com que nos cercam, olhem as máscaras com que se escondem
nossos carrascos.
Olhem as mentiras dos seus porta-vozes, juntem raiva dos seus cínicos comunicados.

Agora fechem os olhos e nos imaginem tento uma pátria nossa,
como quase todos têm.
Imaginem-nos como nação, com nossa cultura, nossas ruas e casas,
nossos teatros e nossas oliveiras.

Fechem os olhos e vejam campos de paz, em que cruzam
judeus, palestinos, cristãos, ateus – todos, seres humanos,
independentemente de sua religião, raça, idade, idioma.
Fechem os olhos e imaginem um mundo de paz no Oriente Médio,
com dois povos convivendo com fronteiras desarmadas,
sem passaportes, com templos de todos os credos convivendo
como um dia o fizeram em Toledo – de forma tolerante e solidária.

Fechem os olhos, mas nunca deixem de ver-nos como somos hoje
- dominados, ofendidos, humilhados, discriminados, explorados,
massacrados.
E lutem conosco por um mundo de paz,
De solidariedade, de tolerância, de fraternidade.

* * * * *

Nota


Emir Sader, nascido em São Paulo, em 1943, é graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, onde fez Mestrado em Filosofia Política e Doutorado em Ciência Política.

Na USP, trabalhou como professor, primeiro de Filosofia, depois de Ciência Política. Foi pesquisador do Centro de Estudos Sócio Econômicos da Universidade do Chile, professor de Política na UNICAMP, coordenador do Curso de Especialização em Políticas Sociais na Faculdade de Serviço Social da UERJ. É Presidente da Associação Latino-americana de Sociologia (ALAS), desde 1997 e Coordenador do Programa de Estudos da América Latina e do Caribe no Centro de Ciências Sociais da UERJ desde 1996. Dirige atualmente o Laboratório de Políticas Públicas na UERJ, onde é professor de sociologia.

Dentre seus vários livros publicados, destacamos e indicamos: Século XX – Uma biografia não-autorizada. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000; O mundo depois da queda (org.) - Ed. Paz e Terra - São Paulo – 1995; Karl Marx - Bibliografia (org.) - Programa de Pós-graduação do Departamento de Sociologia - FFLCH - USP - São Paulo - 1995; Vozes do Século (org.) - São Paulo: - Paz e Terra – 1997; Cartas a Che Guevara - O mundo trinta anos depois - Ed. Paz e Terra - São Paulo-1997; Nelson Mandela (org) - Ed. Revan – 1998 e Contraversões – com Frei Betto – Ed. Boitempo – São Paulo – 1999.

Este é um poema que não precisaria de tradução, mesmo se estivesse escrito em árabe, hebraico, sânscrito ou javanês, todos entendem sua dicção: chega de intolerância, de prepotência, de exploração, não só no oriente médio, onde o império estadunidense patrocina a devastação, como em todo o mundo.

Este é um poema que não precisa de nenhuma nota, seja introdutória ou explicativa.
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