PICICA: Bruno Cava desmonta o filme "Cisne Negro". Veja um trecho deste clássico do ballet com o bailarino amazonense Marcelo Gomes, solista do American Ballet Theatre e Cecilia Kerche, primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Black Swan (Trailer). "El Cisne Negro" es una mezcla acertadísima y bien lograda de drama con suspenso y, de hecho, ciertos toques de terror. Hay una constante atmósfera de tensión. La angustia se apodera del espectador quien se ve perdido en momentos, en un muy poco predecible guión. Más: http://bit.ly/dWMPPG
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Cisne Negro, Darren Aronofsky , 2010.
Crítica: Cisne Negro (Black Swan), Darren Aronofsky, EUA, 2010, cor, 108 min.
O pior de Tchaikovski.
Se, no conto-de-fadas, a donzela transgride em escapadas românticas sob a Lua com o príncipe encantado; em Cisne Negro vai para a balada desobedecendo a mãe, toma ectasy, beija desconhecidos e termina a noite na cama com a amiga.
A bailarina Nina (Natalie Portman) tem perto de 30 anos, mas é imatura e vive confinada: na casa da mãe, no quarto de menina, no semblante de adolescente, na rigidez do balé clássico. Em sua companhia de dança, se esmera à obsessão. E o filme mostra essa conversão espiritual de dor em arte, de martírio em virtuose, atrás da performance perfeitamente controlada. A câmera enquadra o laceramento do corpo, a expressão de dor, as dúvidas e crispações implicadas no processo criativo.
Nina, coroada enfim prima ballerina, precisa aprender a dançar tanto o Cisne Branco quanto o Negro, na próxima apresentação de O Lago dos Cisnes, de Tchaikovski. Deve, portanto, deixar a pele de pureza e frigidez, de ingênua menina-de-apartamento, e afirmar o seu lado diabólico e sensual.
Sim, trata-se de uma história de autossuperação, com final óbvio, mas o caso está exatamente em como a obra vai levar a gente do ponto A ao B.
Tema da metamorfose, da estranheza em que também afogamos, do outro que somos. Tema sobretudo do duplo. Pressionada de todos os lados, sem respirar ante a mãe repressora, Nina se duplica na sua gêmea má, no seu cisne negro particular. Multiplicam-se imagens malignas no espelho, aparições assustadoras, alucinações, pesadelos vívidos.
Parte da crítica deslumbrou, num filme talhado para concorrer aos prêmios da indústria. Mas é preciso pô-lo em seu lugar.
A insistência um tanto chavão nos espelhos cansa. O suspense abusa de truques de terror japonês. A filmagem do balé se dá nos travellings mais óbvios, cujo foco se bitola no rosto monotonicamente aflito de Nina/Portman. O ritmo tampouco ajuda: ele é rápido no suspense psicológico (cenas de Nina sozinha alucinando), demorado no draminha familiar (a interminável tensão mãe-filha); cômico quando a cena pede seriedade (Nina no quarto transformando-se em cisne), e sério quando poderia reciclar o suspense com uma passagem de humor (ao gosto de Polanski).
Todas essas limitações acumulam-se e o filme patina. Torna-se dependente e mesmo voyeur da "estrela" (no caso, Natalie Portman). Nem a densidade psicológica de um Bergman, nem o estranhamento carnal de um Cronenberg.
A bem da verdade, há um sentido em que Cisne Negro se acerca de O Lago dos Cisnes. Conseguiu ser tão emotivamente over e morbidamente romântico que Tchaikovski.
Fonte: Quadrado dos Loucos
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