A patética fábrica de denúncias mirabolantes
Uma coisa é boa. A Veja está gastando munição antes da hora. A maravilhosa fábrica de denúncias mirabolantes, que já incluiu dólares de Cuba em caixas de uísque, entre outras peraltices, voltou a operar com força total. A engrenagem é conhecida: primeiro Veja, depois Jornal Nacional, daí a tocha olímpica segue para as redações do Globo, que a repassa para seus coleguinhas de São Paulo. Então ganha o mundo. Jornais, rádios, sites, blogs, não só do Brasil, repercutem as denúncias. Nem tanto pela Veja, cujo poder de impacto reduziu-se bastante nos últimos anos. A força da Veja hoje atrela-se às suas ligações orgânicas com a direção de jornalismo das organizações Globo. É a turma do Millenium, enfim. Todo mundo tomando uísque no barzinho do clube de golfe, dando risadas. Demétrio Magnoli de vez em quando aparece, bandeja na mão, oferecendo quitutes preparados pelo próprio Jabor, num dia, e por Marco Antônio Villa, no outro.
É muita cara de pau. Navegando pelo site do Azenha, topo com uma matéria que quase me estoura o dedão. Assinada por Gustavo Barreto, ela traz informações sobre o tal promotor Blat que, estivesse ele atacando algum tucano, poderiam converter sua imagem pública em pó-de-mico. Por que eu deveria me espantar? Deus!
Esse Blat já foi acusado de todo o tipo de crime, e as matérias saíram na própria Veja! E agora o tratam como paladino da justiça! Muito bem! Belíssimas fontes tem a Veja. Um doleiro preso várias vezes, e um promotor com histórico mais sujo que o Tietê no verão.
É tudo tão constrangedor para o cidadão comum. A troco de quê defenderemos Vaccari, senão o conhecemos? Senão conhecemos os autos do processo? Afinal, todo mundo é culpado de alguma coisa, não é? Aí as pessoas dão risadas na tua frente, fazendo comentários maliciosos sobre a decadência moral do partido dos trabalhadores, e de um jeito tão convencido que seria perigoso (ou ridículo) você iniciar uma discussão.
O PT é um partido humilhado. Já testemunhei várias vezes como as pessoas se referem ao PT com nojo ou derrisão. Todo mundo já viu. Outro dia, fui abrir uma conta no Banco do Brasil, e a gerente, papeando conosco, afirmou que "odiava o Lula". Falou francamente, com raiva. Tudo bem ela não gostar do "cara". Ela tem direito a ter a opinião que quiser. O que me espantou foi ela sequer respeitar o cliente. Ela sabia, por acaso, o que pensávamos? Eu sempre cuidei para não ofender ninguém por conta de opiniões políticas. Num ambiente formal, onde não conheço as pessoas, não vou dizer que "odeio FHC". Até porque nem concordo em levar as coisas para esse lado, do ódio. Compreendo o ódio, e até entendo que a gente não deve refrear demais nossas paixões. Mas não aprovo essa tendência na política. Leva a extremismos burros e bloqueia o debate.
É o tempo inteiro assim. Quando se trata do PT, ou mesmo de Lula, as pessoas perdem as papas na língua. Referem-se de um jeito que machuca, que humilha. Isso explica, por outro lado, a reação apaixonada, agressiva, a criação dessa blogosfera aguerrida, em defesa do presidente e seu partido.
No caso da gerente, deixei o assunto morrer. Respondi apenas com silêncio. Mas eu deveria reagir. Deveria responder. Até porque aquilo sempre fica na minha cabeça, pinicando-me, por dias. Admiro que responde, quem não deixa nada passar em branco. Ainda serei assim, valente e assertivo qual um herói de Homero.
Na verdade, são histórias cada vez mais intrincadas. Eles ganham pelo cansaço. Quem terá paciência de destrinchar essas longas reportagens da Veja? Claro, sempre tem os coiós. No "cafezinho" que eu frequentava nos tempos de jornalista "especializado em café", lá vai mais de dez anos, tinha um sujeito que vivia repetindo as matérias da Veja para a turma. Era tão óbvio que ele apenas queria "mostrar-se informado", e que lia aquelas porcarias justamente para repeti-las ali, que a reação geral era apenas de pena, e desprezo. E olha que eram todos empresários conservadores, provavelmente tucanos.
Mas há o lado bom também. É uma coisa que nosso combativo Eduardo Guimarães já mencionou diversas vezes: a gente sabe que o PT é vigiado. A mídia vai pra cima dele com tudo, caninos pra fora, babando, latindo. Não perdoa. Se o assessor mais chulé do Palácio do Planalto for pego roubando uma lapiseira, é manchete certa. Com o PSDB, é o contrário. Cai viaduto, cai metrô, o governo não limpa a calha do Tietê e o rio alaga e causa prejuízo de bilhões de dólares para o estado (e para o Brasil, portanto), mas ninguém aperta o cara. Ninguém aperta José Serra. As críticas editoriais são tímidas e não citam o nome do governador nem a agremiação a qual pertence. Muito asséptico. Muito amigo.
De repente ficou tudo tão claro que chega a doer a vista. Repetitivo, inclusive. E o irônico é que eles, no afã de destruir Lula e o PT, e galvanizar Serra, criaram um exército de revoltados. Uma verdadeira militância que, não fosse isso, talvez acompanhasse os fatos políticos apenas de longe, confortavelmente. A diferença é brutal. Entre numa caixa de comentários de um blog da direita, e verá um linguajar confuso, tatibitati, clichê, mal educado, infantil, previsível. No blog do Nassif, por outro lado, encontra-se uma qualidade excepcional. Gente adulta, bem humorada, lúcida, instruída. Desde algum tempo as pessoas acordaram, e estão participando. Cada manchete parcial, cada notícia deturpada, cada denúncia falsa, tem sido dissecada minuciosamente pela blogosfera. Inclusive já passou a fase mais emotiva. As análises se tornaram racionais, objetivas. Muita gente parece nem mais atacar a parcialidade tacanha da mídia. Estuda-a, tranquila e friamente - como quem estuda uma planta carnívora.
Acesse www.oleododiabo.blogspot.com
PICICA - Blog do Rogelio Casado - "Uma palavra pode ter seu sentido e seu contrário, a língua não cessa de decidir de outra forma" (Charles Melman) PICICA - meninote, fedelho (Ceará). Coisa insignificante. Pessoa muito baixa; aquele que mete o bedelho onde não deve (Norte). Azar (dicionário do matuto). Alto lá! Para este blogueiro, na esteira de Melman, o piciqueiro é também aquele que usa o discurso como forma de resistência da vida.
Um comentário:
Bom, só que eu acho o contrário, a globo aliviou e muito o governo pestista inclusive ajudando e muito a propagar as utopias e fantasias petistas como o PAC, não falo do programa em si, mas sim da forma que foi vendida na mídia é que chamo de mentirosa! Essa postura da globo em ano de eleição é de se esperar, afinal eles não são bobos, sabem que o Serra será o próximo presidente...
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