março 15, 2010

Quando a classe média de Manaus vai levantar a bunda do sofá e fazer como Recife, em defesa do seu patrimônio?


Leitora denuncia que metralhas estão sendo depositadas na mata da Tamarineira (Fonte: blog Acerto de Contas)

Nos 9 hectares do terreno do Hospital da Tamarineira, encravado no centro urbano do Recife e coberto de vegetação de grande porte, planeja-se a instalação de um shopping center. Antes mesmo da conclusão do projeto e posterior aprovação, vê-se há quatro dias caminhões de metralha depositando sua carga abaixo das árvores centenárias.

Hoje dei uma de repórter, segui, identifiquei os caminhões e descobri de onde eles trazem a metralha.

Aguardo a investigação que convém. O fato acontece em boa hora, assim pode-se avaliar a verdadeira face dos empresários que agem sem respeito às leis.

O caso Tamarineira, em fotos:
http://www.flickr.com/photos/lucypassos/4413819736/in/set-72157623392464039/

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Nota do blog: Do Recife, cidadã indignada envia mensagem conclamando a classe média a levantar a bunda do sofá e defender patrimônio público ameaçado pela especulação imobiliária. Bem que o exemplo poderia ser seguido em Manaus pela classe média acomodada e intelectuais de vida sedentária, diante do anúncio de construção de um terminal portuário na região do Encontro das Águas - nosso maior patrimônio paisagístico e cultural. A propósito, a FIFA ainda não sabe que venderam gato por lebre pra fazer de Manaus uma das sub-sedes da Copa do Mundo. Venderam o Encontro das Águas como cartão postal, omitindo que esse patrimônio da humanidade está ameaçado por uma das subsidiárias da VALE, empresa conhecida por provocar danos ambientais. O movimento SOS Encontro das Águas colocou o bloco na rua e a boca no trombone. E você, como será sua participação na defesa da sua cidade?

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Semana passada tive uma prova de paciência e equilíbrio zen ao atravessar a nossa cidade de carro quando voltava, esbaforida, do shopping Guararapes até minha casa no Rosarinho. Neste percurso de quase 2h, vim conversando com Carmen sobre o caos do trânsito, o desperdício de tempo, dinheiro, poluição e da possibilidade de um dia eu precisar me mudar daqui para poder ter o direito de ir e vir sem estresse, porque do jeito que a coisa vai, sinceramente, eu acho que em 5 ou 10 anos, o Recife vai parar.

Após a maratona, fomos para a reunião do movimento Amigos da Tamarineira e fiquei passadaaaaaaaaaaaaa com o que vi e ouvi. Primeiro porque descobri que morei mais de 10 anos na rua do Hospital e nunca soube bem o que era , como funcionava e como era por dentro. Cheguei lá por um caminho entre árvores, estacionei em terra batida e me dirigi ao auditório passando por um complexo de belíssimos edifícios em estilo eclético cercado por imensas árvores e um verdadeiro bosque ao fundo que nem dava para ouvir o barulho dos carros na avenida, no máximo alguns insetos e a cantoria de um enfermo que vinha lá do 1° andar. Além das instalações, surpreendente foram os depoimentos de alguns dos mais de 50 participantes do encontro, isso porque mesmo me considerando simpatizante do movimento, não fazia idéia de como as coisas estavam realmente acontecendo. E aí me perguntei: “Como pode numa sociedade tão globalizada e cibernética ainda estarmos tão sem noção dos fatos que acontecem em baixo do nosso nariz?”

Como todos sabem, o Hospital da Tamarineira está, de novo, prestes a virar um shopping. A propósito, “shopping ecológico” (dá para conceber??? Veja no link o quanto: http://acertodecontas.blog.br/atualidades/supostas-imagens-do-shopping-tamarineira/) Enfim, a polêmica é longa e os relatos, contundentes. As informações obtidas nesta reunião são importantíssimas, mas é claro que não estão saindo na mídia formal, apenas em alguns blogs e fóruns de discussão na Internet promovidos pela sociedade civil.

