PICICA - Blog do Rogelio Casado - "Uma palavra pode ter seu sentido e seu contrário, a língua não cessa de decidir de outra forma" (Charles Melman) PICICA - meninote, fedelho (Ceará). Coisa insignificante. Pessoa muito baixa; aquele que mete o bedelho onde não deve (Norte). Azar (dicionário do matuto). Alto lá! Para este blogueiro, na esteira de Melman, o piciqueiro é também aquele que usa o discurso como forma de resistência da vida.
março 31, 2010
José Serra e Roberto Jefferson
[ Amálgama ]
José Serra e Roberto Jefferson
por Lelê Teles – É sabido que José Serra, ou Zé Alagão como é mais conhecido, usa de sujos e abjetos subterfúgios como arma política, sempre com o apoio incondicional do seu partido político, a mídia golpista. Agora surge a foto de um agente secreto (P2) agindo às escâncaras. Tudo bem que parece meio surreal o quadro, porque na verdade ou é secreto ou é às escâncaras; mas na verdade a foto revela um fato intrigante: há policiais infiltrados em manifestações populares, eles servem como estopim, medem a temperatura das manifestações, fazem coro com os mais exaltados, lançam pedras na polícia e estimulam os outros a fazerem o mesmo. Quando a arruaça está pronta, o banzé armado, os infiltrados se retiram para os seus colegas fardados começarem a atirar e sentar o pau.
Por trás de toda foto há uma história. Essa é uma farsa: diz-se que a policial levou uma paulada na cabeça, teve que ser socorrida e encaminhada ao hospital. O diabo é que a PM continuava de capacete. Para uma paulada desacordar uma pessoa de capacete há que ser forte o suficiente para provocar um trauma. Se foi esse o caso, o procedimento adotado pelo policial (carregá-la no colo de capacete na cabeça) está incorreto. Aliás não é só esse procedimento que está incorreto, sabe-se agora que o policial à paisana embarcou no ônibus dos professores (!) como se fosse um deles, portanto estava infiltrado. P2 é para investigar outros policiais e não para se fingir de manifestante. Isso se fazia na época da ditadura.
O BEIJO DE JUDAS
É sabido que Judas Iscariotes foi o primeiro malandro beneficiado pelo instituto da delação premiada. Entregou o chefão, foi absolvido e ainda saiu com uma sacola cheia de dinheiro. Durval Barbosa é da escola de Judas. Foi ele quem jogou merda no ventilador e arriou as calças do rei. Tentam fazer dele um herói. Mas ele é um bandido. Tentaram fazer o mesmo com Bob Jefferson, o cantor de óperas. Roberto Jefferson, que teve que renunciar para não ser cassado, denunciou o que chamou de mensalão do PT, e disse que ele mesmo recebeu uma mala cheia de dólares. Em seguida disse, cinicamente, que a mala (a dele) e os dólares sumiram. Foi absolvido pela opinião pública. Durval, se pegar uma pena branda, periga ser eleito para Câmara Legislativa do DF no pleito seguinte.
É mister saber, Bob Jefferson tentou matar o monstro que o alimentava com dinheiro motivado, segundo suas próprias palavras, por “instintos mais primitivos”, o ódio e a paixão eram o dínamo. Jefferson foi ao sacrifício para destruir Zé Dirceu. Barbosa, por sua vez, delatou a gangue da qual fazia parte porque busca atenuar a sua pena, uma vez que já está nas mãos da justiça por malversação de dinheiro público. O gesto destes bandidos devem ser interpretados sob a luz da hermenêutica, vamos a ela:
No excelente livro A Interpretação das Culturas, do antropólogo estadunidense Clifford Geertz, há um capítulo dedicado a um evento vivido por Geertz entre os balineses, onde ele era visto como uma não-pessoa, ignorado pelos nativos. Em meio a uma briga de galos, evento proibido e reprimido pelas forças policiais, o etnógrafo assistia à pelea em uma grande rinha, quando de repente todos começaram a correr; Geertz viu a chegada dos policiais e temeu pela sua segurança. Porém, ao invés de se apresentar como um branco acadêmico em estudo etnográfico, coisa complicadíssima de se explicar a um policial com uma arma na mão, o experto Clifford disparou atrás dos locais e se refugiou em uma casa. Ao passar a refrega, todos vieram cumprimentar o antropólogo aceitando-o em seu meio. O seu gesto foi interpretado pela cultura como um símbolo de companheirismo, Geertz estava ao lado deles e não das forças repressoras. Atentai bem, Jefferson e Barbosa fizeram como o velho Clifford, se é que você me entende.
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