(Des)informação - Depois de chamar de oportunistas os opositores do projeto do Porto das Lajes pela mídia escrita no dia de ontem, o representante da empresa Login Logística Intermodal, Sr. Sérgio Gabizo, não acrescentou nada de novo no programa Encontro com o Povo de hoje. À tiracolo de um suposto líder da comunidade do bairro Colônia Antônio Aleixo, o programa foi exemplar para demonstrar a falta de transparência no trato da informação e na condução dos interesses da cidadania.
Mais de 12 meses depois de iniciado o processo de licenciamento ambiental junto ao IPAAM, só depois da mobilização da comunidade, da sociedade civil organizada, dos intelectuais, dos políticos e docentes de universidades públicas e particular de Manaus, é que a empresa resolveu dar o ar da sua graça, abrindo espaço para uma guerra de contra-informação, já que eles perderam o privilégio de bem informar a opinião pública, dada as manobras utilizadas para esquivar-se do debate público. Convidados a participar do I Seminário Sócio Ambiental do Bairro do Aleixo, no qual compareceram 4 senadores, 2 deputados estaduais e 1 vereador, a empresa saiu pela tangente.
Confirmado - O diretor responsável pelo Porto das Lajes, Sérgio Gabizo, confirmou que a Juma Participações (que detém 20% do capital da empresa Coca-Cola regional, cria bubalinos e possui fazendas no Amazonas) é o principal parceiro na construção do porto das Lajes. A outra empresa é a Login Logística Intermodal que possui 5 navios que fazem a rota Buenos-Aires / Brasil, tendo encomendado mais 5 navios para operar no país, além de possuir um terminal no Espírito Santo, que é um dos portos tecnologicamente mais avançados do país. Os ativos da referida empresa foram da Vale do Rio Doce. Porém, uma nova empresa abriu capital, herdando os referidos ativos.
Para o movimento SOS Encontro das Águas, a confirmação só reforça a crítica do escritor Márcio Souza, que lamentou a falta que faz o patriarca da família Simões (maior acionária da Coca-Cola regional). Certamente ele não iria permitir que a paisagem do Encontro das Águas fosse agredida pela presença de navios cargueiros, justamente na região mítica onde desapareceu o líder Ajuricaba.
Contradição - As imagens animadas mostradas no programa em nada contribuiram para indicar o local da construção. Afirmar que o porto está distante das falésias das Lajes, ou que os conteiners serão armazenados a mais de 2 mil metros da beira do porto; negar a intensa movimentação dos barcos no porto, e que os prédios baixos terão toda área externa coberta de grama, é subtrair a verdade da opinião pública: o porto destruirá o igapó próximo da boca do lago do Aleixo onde os peixes fazem a desova desde tempos imemoriais, depois de realizar um extenso percurso, como só sabem os pescadores que vivem na região. Além de desprezar o saber popular e tradicional, a empresa Login Logística Intermodal ainda ultraja noções caras ao conhecimento científico acumulado.
Repercussão - Para o professor Ademir Ramos, do Núcleo de Cultura Política do Amazonas, o programa Encontro com o Povo foi palco de um jogo de cena de uma empresa que peca pela falta de esclarecimento e transparência. Tanto não lhe interessa o debate que, convidada ao Seminário Sócio Ambiental do Bairro Colônia Antônio Aleixo, a empresa deixou de cumprir sua obrigação de bem informar.
Outro fato escandalosamente negado é a ausência de Messias Braga da Silva, este sim presidente da Associação de Moradores do Bairro Colônia Antônio Aleixo, e não o comunitário presente no programa Encontro com o Povo de hoje. Certamente, o ausente teria que explicar como uma associação irregular arcou, de uma hora para outra, com custos cartoriais de cerca de 2 mil reais, conforme declarou o assistente social Isaque, militante do movimento SOS Encontro das Águas, habilitando-se para agir de acordo com os interesses da empresa.
Habituado a leituras semióticas, Ademir Ramos afirmou que a empresa construtora do porto das Lajes quis transformar o programa Encontro com o Povo num outro programa, uma espécie de Encontro com o "Imaginário": a toda hora, o telespectador via-se obrigado a fazer exercícios de imaginação à falta de indicação precisa do local onde ocorrerá o maior impacto ambiental da obra.
Pela imediata transparência das informações.
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