Confesso que minha participação como cidadã recifense é muito aquém do que eu gostaria. Passei a faculdade de arquitetura inteira sonhando e planejando uma cidade melhor, mais saudável, igualitária... Nem por isso fui capaz de impedir a derrubada de uma única árvore que sombreava a parada de ônibus da Av Norte, onde eu pegava meu busão na ocasião da construção de um posto de gasolina. Desde então, tenho assistido às transformações desta cidade, a especulação imobiliária e algumas decisões equivocadas do setor público que vêm comprometendo o nosso patrimônio cultural, arquitetônico e ambiental. Sentindo-me minúscula e impotente para frear estes processos, passei a ter uma atitude mais passiva diante destes jogos de interesses.

Foi neste sentimento, que me chamou a atenção o depoimento de um líder comunitário que estava presente na reunião. Ele mora na Bomba do Hemetério e se abalou para até a Tamarineira, certamente de ônibus, para dar a sua contribuição enquanto os nossos vizinhos nem sequer desceram dos seus prédios para ir andando. Este rapaz não mora no bairro Tamarineira, mas ele mora no Recife, este é o pensamento. Talvez ele não tenha condições de freqüentar o shopping, mas não é isso que o motiva. Falou da importância e do poder e uma mobilização popular e repetiu as palavras de um político que conheceu: “Não tememos a classe média como às comunidades organizadas. A classe média reclama, mas não levanta sua bunda do sofá”.

Por isso meus amigos, eu os convido a nos levantarmos do sofá no dia 13 de março, às 9h para a mobilização contra a venda da Tamarineira e em prol de novos projetos para manter o local realmente preservado, público e coletivo.

Quero lembrar que essa não é uma questão de partido político, é transpartidária. Não é uma questão de polêmica, mas de cumprimento da legislação e do direito do cidadão à qualidade de vida. Não é uma questão de religião, mas de ética. Não é uma questão de modismo, mas de sobrevivência. Não importa dizer apenas que é contra ou a favor do empreendimento, é preciso conhecer a realidade que existe lá, como também ouvir e opinar sobre novas propostas.

Precisamos nos mobilizar e usando as ferramentas que nos cabem e no momento, uma boa é conferir o evento deste sábado, marcar presença e fazer barulho, se precisar... O que não pode é continuarmos sentados no sofá permitindo que se atropele (e manipule) a opinião pública para construir torres gêmeas dentro d’água, bolas de concreto no lugar de parque público em atropelo aos desejos dos moradores e contribuintes do Recife.

Que cada um utilize de suas possibilidades para demonstrar resistência, como estão fazendo os Amigos da Tamarineira e outros grupos manisfestos em pequenas reuniões e através de blogs e twitrs, usando o Youtube, como fez a moradora do bairro, Lucia Passos, no blog Acerto de Contas, que filmou, fotografou e publicou uma denúncia de depósito de entulhos na mata da Tamarineira, no link:
http://acertodecontas.blog.br/meio-ambiente/leitora-denuncia-que-metralhas-esto-sendo-depositadas-na-mata-da-tamarineira/

Outra contribuição significativa surgiu dos estudantes de arquitetura que, em oposição ao projeto de Niemeyer para o Parque Dona Lindu, projetaram propostas alternativas com base nos critérios que a sociedade desejava, fizeram painéis e maquetes de parques maravilhosos, só para agitar os moradores para o que poderia ter sido o Parque, e certamente nos custaria bem menos do que os cerca de R$30 milhões que se gastou no emprendimento. No caso da Tamarineira, em que a negociação ainda está em trâmite, os impactos de uma iniciativa como esta seriam ainda maiores. Sendo assim, por que não envolver os estudantes para propor projetos alternativos de um parque, apresentar a sociedade, abrir a discussão???

Enfim, ferramentas temos muitas, mas se você está pensando o mesmo que Renan, um amigo que acabou de entrar na minha sala para dizer que pode até ir no sábado, mas sabe que vão construir do mesmo jeito e a gente ainda vai se encontrar lá para tomar sorvete, eu lhes digo que pode até ser, mas que antes disso farei o possível para complicar a vida dessa galera. E tem mais, quem não quiser ir pela causa, que vá para conhecer as instalações e as árvores lindas, centenárias que existem lá, inclusive o Tamarindeiro gigante, que deu nome ao bairro Tamarineira, antes que se transforme num “ecológico” bloco de concreto.

Luciana Raposo

Arquiteta e gestora ambiental

lu@lucianaraposo.arq.br

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