PICICA: "Não
há mais direita, nem há mais esquerda, mas esse modernismo ao qual o
próprio Lula aderiu ao ratificar as mudanças de Dilma também não é
Lulismo, mas uma de suas possibilidades; é sem ter sido, Dilma não é
Lula, mas Lula, que era muitos, restou Dilma. Não há mais radicalização
alegre e se era possível fazer dessa ascensão tumultuada dos pobres um
carnaval, hoje, o que há é a missa civil do, pelo e para o Moderno. O
PT mudou? É claro -- e raramente para melhor, mas isso não quer dizer
que ele seja o problema. Posta de lado a direita, temos um problema
geral os partidos, supondo que eles ainda sirvam taticamente para algo. Se até mesmo Badiou já abandonou os partidos, quem somos nós, não?
[...]No Rio, a um primeiro olhar, a campanha de Freixo é uma luta contra moinhos de vento e isso, é claro, desperta os brios da (boa) esquerda,
mesmo de corações endurecidos como deste blogueiro. Mas o PSOL do Rio,
que tem afinal um candidato com carisma e força pessoal -- para,
sozinho, ir além em um sistema político tão dependente de carisma e da
pessoalidade --, por outro lado, tem como pouca multidão; se o PT
nacional nasce como o primeiro partido de esquerda nacional desde o
Partidão a realmente ter participação massiva de trabalhadores, lhe
faltavam pobres -- o que não se confunde com abertura para pobres, mas
com a falta dos próprios em pessoa --, mas se em nível nacional,
futuramente, ele resolveu este problema, no Rio, ele permaneceu
elitizado e branco demais, anêmico demais para não virar peão no jogo da
direção nacional. Com o PSOL carioca de hoje, ironicamente, ocorre o
mesmo -- ainda que com mais obstinação. Uma candidatura socialista que
continua ainda distante demais dos pobres.
Não que não haja como não reverter isso, nem que não seja preciso,
afinal, se agenciar com essa classe sem nome que está aí por óbvios
motivos de ordem eleitoral e política mesmo."
As Eleições Municipais e a graça da Política Brasileira
Multidão (A. Ruivo), |
As
eleições municipais de 2012 seguem em um ritmo morno, estão quase
quietas. É fato que depois da vitória de 2010, a radicalização do
discurso de direita vista até ali sucumbiu junto com José Serra nas urnas. A vitória de Dilma
e seu já concluso um terço de mandato, por outro lado, praticamente
colocaram termo final à expectativa de uma continuidade das mudanças em
termos de esquerda: se os pobres foram autorizado a desejar, tornaram-se
parte do jogo, ascenderam como tumulto incomodando até mesmo a
esquerda, a resposta de como guiar o país se dá, hoje, em termos
gerenciais e modernizatórios -- eis uma longa estrada para o progresso,
eis uma crise que precisamos nos livrar, assim segue o governo, por ora,
muito bem avaliado, apesar da deserção gradual de parte da
intelectualidade que lhe apoiou fielmente e de alguns setores.
Dilma segue bem avaliada, inclusive, por setores que rejeitavam Lula
e, ao contrário do seu antecessor, jamais perdeu a oportunidade de
buscar uma aproximação com a mídia tradicional que ele confrontava
abertamente. Dilma agrada a classe média, mais até do que por seu jeito
de ser, e mais por sua política de governo mesmo. Não é difícil
imaginar que muitos dos eleitores de Dilma teriam votado em Plínio ou
Marina se pudessem antever o que é seu governo, mas não seria arriscado
que grande parte da classe média do sul-sudeste que votou em Serra
talvez titubeasse em fazê-lo aqui e agora. Ainda assim, se pegarmos o
que escrevem e pensam Serra, Plínio e Marina
sobre desindustrialização -- e basta uma googleada para tanto --, não
temos nada tão diferente ente si, exceto as cores da moldura -- azul,
vermelho e verde. E nem vem que não tem: o problema não é o
desenvolvimentismo do outro. É nesse clima político que estamos vendo as
eleições municipais.
