fevereiro 26, 2011

"RJ e Dilma: governos do consenso", por Bruno Cava

PICICA: "Esse consenso surdo e autoritário parece em franca exportação à esfera nacional, através do governo Dilma. Suas primeiras manobras por assim dizer soviéticas contornam o dissenso e centralizam o poder em si. O discurso da eficiência é endeusado. Gestão é oposta à democracia, numa disjunção exclusiva: ou...ou... Pluralismo se torna desculpa para a chapa branca. Várias políticas de esquerda começam a ser desmontadas por argumentos tecnocráticos, os mesmos que haviam sido desprezados pelo governo Lula."

RJ e Dilma: governos do consenso.


Consenso autoritário e surdo.

 Remoção da Vila Harmonia, Rio, 24.02.2011
Máquina do progresso higieniza metrópole e exclui pobres 

A figura do consenso está cada vez mais adequada pra analisar o Brasil hoje. O Rio de Janeiro talvez tenha sido o protótipo desse consenso. Governos federal, estadual e municipal se concertaram à grande holding cultural-midiática (Globo), às empreiteiras, às imobiliárias, e formaram um blocão do "interesse público", embalado por zilhões de reais do PAC e do sistema financeiro, sob o slogan das olimpíadas e do futuro. Isso atropela os pobres: varridos pra baixo do tapete, removidos injustamente, excluídos da partilha, --- por mais que a urbanização e os investimentos do PAC tenham também o seu (importantíssimo) saldo social.

Esse consenso surdo e autoritário parece em franca exportação à esfera nacional, através do governo Dilma. Suas primeiras manobras por assim dizer soviéticas contornam o dissenso e centralizam o poder em si. O discurso da eficiência é endeusado. Gestão é oposta à democracia, numa disjunção exclusiva: ou...ou... Pluralismo se torna desculpa para a chapa branca. Várias políticas de esquerda começam a ser desmontadas por argumentos tecnocráticos, os mesmos que haviam sido desprezados pelo governo Lula.

A lógica soviética se realiza pela acumulação das fichas, pela luta de hegemonia, pela tentativa de criar um enorme mastodonte de poder, --- só que sem efetividade. Formal e abstrato, operante pela representação e não pela expressão constituinte.

O abstrato substitui o concreto; os números substituem as pessoas; o poder, a potência. Um governo de centro-esquerda aponta o nariz para o centro. O navio, que nunca deu cavalo-de-pau, interrompe o lento movimento em curva. Muda-se a derivada do movimento, nas lutas ferrenhas do governo Lula contra as forças do status quo, sorrateiras ou histéricas.

Tudo pelo consenso, pelo fim da revolta, do conflito. Eis a ordem imperturbável, sem ouvidos para quem está fora: os pobres. O formigamento de diferenças cede a vez ao 'senso comum' e ao 'bom senso' --- substâncias essencialmente insípidas e inodoras, logo conservadoras.

Por enquanto, tudo está calmo e vai mal nesse governo Dilma.

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PS. Recomendo o breve comentário do blogue O Descurvo (de Hugo Albuquerque), O Terror do Consenso, que igualmente pressente o perigo abaixo nas águas turvas desse consenso em que, atordoados, parecemos mergulhar

Fonte: Quadrado dos loucos

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