fevereiro 28, 2011

Saúde Mental no Amazonas: avançamos? (IV)

PICICA: "Vale lembrar que todos os dados aqui citados são referentes ao ano 2000. Não há indicativos que eles tenham sido alterados para melhor, a despeito das conquistas do governo Lula."

Saúde Mental no Amazonas: avançamos? (IV)
         
 Transcrição, com breve comentário, do texto escrito em 2003 como Introdução à Política Estadual de Saúde Mental do Amazonas, aprovado pelo Conselho de Saúde quando fui gestor do Programa de Saúde Mental (2001-2007).
         
 “O risco de transtornos mentais e comportamentais entre mulheres na sociedade atual é maior do que outras pessoas na comunidade, independente do grupo socioeconômico. Além dos múltiplos papéis domésticos, transformam-se cada vez mais numa parte essencial da mão-de-obra, constituindo-se, de um quarto a um terço das famílias, a principal fonte de renda.
          
Eis alguns dados estatísticos da realidade enfrentada pelas mulheres no Brasil e na América Latina:
  • 41,4% da população economicamente ativa são mulheres. Fonte: IBGE 1999
  • 26% das famílias são chefiadas por mulheres, ou seja, 1 em cada 4 famílias é chefiada por uma mulher. Fonte: IBGE 2000
  • No mundo, a cada cinco dias de falta da mulher ao trabalho, um é decorrente de violência sofrida no lar. Fonte: Relatório Nacional Brasileiro (CEDAW)
  • Na América Latina e no Caribe, a violência doméstica incide sobre 25% a 50% das mulheres. Fonte: Relatório Nacional Brasileiro (CEDAW)
  • No Brasil, uma entre quatro mulheres é vítima de violência doméstica. Mesmo assim, apenas 2% das queixas desse tipo de violência resultam em punição. Fonte: Advocacia em defesa da mulher vítima de violência
  • No Brasil, a cada 15 segundos uma mulher sofre violência, seja ela física, sexual ou psicológica; 70% dos casos acontecem dentro de casa, sendo que, a cada 4 minutos, uma mulher sofre violência. Fonte: Fundação Perseu Abramo
  • O Brasil deixa de aumentar em 10% o PIB em decorrência da violência contra a mulher. Fonte: ONU e IDH

         Um outro exemplo de violência e violação dos direitos fundamentais está representando pelo índice de homicídios devido a orientação sexual da vítima. Das 67 pessoas assassinadas, de uma série histórica que vai de outubro de 1983 a janeiro de 2003, 51 eram gays (76,12%), 15 travestis (22,39%) e 01 (1,49%) lésbica, o que faz do Amazonas em números relativos um dos estados com o maior índice de homofobia do país. Fonte: AAGLT – Associação Amazonense de Gays, Lésbicas e Travestis
          
O segmento populacional representando por crianças e adolescentes, vítima de diferentes tipos de acidentes e de violências imposta por maus tratos físicos, abuso sexual e psicológico, negligência e abandono, bem como exploração do trabalho, exploração sexual e tentativas de suicídio, ainda hoje carece de uma rede de atendimento psicossocial e médico à altura dos principais desafios compreendidos pelos transtornos do desenvolvimento psicológico e pelos transtornos de comportamento e emocionais. Essa situação vem sendo agravada pela falta de orientação adequada no âmbito da escola e dos serviços de saúde, carentes de profissionais habilitados para a abordagem dos problemas da infância e da adolescência, associada à negligência do Estado quanto a oferta de uma rede de atenção diária à saúde mental desse segmento.” (Vale lembrar que todos os dados aqui citados são referentes ao ano 2000. Não há indicativos que eles tenham sido alterados para melhor, a despeito das conquistas do governo Lula. E mais. Face à municipalização dos serviços de saúde, o atendimento de saúde mental para crianças e adolescentes é responsabilidade daquele poder público).

Manaus, Fevereiro de 2011.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental

 PICICA: Artigo publicado no caderno Saúde & Bem Estar do jornal Amazonas em Tempo.

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