fevereiro 16, 2011

"PRAÇA TAHRIR (2011) E A PRAÇA DA SÉ (1984) ", por Aurelio Michiles

PRAÇA TAHRIR (2011) E A PRAÇA DA SÉ (1984)


Ontem, 11 de fevereiro, enquanto navegava na internet acompanhando a queda da Ditadura Egípcia (Hosni Mubarak) após 30 anos de poderes absolutistas, as imagens já haviam se fundido ao imaginário popular com milhões de manifestantes acampados na praça Tahrir (Cairo).

Surge na tela de luz branca e fria o rosto impávido do vice Omar Suleiman, ele afirma que o Ditador renunciou...Um alívio? A resposta é NÃO. Ora, Suleiman é general, comandou o serviço de segurança do Egito, portanto (vá lá, mesmo que tenha diferenças), mas ele se manteve por três décadas como parceiro da ditadura. Agora vêm a publica, depois de pressionados durante 18 dias pela população querendo a derrocada do governo ilegal e anti-democrático. Lá estava novamente a Imagem recorrente de Suleiman, um rosto sem expressão, parecendo uma máscara.Um Sarney.

Pela minha cabeça vem muitas referências...sou interompido por meu filho de 9 anos, acostumado a ouvir narrativas políticas ele me pergunta:

"- Pai quando a ditadura no Brasil acabou tambem foi assim, o povo foi pra rua?"

Até então não havia surgido na minha memória essa referência imediata com a queda da ditadura brasileira.

"DIRETAS JÁ!". Praça da Sé, São Paulo- Capital, 25 de janeiro de 1984.

Sim, fazia vinte anos em que o Brasil encontrava-se sob um regime de exceção, o país encontrava-se comandado pelo general Figueiredo, típica caricatura do carioca machista falastrão, a sua língua solta contrariava a sua trajetória pessoal, havia sido nada menos que o chefe do todo-poderoso e onipresente SNI-Serviço Nacional de Informação, os olhos e ouvidos da ditadura.

Naquele dia 25 de janeiro, meio milhão de pessoas se reuniram no "marco zero" da capital paulista, no dia em se comemorava o aniversário da cidade, mas elas não estavam aí pra isso, foi uma multidão para mostrar que estávamos fartos dos desmandos da Ditadura, queríamos democracia, liberdade - fim da corrupção, da inflação e do desemprego.

Queríamos e almejávamos um mundo melhor, ao menos pra nós brasileiros cansados de levar porradas em todos os sentidos.

A noite quando milhões de brasileiros reuniram-se em seus lares para assisitr TV e se informar dos últimos acontecimentos no Brasil e no exterior, pensávamos que esta seria a chance do movimento das "Diretas Já!" cair no domínio do povo, mas que nada, grande foi a frustração quando o "Jornal Nacional" (TV GLOBO) não noticiou.

Aquela reunião de meio milhão cidadãos paulistanos exigindo uma mudança no cenário político do país viu-se sonegado, aliás uma decisão tomada em conluio entre o proprietário das Organizações Globo, o jornalista Roberto Marinho com a censura da ditadura brasileira.

Mas não pensem que aquela multidão reunida na praça Tahrir, no Cairo tambem não sofreu tentativas em torná-la invisível da maioria da população. A máquina repressiva da ditadura egípcia tentou fechar agências de noticias, prender, assassinar e expulsar jornalistas que faziam os registros daquele movimento que tinha superado todas as expectativas, suplantado as velhas lideranças religiosas, militares e dos tradicionais partidos políticos. Um movimento que têm como evidência a juventude e esta havia sido mobilizada através da rede mundial das infovias, não teve quem e como impedir que esses sinais virtuais se propagassem e se transformassem em fagulhas reais exigindo transformações.

Talvez nunca num curto espaço de tempo um ditador ficou tão popular e odiado mundialmente como Hosni Murabak.

Mantida a proporção dos fatos (Praça da Sé,1984 e Praça Tahrir, 2011), mas mantendo as mesmas exigências de mudança por democracia e liberdade, essas duas manifestações populares acabaram por acelerar a agonia tanto da ditadura brasileira como da egípcia de Hosni Mubarak.

O meu filho ainda faz uma última pergunta:

"- Pai, qual ditadura foi pior, a do Brasil ou do Egito?"

"- Nenhuma, todas são iguais. O importante é a liberdade e o fim de todas as ditaduras.

O Brasil dos meu filhos é uma democracia, mas o Sarney (nosso 
Suleyman)permanece em nosso cotidiano como imagem recorrente de uma maldição.

Fonte: Ceuvagem

Nenhum comentário: