PRAÇA TAHRIR (2011) E A PRAÇA DA SÉ (1984)
Ontem, 11 de fevereiro, enquanto navegava na internet acompanhando a queda da Ditadura Egípcia (Hosni Mubarak) após 30 anos de poderes absolutistas, as imagens já haviam se fundido ao imaginário popular com milhões de manifestantes acampados na praça Tahrir (Cairo).
"- Pai quando a ditadura no Brasil acabou tambem foi assim, o povo foi pra rua?"
Surge na tela de luz branca e fria o rosto impávido do vice Omar Suleiman, ele afirma que o Ditador renunciou...Um alívio? A resposta é NÃO. Ora, Suleiman é general, comandou o serviço de segurança do Egito, portanto (vá lá, mesmo que tenha diferenças), mas ele se manteve por três décadas como parceiro da ditadura. Agora vêm a publica, depois de pressionados durante 18 dias pela população querendo a derrocada do governo ilegal e anti-democrático. Lá estava novamente a Imagem recorrente de Suleiman, um rosto sem expressão, parecendo uma máscara.Um Sarney.
Pela minha cabeça vem muitas referências...sou interompido por meu filho de 9 anos, acostumado a ouvir narrativas políticas ele me pergunta:
"- Pai quando a ditadura no Brasil acabou tambem foi assim, o povo foi pra rua?"
Até então não havia surgido na minha memória essa referência imediata com a queda da ditadura brasileira.
"DIRETAS JÁ!". Praça da Sé, São Paulo- Capital, 25 de janeiro de 1984.
Sim, fazia vinte anos em que o Brasil encontrava-se sob um regime de exceção, o país encontrava-se comandado pelo general Figueiredo, típica caricatura do carioca machista falastrão, a sua língua solta contrariava a sua trajetória pessoal, havia sido nada menos que o chefe do todo-poderoso e onipresente SNI-Serviço Nacional de Informação, os olhos e ouvidos da ditadura.
Naquele dia 25 de janeiro, meio milhão de pessoas se reuniram no "marco zero" da capital paulista, no dia em se comemorava o aniversário da cidade, mas elas não estavam aí pra isso, foi uma multidão para mostrar que estávamos fartos dos desmandos da Ditadura, queríamos democracia, liberdade - fim da corrupção, da inflação e do desemprego.
Queríamos e almejávamos um mundo melhor, ao menos pra nós brasileiros cansados de levar porradas em todos os sentidos.
A noite quando milhões de brasileiros reuniram-se em seus lares para assisitr TV e se informar dos últimos acontecimentos no Brasil e no exterior, pensávamos que esta seria a chance do movimento das "Diretas Já!" cair no domínio do povo, mas que nada, grande foi a frustração quando o "Jornal Nacional" (TV GLOBO) não noticiou.
Aquela reunião de meio milhão cidadãos paulistanos exigindo uma mudança no cenário político do país viu-se sonegado, aliás uma decisão tomada em conluio entre o proprietário das Organizações Globo, o jornalista Roberto Marinho com a censura da ditadura brasileira.
Mas não pensem que aquela multidão reunida na praça Tahrir, no Cairo tambem não sofreu tentativas em torná-la invisível da maioria da população. A máquina repressiva da ditadura egípcia tentou fechar agências de noticias, prender, assassinar e expulsar jornalistas que faziam os registros daquele movimento que tinha superado todas as expectativas, suplantado as velhas lideranças religiosas, militares e dos tradicionais partidos políticos. Um movimento que têm como evidência a juventude e esta havia sido mobilizada através da rede mundial das infovias, não teve quem e como impedir que esses sinais virtuais se propagassem e se transformassem em fagulhas reais exigindo transformações.
Talvez nunca num curto espaço de tempo um ditador ficou tão popular e odiado mundialmente como Hosni Murabak.
Mantida a proporção dos fatos (Praça da Sé,1984 e Praça Tahrir, 2011), mas mantendo as mesmas exigências de mudança por democracia e liberdade, essas duas manifestações populares acabaram por acelerar a agonia tanto da ditadura brasileira como da egípcia de Hosni Mubarak.
O meu filho ainda faz uma última pergunta:
"- Pai, qual ditadura foi pior, a do Brasil ou do Egito?"
"- Nenhuma, todas são iguais. O importante é a liberdade e o fim de todas as ditaduras.
O Brasil dos meu filhos é uma democracia, mas o Sarney (nosso
Suleyman)permanece em nosso cotidiano como imagem recorrente de uma maldição.
Fonte: Ceuvagem
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