PICICA: "Um bom professor não pode deixar de contextualizar. Expor o racismo não para condenar o escritor paulista (dane-se a memória do defunto), mas para expor o racismo da sociedade, isto é, o nosso."
Racismo e Monteiro Lobato.
Reinações de Narizinho e Caçadas de Pedrinho li na terceira série do primeiro grau, por obrigação escolar.
Não me recordo de nenhuma contextualização específica, por se tratar de uma obra impregnada de preconceito racial. Não me recordo, aliás, da parte de nenhum professor que tive, contextualizar qualquer livro ou filme em termos raciais. E mais: o tema "racismo" não me lembro de ter sido abordado durante todo o ensino fundamental e médio. Talvez incidentalmente em algum livro, como passado histórico, porém não na sala de aula.
Anos mais tarde, me disseram que em Caçadas tinha racismo. Intrigado, voltei aos textos e encontrei várias ocorrências cabais. Li e reli os trechos. Cabais. Não me parecia plausível que não tivesse percebido a primeira vez, aos nove anos!
Levei um tempo pra aceitar, porque isso significava menos que Lobato era racista, mas que eu mesmo, e o meu meio social, éramos racistas até o osso, a ponto de o racismo ter se tornado invisível, de tão naturalizado.
Um bom professor não pode deixar de contextualizar. Expor o racismo não para condenar o escritor paulista (dane-se a memória do defunto), mas para expor o racismo da sociedade, isto é, o nosso.
Se, por acaso, um aluno de nove anos achar esse cuidado óbvio, desnecessário, paternalismo, ela mesma já tinha percebido tudo, ótimo. Talvez essa criança autodidata nem precisasse assistir a essas aulas.
Mas se houver uma única criança que aprender algo a partir dessa contextualização (e do debate subseqüente), isso valerá mais como educação à democracia do que todas as questões e valores da obra inteira de Monteiro Lobato.
Fonte: Quadrado dos loucos
Nenhum comentário:
Postar um comentário