Não
há mais direita, nem há mais esquerda, mas esse modernismo ao qual o
próprio Lula aderiu ao ratificar as mudanças de Dilma também não é
Lulismo, mas uma de suas possibilidades; é sem ter sido, Dilma não é
Lula, mas Lula, que era muitos, restou Dilma. Não há mais radicalização
alegre e se era possível fazer dessa ascensão tumultuada dos pobres um
carnaval, hoje, o que há é a missa civil do, pelo e para o Moderno. O
PT mudou? É claro -- e raramente para melhor, mas isso não quer dizer
que ele seja o problema. Posta de lado a direita, temos um problema
geral os partidos, supondo que eles ainda sirvam taticamente para algo. Se até mesmo Badiou já abandonou os partidos, quem somos nós, não?
Seja
como for, pensando o voto como possibilidade real posta, as
candidaturas petistas quase sempre são as melhores -- pelo menos
pensando nas grandes capitais --, exceto quando por candidatura petista
entenda-se uma candidatura meramente governista como nos casos de Curitiba
-- a grande capital mais conservadora do país, onde as opções não são
animadoras -- ou, sobretudo, do Rio -- onde ver Lula fazendo campanha
para Paes é curiosamente funesto, embora não seja surpreendente como um
todo. Em São Paulo, como insistimos há muito, para além das desventuras e
de erros importantes na campanha de Fernando Haddad, é fato que ele é, dentro do plano do PT e da esquerda algo razoável: Nádia Campeão é uma boa vice etc etc.
Na
Pauliceia, as pessoas certas do PT paulistano estão honestamente do
lado dele -- Paulo Teixeira, Nabil Bonduki; tampouco não se compara ao
que seria o apoio a um aliado -- Chalita? -- ou a insistência absurda em
Marta -- quatro vezes, não, né? Ainda mais levando em consideração os
atritos desnecessários todos, a política de habitação, a luta contra a
esquerda do partido e os vereadores independentes. Há quem diga que
Marta seria melhor candidata -- e possivelmente teria uma intenção de
voto mais alta do que Haddad neste momento --, mas eu discordo
frontalmente disso. Haddad merece ser prefeito pela sua atuação na
secretaria de finanças do município e pela sua atuação sim no MEC. Assim
como Gabriel Medina
tem feito uma campanha interessante para vereador, coisa que não se
repete dentro do PT nem fora dele pela esquerda. Ironias do destino, é Russomano e não Haddad, Chalita ou Serra que está em primeiro. Agora, a incerteza é a lei como aponta a boa análise de Elton Flaubert.
No Rio, a um primeiro olhar, a campanha de Freixo é uma luta contra moinhos de vento e isso, é claro, desperta os brios da (boa) esquerda, mesmo de corações endurecidos como deste blogueiro. Mas o PSOL do Rio, que tem afinal um candidato com carisma e força pessoal -- para, sozinho, ir além em um sistema político tão dependente de carisma e da pessoalidade --, por outro lado, tem como pouca multidão; se o PT nacional nasce como o primeiro partido de esquerda nacional desde o Partidão a realmente ter participação massiva de trabalhadores, lhe faltavam pobres -- o que não se confunde com abertura para pobres, mas com a falta dos próprios em pessoa --, mas se em nível nacional, futuramente, ele resolveu este problema, no Rio, ele permaneceu elitizado e branco demais, anêmico demais para não virar peão no jogo da direção nacional. Com o PSOL carioca de hoje, ironicamente, ocorre o mesmo -- ainda que com mais obstinação. Uma candidatura socialista que continua ainda distante demais dos pobres. Não que não haja como não reverter isso, nem que não seja preciso, afinal, se agenciar com essa classe sem nome que está aí por óbvios motivos de ordem eleitoral e política mesmo.
A
correlação de forças entre os grandes partidos não deve mudar, com
destaques aqui ou acolá. Possivelmente, o PT cresce mais um pouco,
talvez o PSDB, mas nada muito relevante. O que muda mesmo é o impacto
imediato do jogo nas grandes capitais sobre o grande consenso partidário
e a oposição escanteada. Mantém-se? revitaliza? Mas as coisas não vão
bem e não é esperando que o governo mude que iremos para algum lugar.
Falta vontade para se mover realmente por fora desses esquemas de
captura. Nascer dói, é preciso reaprender a dor da luta como disse um
filósofo por aí. Politicamente, nunca estivemos tão bem, nem tão mal.
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