Igreja Católica mente na guerra contra os preservativos
por Daniel Lopes – Você acredita que o Ministério da Saúde das Filipinas distribuiu preservativos para os jovens?
Que inapropriado, não?
Ainda bem que eles contam com uma Igreja Católica forte e atuante. A filial da corporação no país disse que essa política é “imoral” (claro) e que a ministra da Saúde, Esperanza Cabral, “não pode influenciar os jovens filipinos” (isso porque ela é ministra de um governo democraticamente eleito; se estivesse a mando da teocracia do Vaticano, estaria livre para influenciar quem quisesse).
O país asiático se vê tentando resolver, entre outros, o problema do alto índice de crescimento populacional e da falta de alimentos. A Igreja Católica, que tem 90% de adesão no arquipélago, é contra quaisquer das ações que fazem parte do planejamento familiar, incluído o uso de preservativos para sexo seguro e não-reprodutivo. Mas sem muita honestidade. O bispo Ramón Argüelles soltou que, “como bem sabemos”, preservativos “não servem para previnir o HIV e a Aids”.
Pausa.
Por quais níveis de degradação alguém tem que passar para conseguir dizer uma mentira desse naipe? O pior é que essa sorte de desinformação é matraqueada incesantemente na África devastada pela Aids. (A propósito, isso não configura crime contra a humanidade?)
-- Bispo Argüelles e as criancinhas. Ele não recomenda o uso de preservativos --
A Igreja filipina quer que os pacotes de preservativos tragam a advertência de que o produto “pode falhar na proteção da Aids”. “Os consumidores têm o direito de conhecer a verdade”, diz ela. Pois bem. Testes mostram que a chance de uma camisinha estourar durante o ato sexual é inferior a 1%, e a chance de haver vazamento por poros é inferior a 0,01%. Portanto, usá-la não é garantia total de que o indivíduo não será contaminado pelo vírus, se o parceiro for portador. Pode falhar? Pode. A má notícia para o pessoal de batina é que os novos produtos estão cada vez mais seguros, tendendo a risco zero, embora em tese sempre “poderão falhar”, como qualquer medicamento e método.
Mas se a questão é estatística, estatiquemos. No ano passado, o Ministério da Justiça de outro país majoritariamente católico, a Irlanda, divulgou relatório informando que entre os anos de 1975 e 2004, 320 menores foram abusados sexualmente apenas na arquidiocese de Dublin (o mesmo link da BBC acima explica como os crimes foram acobertados pela alta hierarquia). Distribuindo as 320 vítimas equanimemente pelos 29 anos, e supondo que a cada ano mil crianças frequentem assiduamente a arquidiocese (deve ser menos de mil), a probabilidade de você enviar seu filho para tal recinto e ele ser violentado (1,1%) é maior do que você lhe dar uma camisinha para um relacionamento com a namorada e o preservativo estourar, e muito maior do que ocorrer vazamento.
Não deveria então a arquidiocese de Dublin pôr na sua fachada a advertência “Traga a nós as criancinhas e comece a contatar um psicólogo infantil especializado em trauma”? Os consumidores da fé católica têm o direito de conhecer a verdade, pois não?
Segundo a CNBB filipina, o índice de falhas dos preservativos é “enorme” e eles “representam uma sensação falsa de segurança”. O que diriam eles se soubessem que a ineficácia da vacina contra a febre tifóide é de 25%? Por que os bispos não batalham para que os pais não deixem seus filhos serem vacinados contra a paralisia infantil, já que a eficácia da vacina é de “apenas” 95% após a terceira dose?
Mas nós sabemos que esse nonsense sobre a “enorme” ineficácia dos preservativos serve apenas para esconder um dogma ridículo e insensível, não sabemos? Esse pessoal não é ignorante; é impossível alguém que tenha o neocórtex em pleno funcionamento dizer com sinceridade que preservativos “não servem para previnir o HIV e a Aids”. O que são é maus-carateres. Jogam sujo. O que querem, mas quase nunca são honestos em deixar claro, é castidade e sexo apenas para reprodução.
Só nos resta concordar com Stephen Fry, para quem essa igreja é obcecada por sexo. Um caso patológico.
Fonte: Amálgama
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