PICICA: "A produção do comum, essa auto-organização das singularidades cuja produtividade imanente prescinde das mediações do mercado e do estado, da métrica capitalista do valor. Isto inverte uma equação tradicional. Muda o conceito de "inclusão social". Não é mais a inserção no mundo do trabalho que atua como condição para os direitos. É o próprio comum produtivo que atua como condição para que o trabalho aconteça e gere qualidade de vida. É o próprio trabalho de direitos, direitos como potência, como relação e mobilidade, como realização das virtualidades e diferenças, que assegura a força produtiva das redes e tempos libertos do capital. A reapropriação dos direitos --- renda, saúde, educação, moradia etc --- já é constituição material de liberdade e democracia. Exprime a qualidade procriadora da economia política do desejo no contemporâneo."
Terminei de ler a nova edição ampliada de "Trabalho e Cidadania", do professor Giuseppe Cocco.
Uma reviravolta no conceito de "modo de produção". Nem tanto é um modo
sistêmico que se aplica sobre a "produção em geral", mas são as mutações
na própria base material e na composição do sujeito produtivo, que
definem os modos de produção. O desejo na materialidade do fazer não é
uma invariância histórica. As forças
produtivas se metamorfoseiam. E o fazem antes das relações de produção
que tentam confinar, medir e lhe extrair poder. A mutação das forças
produtivas se traduz por uma nova organização do trabalho vivo, fundada
na cooperação, diferenciação e singularização. A crise se coloca como
interna à emergência das novas subjetividades, na medida em que são
submetidas a um processo de subsunção e exploração, pelo capitalismo.
Mas essa reação é segunda e parasitária. Ela pode ser dispensada pela
organização da autonomia. A produção do comum, essa auto-organização das
singularidades cuja produtividade imanente prescinde das mediações do
mercado e do estado, da métrica capitalista do valor. Isto inverte uma
equação tradicional. Muda o conceito de "inclusão social". Não é mais a
inserção no mundo do trabalho que atua como condição para os direitos. É
o próprio comum produtivo que atua como condição para que o trabalho
aconteça e gere qualidade de vida. É o próprio trabalho de direitos,
direitos como potência, como relação e mobilidade, como realização das
virtualidades e diferenças, que assegura a força produtiva das redes e
tempos libertos do capital. A reapropriação dos direitos --- renda,
saúde, educação, moradia etc --- já é constituição material de liberdade
e democracia. Exprime a qualidade procriadora da economia política do
desejo no contemporâneo. Tudo isso enseja a imaginação de um direito de
"novo tipo", um direito do comum, que confira duração e
institucionalidade à nova situação da classe revolucionária.
Fonte: Bruno Cava
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